Scout and Scale”: a arte de caçar tecnologias dentro e fora do agro

“Scout and Scale”: a arte de caçar tecnologias dentro e fora do agro

Maio 27, 2021

“Scout and scale”. Está aí uma dupla de palavras que soa como música para os ouvidos de quem investe em inovação aberta, mas que demanda maiores explicações para quem está começando a trilhar a jornada de desenvolvimento tecnológico colaborativo, para além dos muros das organizações. 

  • Em tradução livre para o português, “technology scouting” significa caça ou procura por tecnologias. E refere-se a um método de observação para identificar novas tendências ou soluções que atendam a demandas específicas. Tudo isso, de forma precoce!

  • Enquanto o “scale”, mais familiar aos ouvidos, trata da ideia de escalar as soluções. Tarefa em que grandes empresas têm um potencial enorme de colaborar com startups, e gerar valor para os dois lados.

O processo de busca

Trazendo o conceito para o contexto prático, um dos exemplos mais icônicos, e curiosos, é o da busca de uma alternativa para resolver a desnutrição de crianças no Vietnã. 

No podcast Master of Scale, o co-fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, entrevista a nutricionista Monique Sternin, sobre como ela ajudou a clarear essa questão, e a engenheira Megan Smith — que foi assistente do governo de Barack Obama para assuntos de tecnologia — para falar do tal do “scout and scale”.

Indo direto ao ponto, a história do Vietnã é assim… 

Monique Sternin e o esposo chegaram no país na década de 1990, quando trabalhavam para a ONG Save the Children (Salve as Crianças), tentando resolver um problema que agência internacional nenhuma do mundo tinha conseguido solucionar depois da guerra com os EUA:

A má nutrição de 60% da população infantil do país

E ao invés de propor uma dieta mirabolante ou encontrar uma maneira de mandar doações para a região, o que não seria sustentável no longo prazo, a dupla fez uma única coisa: buscar RESPOSTAS com quem já tinha as RESPOSTAS. 

Nas comunidades que visitaram, o foco foi conversar com pais e mães de famílias muito pobres, mas com filhos inexplicavelmente saudáveis e bem-nutridos. 

Veio então a descoberta: essas famílias alimentavam suas crianças com carne de caranguejo e folhas de batata. Enquanto a maioria da população tinha no cardápio sopa de arroz, o cereal mais tradicional da região.

E foi assim que, a partir de um “scouting”, os Sternins “só” precisaram se preocupar com o “scale” — no que a ONG onde trabalhavam tinha o poder de ajudar. 

Mais uma vez, antes de tomar qualquer decisão, eles fugiram das ideias mirabolantes e encontraram a RESPOSTA na cultura local. O caminho escolhido foi oferecer “almoço grátis” na casa das famílias que adotavam a dieta mais nutritiva para, na verdade, educar os outros pais. 

Um ano depois, mil crianças daqueles primeiros vilarejos visitados pelos Sternins alcançaram um patamar nutricional saudável e, pouco a pouco, a moda de comer caranguejos pegou. 

Para a especialista em tecnologia Megan Smith, a tese é uma só: 

“Se você incluir a todos, você consegue resolver quase tudo"

(“My thesis is, if you include everyone, you can fix nearly everything”)

“Com sete bilhões de pessoas no planeta, alguém por aí provavelmente tem uma solução para quase tudo. Portanto, se você puder encontrar essas pessoas e impulsioná-las, elas irão crescer"

(“With seven billion people on the planet, someone around here probably has a solution to just about everything. So if you can find them and you can come up underneath them, they will lift”)

Caminhos possíveis

Sabendo que o caminho para a inovação pode ser compartilhado, fica, por último, a pergunta de como pinçar as pessoas certas no meio da multidão?

No hub de inovação AgTech Garage, especializado no agronegócio, o processo de “caça a tecnologias” é conduzido pela figura do gestor de comunidade. É esse profissional que recebe das empresas:

  • A descrição do que querem e do que já foi testado internamente
  • O detalhamento do gargalo, dor ou ideia de melhoria
  • E um direcionamento sobre a solução desejada

Para, então, encontrar as agulhas, ou melhor, os empreendedores, no palheiro.

O objetivo do hub é ser um habilitador da inovação aberta, uma vez que tem o conhecimento e a facilidade de acessar o ecossistema empreendedor.

Com mais de 700 startups em sua plataforma e mais de 50 empresas parceiras, o AgTech Garage já recebeu demandas das mais variadas e encontrou solução até para automatizar o corte de grãos de soja e resolver o problema de infestação de florestas por formigas…

Um case no agronegócio

Das muitas soluções inovadoras que podem surgir de um “scout and scale”, uma está nascendo no hub de inovação Gazebo, da empresa holandesa de controle biológico Koppert, em parceria com a startup e-Trap. 

Gustavo Herrmann, diretor comercial da Koppert do Brasil, conta que hoje a empresa leva a campo e monitora, todo mês, de 60 mil a 80 mil armadilhas com pupas da própria praga Diatraea saccharalis, para identificar o momento certo de combatê-la.

Isso porque 1) não há ainda uma forma mais fácil de atrair as mariposas do entorno para a armadilha e 2) de fazer a contagem de insetos remotamente e detectar o nível de infestação. 

Conhecendo a realidade do controle biológico, foi a e-Trap que procurou a Koppert. E o “scout and scale” às avessas está dando muito certo.

Juntamente com a fabricante brasileira de máquinas Jacto e o centro de pesquisas SPARCBio, a startup está trabalhando em um produto criado a múltiplas mãos, que deve chegar ao mercado no segundo semestre de 2021. 

Uma armadilha com sensores e câmeras inteligentes capazes de fazer a contagem de insetos de forma remota e usando feromônios (hormônios de atração sexual) que vão dispensar a visita a campo para pôr o queijo na ratoeira, ou melhor dizendo, a Diatraea saccharalis nas armadilhas. 

“O maior desafio de uma startup do agro hoje é convencer um novo cliente a usar a sua tecnologia. Com a cooperação de grandes empresas, elas têm a oportunidade de resolver um problema real, ter muito trabalho e faturamento”, afirma Herrmann. No caso da e-Trap, pelo menos 1,5 milhão de hectares já aguardam na fila para serem monitorados em parceria com a Koppert. 

Contatos

Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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