Dezembro 6, 2021.
Por Marina Salles
O segundo ciclo do Programa Fellowship AgTech Garage, que conecta a Academia ao ecossistema de inovação no agronegócio, chegou ao fim com uma série de conquistas. Os 27 professores e pesquisadores participantes, de 19 universidades e instituições de ensino e pesquisa de todo o país, fizeram, ao longo de um ano, 52 conexões com startups, empresas e entre si, para gerar oportunidades de parceria e cooperação.
Anna Laura Florido, Gestora de Comunidade do Fellowship, comemora os resultados desta edição, quando o programa ganhou abrangência nacional, ao ser realizado de forma remota, e ampliou o leque de áreas de pesquisa contempladas.
“Essa segunda edição teve escala nacional, com participantes de 10 Estados do Brasil e, em 2022, queremos atingir uma amplitude ainda maior”, diz. Em relação aos segmentos de especialização dos pesquisadores, foram 12 no total, com uma diversidade que vai da área de irrigação à mecânica e máquinas, passando por controle de pragas, zootecnia, tecnologia de alimentos, sociologia, fitotecnia e bem-estar animal, apenas para citar alguns exemplos.
Em seu segundo ano de existência, o Fellowship também avançou na consolidação de processos, entendimento da realidade da Academia e desenho do modelo de conexão para fortalecer cada vez mais a presença dos professores e pesquisadores no ecossistema de inovação. “A aproximação estruturada dos professores com as empresas é uma grande conquista em si, pelo perfil que eles têm e a bagagem que carregam. São profissionais que dedicam boa parte de suas vidas estudando determinado assunto e têm muito conhecimento agregado, o que contribui para endereçar questões mais técnicas do dia a dia do ecossistema”, destaca.
Anna Laura, do AgTech Garage
Para Henrique Provenzzano, Coordenador de Programas de Inovação Aberta do AgTech Garage, o Fellowship tem cumprido seu papel e ido além. Segundo ele, o grande propósito do Fellowship sempre foi promover a interlocução entre a Academia e os demais agentes do universo da inovação e, além de promover essas conexões na comunidade, está tendo reflexos para os alunos nas universidades e um público amplo, de dentro e de fora da comunidade do hub.
“Ao longo desta edição, alguns pesquisadores tiveram a oportunidade de participar da nossa Jornada de Aprendizagem e escrever artigos para o AgTech Garage News. Os professores também são empreendedores e estão alimentando os alunos e fomentando os grupos de estudos Brasil afora”, conta Provenzzano. Ao longo do ano, também houve interlocução com o Programa Soja Sustentável do Cerrado, promovido pelo AgTech Garage em parceria com o Land Innovation Fund.
Henrique Provenzzano, do AgTech Garage
Na Jornada de Aprendizado da área de Learning & Experience do AgTech Garage, o professor Valtencir Zucolotto, titular no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP-São Carlos, compartilhou seu conhecimento sobre nanotecnologia em uma verdadeira aula com direito, na sequência, a uma roda de conversa com a comunidade do hub.
De acordo com ele, o casamento da biotecnologia com a nanotecnologia e a inteligência artificial é o que pode facilitar a transição da agricultura de precisão para a agricultura inteligente. Na medicina, a pandemia ajudou a catalisar o uso da nanotecnologia, com vacinas de RNA, cuja molécula é muito instável, sendo encapsuladas dentro de partículas de lipídios nanométricas — uma verdadeira barreira de proteção tecnológica.
Apresentação de Valtencir Zucolotto
Professor discute as aplicações da nanotecnologia no agronegócio em encontro da Jornada de Aprendizagem do AgTech Garage
Na agricultura, segundo Zucolotto, ainda não se sabe qual será o catalisador para dar escalabilidade a essas soluções, mas um desdobramento pode vir até mesmo da atual crise de abastecimento de insumos. A partir, por exemplo, do princípio da equivalência de quantidades na nanotecnologia. “No nosso grupo, a gente já produziu defensivos que, comparados com o sistema comercial, tiveram a mesma eficiência usando na formulação uma quantidade 50 vezes menor de princípio ativo. Nessa crise de insumos, a escassez pode ser o gatilho para a entrada definitiva da nanotecnologia no agronegócio”, revela.
