Gestora 10b, ligada à SK Tarpon, define novos alvos no agronegócio

Além do segmento pecuário, de bioinsumos e pós colheita, a 10b planeja aportes em empresas de educação e tecnologia ambiental

Julho 5, 2021

Por Marina Salles

A 10b, um dos polos da gestora SK Tarpon, está expandindo seus horizontes no agronegócio e conectando as pontas do seu portfólio. 

Com negócios no ramo de pecuária de leite e corte (OnFarm, Ideagri e Rúmina), armazenagem (Kepler Weber) e insumos biológicos (Agrivalle), a gestora se prepara para adentrar o mercado de educação no setor, além de carbono e ativos ambientais.

Edsmar Carvalho Resende, sócio da 10b e Diretor de Novos Negócios, Relações Institucionais, Inovação e M&A da Agrivalle, lembra que o nome da gestora está ligado ao objetivo de contribuir para alimentar os 10 bilhões de habitantes que o mundo terá até 2050, e que isso passa por uma agenda voltada ao fomento dos novos profissionais do campo e da produção sustentável. 

Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Resende tem 17 anos de experiência na área de sustentabilidade, inovação e Venture Capital e atua como mentor e avaliador de programas como Finep Startups, SEED, Fiemg Lab, Inovativa e 100 Open Startups. Em entrevista ao AgTech Garage News, ele traz mais detalhes do pipeline de investimentos da 10b e as tendências que observa para a agricultura do futuro. 

Edsmar Carvalho Resende, sócio da 10b e diretor na Agrivalle

AgTech Garage News: E quais seriam as inovações que vão ajudar a alimentar o mundo?

Edsmar Carvalho Resende: A armazenagem, que vem do Egito Antigo, é uma questão de futuro. Isto porque será fundamental na regulação da oferta de alimentos ao longo do tempo, ainda mais com a crise climática. Se você parar para pensar, 100% da produção de grãos passa pelos armazéns e é bom lembrar que há um déficit grande de armazenagem no Brasil, onde somente 14% dos armazéns estão dentro das fazendas. 

No caso dos bioinsumos, em que temos a Agrivalle como âncora, a gente vê claramente que de 20% a 40% do mercado de defensivos agrícolas será de biológicos até 2030. Um dos grandes consolidadores desse mercado tem sido o setor sucroalcooleiro no Brasil e o da soja em vários países, por conta dos nematicidas, que já provaram ter alta eficiência na comparação com os químicos. O mercado de HF (frutas, verduras e legumes) é outro que traciona essa frente dos bioinsumos, principalmente pela produção de orgânicos. Além disso, a Europa estabeleceu como política agrícola a redução de 50% no uso de defensivos até 2030, e isso dá mais um sinal positivo do futuro que estamos ajudando a construir.

AgTech Garage News: Para a 10b, o setor de bioinsumos está entre os prioritários? Em julho do ano passado, a gestora pagou R$ 160 milhões por uma fatia majoritária na Agrivalle. O que está por vir nessa frente?

Edsmar Carvalho Resende: Se o agronegócio é hot, o bioinsumo é o hot do hot. É um mercado super aquecido, que todo mundo está olhando, e o crescimento dele é impressionante, bem acima do que tem sido apontado pelas pesquisas. A velocidade de adoção está sendo muito grande e é uma tendência que a pandemia acelerou por dois motivos. O primeiro deles: o fato de o grande ativo do produtor ser o solo, o que o bioinsumo valoriza porque gera vida com mais vida. Ao mesmo tempo, os bioinsumos estão em linha com as demandas do consumidor por uma produção mais sustentável. 

Sobre novidades, posso abrir que a Agrivalle fará este ano um investimento da ordem de R$ 30 milhões em uma nova fábrica em Indaiatuba (SP). Vamos de uma área de 6 mil metros quadrados em Salto (SP) para quase 60 mil metros quadrados. Só o nosso laboratório de P&D vai crescer quatro vezes, de 3 mil para 1,2 mil metros quadrados, fora as plantas piloto e de escalonamento. Essa é uma fábrica para suportar todo o crescimento que planejamos para frente. Para 2025, o faturamento da Agrivalle é projetado em R$ 1 bilhão. 

AgTech Garage News: O mercado de leite também responde hoje por parcela importante dos investimentos da 10b. O que veem no setor? 

Edsmar Carvalho Resende: Sim, nós temos mais de 15% do leite do Brasil passando em nossas mãos. Dos 100 maiores produtores de leite do país, 65 são clientes nossos, o que corresponde a 6 mil fazendas grandes e pequenas, espalhadas pelo Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. No caso do leite, nosso foco é nas tecnologias que, de fato, ajudam a melhorar a gestão e o dia a dia dos produtores.

