Conglomerado Alfa investirá R$ 600 milhões na E-ctare, de crédito inteligente, até 2023

Com o aporte, a expectativa é que a movimentação financeira da startup salte dos atuais R$ 300 milhões para a casa do bilhão já no ano que vem

Setembro 17, 2021

Por Marina Salles

O Alfa Collab, programa de inovação aberta do Conglomerado Alfa, acaba de anunciar um investimento de R$ 600 milhões na agfintech E-ctare, que provê crédito inteligente para produtores de café e pecuaristas de gado de leite e corte, que possam atuar também no meio agrícola. 

O valor será aportado ao longo dos próximos três anos, tanto na estruturação de operações financeiras, que levam crédito facilitado ao campo, como na operação da agfintech. 

A expectativa de Marcell Salgado, CEO da E-ctare, é que a movimentação financeira da startup salte dos atuais R$ 300 milhões por ano para a casa do bilhão no ano que vem e chegue a R$ 5 bilhões até 2023. A equipe, hoje com 14 pessoas, deve somar 50 até o final de 2022.

“O fato do Conglomerado Alfa ser uma instituição financeira é muito importante para nós porque, além de ter uma participação no nosso negócio e permitir o crescimento da startup, eles vão nos apoiar com recursos para ampliar a presença da nossa tecnologia no campo”, diz Salgado. 

Os respectivos valores investidos em equity e financiamento ao produtor não foram divulgados. Com 90 anos de história, o Conglomerado Alfa é composto por empresas atuantes em diferentes segmentos, da área de finanças à de seguros e agronegócios.

Francisco Perez, diretor de Novos Negócios, responsável pelo hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG do Alfa, explica que a E-ctare é a primeira empresa participante do programa Alfa Collab a receber um investimento para consolidar seus negócios. 

O objetivo do Alfa é que essas operações ocorram em prol do avanço das soluções inovadoras das startups pertencentes ao hub, que já conta com 16 empresas participantes. “Com este movimento, cumprimos também um dos nossos principais objetivos, que é o de fomentar startups com potencial de transformação em setores estratégicos do Alfa e da economia nacional”, diz. 

Atualmente, a E-ctare tem como sócios majoritários seu fundador Marcell Salgado, o investidor anjo Fernando Alvarenga (da família dona da manteiga Aviação) e os controladores da empresa de software Agely (Francisco Lúcio, Ely Prado e Juliano Zani). Entram com parcelas minoritárias o Conglomerado Alfa e dois funcionários que trabalham na startup desde a fundação. 

Direcionamento dos recursos

Sediada em São Sebastião do Paraíso (MG), a E-ctare começou sua trajetória atendendo aos Estados de São Paulo e Minas Gerais, onde predomina a atividade do café e do leite, e é na região que pretende expandir primeiro sua estrutura física. 

Com os recursos aportados pelo Conglomerado Alfa, planeja montar um coworking em São Sebastião do Paraíso com espaço para 60 posições de trabalho. No local, além de funcionários da E-ctare, haverá postos também para o pessoal de outras empresas sócias da Agely. 

“Pensamos em um conceito de coworking para atrair e reter talentos nessa nova fase de expansão do nosso time”, diz Salgado. Além dessa estrutura, será inaugurado um escritório em Ribeirão Preto (SP) mais voltado à operação comercial.Bastante ativa também no Sul e Nordeste, e com um pé no Centro-Oeste, a E-ctare  irá reforçar o time de vendas e suporte ao cliente para atender essas regiões do país. 

“Entendemos que toda a cadeia em torno do produtor, desde que quem recebe a produção de café e leite, até os frigoríficos, podem se beneficiar da nossa solução. Por isso, investimos em suporte local para disseminar a tecnologia, e acompanhamos a operação desde a tomada do crédito até a sua liquidação”, explica Salgado.

Agora sócia de um gigante na área financeira, a E-ctare também investirá parte dos recursos no reforço da sua estrutura de segurança da informação e governança corporativa. Como parte do acordo de sócios, Francisco Perez, diretor no Conglomerado Alfa, passa a integrar o board de conselheiros da empresa.

Estratégia da E-ctare

Responsável por oferecer ao produtor linhas de financiamento com garantia baseada na sua própria Cédula de Produto Rural (CPR) e duplicatas, além do Certificado de Depósito Agropecuário e Warrant Agropecuário (CDA-WA), relativos à armazenagem de produtos do setor, a E-ctare quer estar cada vez mais perto de outras startups. 

Um exemplo de parceria é a que a E-ctare fez com a Cowmed, em que dá crédito para a compra de coleiras capazes de acompanhar a saúde das vacas no dia a dia da produção leiteira. “O produtor põe a coleira no animal para monitorar o cio, seu bem-estar, sanidade, mas ela também gera indicadores que vão facilitar seu acesso a crédito. Assim, o rebanho passa a ser a garantia do produtor de leite que concorda em fornecer esses dados para a gente enxergar mais a fundo a atividade dele”, conta Salgado. 

Com a Pecsmart, que faz o monitoramento de granjas de avicultura e suinocultura, a lógica aplicada é a mesma. Também com a JetBov, que faz a gestão de fazendas de pecuária de corte. E com a Leigado, que gerencia fazendas de leite. 

“A gente consegue levar dinheiro mais barato para o produtor quando ele tem esse gerenciamento da propriedade, e quando ele nos permite ter acesso aos dados”, diz Salgado. E é, justamente, essa transparência nas informações e no cálculo do risco que tem atraído um interesse maior do mercado de capitais e dos investidores.

Coleira da startup Cowmed, cujo financiamento é suportado pela E-ctare

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Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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