Discussões de alto nível com a participação dos fellows do AgTech Garage também aconteceram no AgTech Garage News. Em artigo, Everardo Mantovani e Lessandro Coll fizeram um raio-X da irrigação no Cerrado e nos Pampas e mostraram como a implantação de sistemas irrigados está movimentando o mercado de novas tecnologias.
Enquanto Guilhermina Cayres e Clarissa Magalhães trouxeram à tona a questão da inovação social, conceito pouquíssimo difundido entre o público do agronegócio e de suma relevância. Em seu artigo, elas colocam em evidência a necessidade de discutir o impacto das agroindústrias no seu entorno de um ponto de vista territorial e cultural, considerando a interação com a população, a economia e o meio-ambiente a nível local.
“Ao lado da Guilhermina trouxemos uma reflexão sobre a dimensão social da inovação, um tema que não tem muito espaço no mercado, mas está intimamente ligado à sustentabilidade”, destaca Clarissa. Para Guilhermina, tanto a diversidade de assuntos abordados pelos pesquisadores quanto a variedade do seu perfil geracional enriqueceram o programa. “Um dos grandes diferenciais do Fellowship é a diversidade tanto de áreas de estudo quanto de gerações. Temos desde os jovens mais próximos da sabedoria até os mais jovens ainda. De minha parte, quanto mais perto eu estiver deste nosso grupo, melhor”, diz.
Com um olhar acurado sobre a modelagem computacional no agronegócio, Alex Álisson Bandeira Santos e Daniel Motta, deram um panorama de como os dados podem auxiliar o agricultor a antever problemas iminentes causados pelas crises hídricas e outros efeitos das mudanças climáticas. Em seu artigo, eles ilustram com exemplos práticos o que os computadores já são capazes de fazer e como isso aumenta a assertividade da tomada de decisão no campo.
Durante o Programa Fellowship AgTech Garage 2021, os pesquisadores participantes também foram convidados a aportar conhecimento na elaboração de uma solução conjunta em prol da produção sustentável de soja no Cerrado.
Nesse processo, tiveram contato com as 10 startups selecionadas no desafio realizado em parceria com o Land Innovation Fund (fundo internacional criado com aporte inicial da Cargill e gerenciado pela Chemonics International), que tem apoio estratégico da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). O pilar da troca de experiências se deu em torno dos dados sobre a expansão da soja no Matopiba e os riscos e as perspectivas para a conservação do bioma Cerrado.
“Aprendi muito no programa Fellowship e anotei vários pontos para levar para os nossos alunos, porque o aspecto inovação a gente só vê depois, para além da formação. Foi muito gratificante estar inserido nesse meio”, diz Francisco de Alcântara, Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Segundo Erick Rojas, o conhecimento adquirido no programa também chegou à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). “O Fellowship oportunizou muito aprendizado para mim, que foi repassado para o ecossistema local da UFOB e da cidade de Barreiras, na Bahia. Contem comigo em 2022”, disse.
Para Provenzzano, Coordenador do Programa, este é apenas o início de uma iniciativa com muito potencial para o ecossistema de inovação no agronegócio. “O primeiro passo foi dado, criamos uma estrutura e um ambiente confortável, transparente e de muita colaboração para que os professores e pesquisadores desta jornada se sentissem à vontade em se conectar com startups e empresas, para compartilharem boas práticas de inovação entre si, seus principais desafios, cases de sucesso entre universidade e mercado e muitos outros aprendizados”, completa.
Em 2022, o objetivo é aprofundar, ainda mais, as oportunidades de colaboração entre os fellows, startups e empresas parceiras do hub, buscando gerar cases de sucesso e contribuir para que a inovação faça parte do dia a dia das universidades e permita abrir portas para potenciais talentos no agronegócio.