Enquanto o agricultor fica a vida inteira para fazer de 40 a 50 safras, no mesmo espaço de tempo o pecuarista de leite realiza pelo menos 20 mil eventos iguais. Então, ele tem velocidade para testar as tecnologias e perceber o resultado muito mais rápido do que o agricultor, e isso foi um ponto que nos chamou a atenção nesse mercado. 

Segundo ponto: como hoje é um mercado difícil, tido como o patinho feio do agronegócio, ele tem uma necessidade de usar tecnologias e fazer coisas diferentes por sobrevivência. Não é só pelo amor, é pela dor também. Então, nós, acreditando que podemos ajudar a aumentar a rentabilidade do produtor, fomos investir em pecuária.

Hoje, nossa plataforma de investidas conta com cinco empresas do setor de leite. A OnFarm, de detecção e monitoramento de mastite bovina e foco no bem-estar animal, que reduz, em média, em 40% o uso de antibióticos na fazenda e em 50% o descarte de leite. A Ideagri, que tem um software de gestão financeira e zootécnica para fazendas de gado de leite e de corte, e é responsável pelo Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB), referência para medir a produtividade do setor leiteiro nacional. E a Rúmina, fundada pela 10b, e que tem mais duas startups no guarda-chuva, a Volutech, de tecnologia de precisão na pecuária leiteira de Viçosa (MG) e a RúmiCash, de Belo Horizonte (MG).

AgTech Garage News: Além do leite, armazenagem e bioinsumos, para onde mais a 10b está olhando?

Edsmar Carvalho Resende: Vamos colocar de pé nos próximos meses um investimento em educação no agro e também estamos investindo em uma startup de carbono e ativos ambientais. A gente visualiza as questões da sustentabilidade e da educação como extremamente necessárias para o futuro do setor. 

O profissional do agro já demonstrou ter que saber de gestão, questões agronômicas, técnicas, de finanças e dados, e sua capacitação é importantíssima, do nível de operação aos cargos mais altos. Nosso primeiro passo nesse meio foi de criação da Academia Agrivalle, por perceber que o produtor e os canais têm necessidade de suporte no posicionamento dos bioinsumos no campo. E logo nossos parceiros começaram a nos procurar pedindo para compartilharmos externamente o que a gente fazia com o público interno. A partir desse novo investimento vamos conseguir gerar conhecimentos complementares. 

A ideia, na Agrivalle, é ficarmos mais focados nos canais e essa nova empresa de educação, que atende também os produtores, vai nos auxiliar a levar informação para o campo. Justamente porque a grande barreira de adoção do bioinsumo é o conhecimento, vamos trabalhar em cima disso

AgTech Garage News: Dentro do portfólio, que outras sinergias você identifica?

Edsmar Carvalho Resende:  A gente já começa a olhar todos os investimentos como um ecossistema e aí, claro, há uma interação entre as empresas que acaba gerando negócios. Um simples contato da Agrivalle, por exemplo, já gerou uma venda de R$ 60 milhões para a Kepler Weber. E, falando de cooperação, com uma rede de 6 fazendas de leite, vemos sim a possibilidade de a Agrivalle ter um portfólio para a pecuária.

AgTech Garage News: Como a 10b vê o potencial da inovação para além das startups?

Edsmar Carvalho Resende: A gente vê como super salutar. Já desenvolvemos um escopo de trabalho com inovação aberta envolvendo pesquisadores de várias instituições e isso foi muito bem-recebido. 

Eu já fui investidor de uma empresa de um único produto justamente porque um pesquisador encontrou um microrganismo, fez todos os testes, enviou para registro, conseguiu o registro, desenvolveu o marketing e organizou o time comercial. Mas percebi que aí há uma trajetória muito longa. Então, queremos auxiliar nesse trabalho e, para isso, estamos ligados a muitos mestrandos e doutorandos. 

A Agrivalle investe 5% do faturamento bruto anual em P&D e, no momento, além de um portfólio com mais de 50 produtos, a empresa tem outros 25 em fase de registro, que saem nos próximos 36 meses. Para isso ser possível, temos parceiros no desenvolvimento, entre eles a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).  Também participamos de projetos Embrapii e temos uma gerência focada somente em B2B trabalhando de forma bem intensa.

AgTech Garage News: Como a 10b enxerga a agricultura do futuro?

Edsmar Carvalho Resende: Essa visão do agricultor que produz apenas o alimento vai mudar. Vamos ter diversos designs de produção. A integração lavoura-pecuária-floresta é algo tangível hoje, mas deve haver também uma associação muito mais forte entre alimento, saúde e bem-estar. 

No sal de cozinha foi adicionado o iodo como forma de combater o bócio na população e acredito na expansão desses alimentos funcionais. É dizer que eu posso usar o tomate para entregar algo a mais para pacientes com diabetes. 

Eu acredito em uma integração maior entre diferentes cadeias e no potencial dos bioprocessos. Porque, ao contrário de um químico que está acabado, o produto biológico me permite alterar o parâmetro de produção ao longo do tempo e gerar maior eficiência. 

Contatos

Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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