Setembro 20, 2021
Por Marina Salles
De uma feira de ciências do Colégio Londrinense, no Paraná, nasceu a semente da startup DioxD, de João Barboza, que aos 21 anos já tem como sócias no negócio duas aceleradoras e duas gestoras de investimento.
As gestoras, a mineira AgroVen e a paulista GR8 Ventures, entraram em rodada de capital semente recém concluída (de valor não revelado) e irão aportar à DioxD uma boa dose de smart money.
“Para nós, foi uma felicidade sermos a primeira agtech a entrar no portfólio da GR8 Ventures, que investe em startups de tecnologia com alto potencial de crescimento e geração de valor. E sermos investidos também pela AgroVen, com ampla experiência no agronegócio”, diz Barboza.
Com apenas 13 anos, o empreendedor colocou na cabeça que queria se aproveitar do vilão das emissões de gases de efeito estufa, o CO2, para auxiliar na solução de questões ambientais.
Na época, seus oito primeiros protótipos de um catalisador para chaminés industriais não deram certo. Mas como ele, felizmente, estava mais preocupado com o problema do que com a solução, pivotou sem medo e focou na criação de um tratamento de sementes um tanto curioso, e capaz de aumentar em até 12% a produtividade de clientes na cultura da soja.
O resultado é de experimentos feitos no Oeste da Bahia, comparando uma área testemunha (que teve produtividade média de 70,9 sacas por hectare) a outra plantada com sementes tratadas (que produziu 76,5 sacas por hectare). Em termos financeiros, o tratamento custou, em média, 0,3 sacas aos produtores e gerou saldo líquido de 5,3 sacas de soja. No feijão, o aumento médio de rendimento no Oeste da Bahia ficou na casa de 4,29 sacas por hectare e o custo do tratamento em 0,25 sacas por hectare.
João Barboza, CEO da DioxD
A tecnologia é baseada na exposição das sementes a cinco gases diferentes, entre eles o gás carbônico, liberados de forma controlada dentro de grandes bolsões. Hoje, a capacidade da startup é de tratar 200 toneladas de sementes de soja e feijão por dia, capazes de recobrir 5 mil hectares de terra. O tratamento se faz tanto direto nas sementeiras quanto nas fazendas, usando um dispositivo portátil.
No equipamento da DioxD ficam embutidos os cilindros do tratamento com os gases, que alimentam as sacarias de sementes por meio de uma haste externa (Foto: DioxD)
Depois do tratamento, as sementes mantém nas bolsas o auge do seu potencial de germinação, estabelecimento e vigor. “Quando liberamos os gases, as sementes estão num estado de pré-dormência e ficam com um metabolismo bem lento conforme aumenta a concentração de CO2. A partir daí, poderia acontecer duas coisas com elas: acelerar a germinação, se estivessem no solo, ou preservar o máximo das suas características em um ambiente estéril”, diz. Por não estarem em contato com o solo, é o segundo processo que se desencadeia. Após o tratamento, a qualidade se mantém por 90 dias.
A meta, para daqui a cinco anos, é lançar no mercado cápsulas de liberação lenta dos gases dentro das sacarias, para escalar a solução dentro e fora do Brasil. Também faz parte da estratégia diversificar o leque de culturas atendidas e avançar no milho e trigo.
Na safra 2020/21, a DioxD tratou sementes suficientes para cobrir uma área de 4 mil hectares de soja e feijão nos Estados da Bahia e de São Paulo. Em 2021/22, a expectativa é aumentar em 25 vezes o alcance do tratamento e cobrir 100 mil hectares, levando a tecnologia também para o Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Piauí.
Atualmente, com um time de seis pessoas, a empresa atende médios e grandes produtores dentro das suas fazendas e acessa os pequenos por meio de cooperativas, como a Cooperativa Agro Industrial Holambra, no distrito da Estância Turística do Paranapanema (SP). No Matopiba, alguns dos seus clientes sementeiros são a Ciaseeds e a Sementes Talismã.
No tratamento de sementes, que exige do produtor colher para crer, o jovem João Barboza continua investindo toda a sua energia e apreço pela sustentabilidade. Tanto que trancou o curso de Agronomia e se mudou para Luís Eduardo Magalhães (BA), a fim de estar mais perto dos clientes.
“Eu sempre digo que a experiência do produtor com a nossa tecnologia começa quando a gente termina o tratamento da semente dele, porque a ação dos gases não gera odor nem cor. Então, imagine o tamanho do desafio… aplicar uma tecnologia que o produtor não vê”, diz. “Só com muita visita a campo e muita botina no solo para fazer valer”.
Na caminhada, a principal lição que ele aprendeu foi a necessidade de casar o empreendedorismo e a pesquisa: “No meu primeiro pitch, eu levei 45 slides para apresentar e pediram para eu vender minha ideia em 5 minutos. Achei, naquele momento, que precisava virar a chave da pesquisa para o empreendedorismo, mas depois entendi que o melhor era criar uma ponte entre os dois mundos”, afirma.
Nas fazendas, Barboza continua a seguir o método da iniciação científica que o ensinou a provar o custo-benefício da sua tecnologia a olhos vistos. Nas lavouras de feijão e de soja, os primeiros resultados são visíveis a olho nu em torno de 12 dias após a germinação das plantas. Isto porque, via de regra, é possível observar uma população de plantas maior nas áreas com o tratamento do que nas áreas testemunha.
Na foto, área da Cooperativa Agro Industrial Holambra. À esquerda, lavoura com o tratamento da DioxD e mais plantas por metro. À direita, lavoura sem o tratamento de sementes. (Foto: DioxD)
“De qualquer forma, é na colheita que o produtor enxerga, sem sombra de dúvida, o custo benefício, porque das 5,6 sacas de soja que colhe a mais por hectare, em média, paga apenas 0,3 pela tecnologia e fica com as outras 5,3 sacas”, diz.
Estudante de escola pública durante toda a infância, Barboza teve a primeira experiência numa escola particular no Colégio Londrinense. “Um dia eu ainda vou estudar neste colégio”, dizia ao pai, quando passavam em frente à escola. Até que ele tomou a iniciativa de conversar com o reitor e conseguiu a bolsa de estudos que mudaria a sua vida. No 7º ano do ensino fundamental, deu o pontapé na iniciação científica que o ajudou a se destacar na feira de ciências do colégio.
Durante o caminho para desenvolver seu primeiro projeto, de fazer do vilão CO2 um mocinho, ganhou 35 prêmios, entre os quais o primeiro lugar na categoria Ciências Agrárias pela Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) da Escola Politécnica da USP em 2018. O prêmio, nacional, o classificaria para a Intel ISEF, na qual foi eleito um dos 70 melhores projetos entre 3.000 inscritos. A Intel ISEF é a maior feira internacional de Ciências e Engenharia do mundo e acontece anualmente nos Estados Unidos.
Em pouco tempo, a ideia que nasceu na escola, graças ao incentivo dos professores Murillo Bernadi Rodrigues e Alana Séleri Rodrigues, também contagiou a família. E foi dentro de casa que Barboza encontrou seus dois sócios. Ao lado da mãe, gestora financeira da DoixD e do pai, gestor de operações, a família tem mais de 60% do capital social da startup.
No último ano, o valuation da empresa (não revelado) foi multiplicado por 10. Além dos Barboza, integram a sociedade: a GR8 Ventures, a AgroVen e as aceleradoras Cyklo, do Maranhão, e a SRP GO, aceleradora da Sociedade Rural do Paraná em parceria com o Sebrae e o Senai.
Filho, pai e mãe da família Barboza, sócios na DioxD (Foto: DioxD)