Novembro 9, 2021.
Por Vitor Silva*
Nascida como resultado do aprendizado e das pesquisas em monitoramento climático da sua empresa-mãe Modclima, a startup Cyan Agroanalytics quer mudar a forma como os mercados de seguro agrícola e crédito rural olham para o risco que vem do céu e que afeta diretamente a produtividade das lavouras.
Até aqui, a empresa já oferecia serviços de monitoramento de chuva, fogo, previsão do tempo, Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI) e balanço hídrico e viu potencial na sua base de dados para ir além. Atendendo 45 usinas de cana-de-açúcar, a Cyan já monitora 2,8 milhões de hectares de terras e recebeu investimentos de R$ 600 mil do fundo Next, da consultoria americana Alvarez & Marsal, juntamente da gestora Acrux Capital.
“O clima é responsável por cerca de 50% da produtividade no campo e vimos que, se conseguíssemos sistematizar as informações climáticas da mesma forma que fazíamos para induzir chuvas, iríamos entregar algo de grande valor para as seguradoras e os agricultores”, diz Majory Imai, CEO da Cyan Agroanalytics.
Em fase de prova de conceito, a nova solução da agtech visa auxiliar instituições financeiras, como os bancos, a precificar seu crédito e as seguradoras a avaliar suas ofertas e trâmite com os sinistros.
Segundo Majory, na concessão de crédito, o acompanhamento das condições climáticas da lavoura pode impactar desde o volume de recursos ofertado ao cliente até a taxa de juros do empréstimo, baseado no cálculo do risco climático para a produção em qualquer localidade do Brasil. Já para as seguradoras, a ferramenta, que monitora do preparo da terra até o último dia de colheita, dá mais transparência na relação com o agricultor, da contratação do seguro ao pagamento do prêmio em caso de ser acionada a apólice.
Atualmente, na falta de um serviço como esse, várias dúvidas ainda pairam no ar. Será que estou aplicando a melhor taxa para esse cliente? Será que a equipe de perícia coletou todos os dados necessários para validar o sinistro na fazenda? Será que a falta de chuva na região realmente afetou a produção do contratante a ponto de ele perder a safra? Essas são perguntas que a Cyan quer que o mercado responda sem dificuldade, olhando apenas para os dados na palma da mão.
Em fase de testes avançados com duas empresas em parceria com a WIZ BPO, a Cyan Agroanalytics está pronta para atender também novas demandas de experimentação. “Estamos abertos para realizar provas de conceito [POCs] com empresas que tenham interesse em conhecer a nossa tecnologia, rodando nossos relatórios de acompanhamento agrometeorológico ou relatórios específicos de análises”, diz Majory.
Majory Imai, CEO da Cyan
Os diferenciais da startup, fundada em 2020, têm raiz na sua origem. Resultado do trabalho desenvolvido pela Modclima, criada em 2007 para dar seguimento a um projeto de pesquisa em parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), para induzir chuvas localizadas sobre o Sistema Cantareira, a Cyan se caracteriza por seu viés de pesquisa voltada ao clima e metodologias próprias.
Bicos nas asas e embaixo do avião despejam água potável em nuvem com alto potencial de cair em forma de chuva. Tecnologia é da Modclima, que deu origem à Cyan (Foto: Modclima)
“Na posição de ‘fazedores de chuva’ — como a gente nasceu —, percebemos que nenhum sensor sozinho é capaz de fazer o registro correto de uma chuva, e a gente tem 20 anos de pesquisa para tentar registrar as chuvas espacializadas de uma forma coerente. O pluviômetro, a estação meteorológica, satélites e radares são muito precisos, mas o segredo está na interação destes dados, explica Majory.
O pluviômetro e a estação meteorológica dependem da posição em que são alocados e da ocorrência das chuvas nos pontos escolhidos para ter maior precisão. Já os radares podem ser afetados por chuvas que já tenham ocorrido ou até pela distância até o ponto de foco. Enquanto os satélites medem frentes de umidade do ar que se deslocam, o que não garante que aquela frente tocou o chão (que choveu) ou apenas passou pela região. E foi identificando os méritos e as falhas dessas tecnologias que a Cyan desenvolveu um algoritmo próprio.
“Nós aprendemos a modelar fazendo a nossa experiência, observando o direcionamento das nuvens, o tamanho delas, seu registro. Então, criamos um algoritmo que trabalha com todos os tipos de sensores e também com o desenvolvimento da pesquisa sobre a chuva de modo mais assertivo”, conta Majory.
A interdisciplinaridade, a alta capacidade técnica e a paixão pela previsão climática fazem brilhar os olhos dos sócios da Cyan, que estão juntos já há um bom tempo. No caso dos dois irmãos Imai, Majory e Ricardo, responsáveis pela área administrativa e de Experiência do Cliente da Cyan, a parceria vem desde a Modclima, fundada pelo pai Takeshi Imai, engenheiro de profissão e inventor por vocação.
Na empresa-mãe da nova startup, também trabalhou Mauro Alves, PhD em física e especialista em radares e modelos de quantificação de chuva, hoje responsável pela parte de sensoriamento remoto da Cyan. Além dele, Philipp Edson, PhD em ciências atmosféricas com passagem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também integra a equipe técnica, como responsável por desenvolver os modelos climáticos e meteorológicos da empresa.
Na área financeira, estratégica e de produto, Lucas Suzuki, formado em engenharia mecânica com MBA na Harvard Business School e experiência em projetos junto ao Banco Mundial em Washington, nos EUA, completa a equipe.
Com 43 pessoas no time, a Cyan Agroanalytics desenvolve hoje seu modelo de negócios segundo sete módulos de SaaS (Software como serviço), sendo eles: previsão do tempo, monitoramento de incêndios, NDVI, balanço hídrico, tempo, janela de aplicação de insumos e works (que reúne quatro dos principais módulos da Cyan: históricos de chuvas, balanço hídrico, previsão climática e NDVI). As soluções podem ser contratadas de forma individual ou conjunta, integrando todos os módulos.
“A grande maioria das usinas contrata todos os módulos. Para nós, isso é ótimo, pois queremos que essas empresas tenham toda a nossa inteligência climática dentro de sua operação agrícola. Afinal, no campo, vários eventos climáticos acontecem ao mesmo tempo”, afirma Majory.
Além das soluções voltadas ao mercado de crédito e seguros, quaisquer módulos do software da Cyan podem ser testados de forma gratuita. Na visão dos sócios da empresa, a validação das soluções in loco é uma facilidade que dá segurança ao cliente na contratação dos serviços da sua startup, capaz de monitorar no dia a dia o fator que mais tira o sono do agricultor: o tempo.
*Com edição de Marina Salles