Julho 29, 2021
Por Marina Salles
Disponível há um mês em cerca de 100 pontos de venda, sobretudo na capital paulista, o primeiro leite carbono neutro do Brasil, produzido na fazenda Guaraci Agropastoril, em Itirapina (SP), tem feito sucesso entre os consumidores. Tanto que o empreendedor Luis Fernando Laranja da Fonseca já tem planos de fazer o produto chegar a 500 pontos de venda no Estado de São Paulo no curto prazo e, em dois anos, vislumbra dobrar a produção, hoje de 4 mil litros de leite por dia.
A conquista do selo Carbon Free, obtido por meio do diagnóstico de emissões da Iniciativa Verde, prevê que no primeiro ano de operação sejam plantados 4 hectares de mata nativa para neutralizar as emissões de um rebanho de 450 fêmeas bovinas, sendo 200 em lactação. A área de floresta, com múltiplas espécies, será constituída na Fazenda da Toca, referência mundial na produção de orgânicos, que abriga a Guaraci Agropastoril.
“A receptividade do NoCarbon tem sido muito boa no mercado, acredito que não só pelo atributo carbono neutro, mas pela qualidade e porque ele também é orgânico e certificado no quesito de bem-estar animal”, destaca Laranja. Nesses dois últimos aspectos, os selos de garantia escolhidos para chancelar a produção e estampar as embalagens do litro de leite foram do IBD e Certified Humane Brasil.
A neutralização das emissões do NoCarbon inclui das atividades do manejo produtivo ao consumo de energia elétrica para resfriar o leite, queima de óleo diesel nas máquinas e equipamentos na área agrícola e transporte por caminhão da matéria-prima da fazenda para o laticínio Salute em São Carlos (SP) e depois para o varejo. O sistema de produção do leite também é livre de pesticidas, fertilizantes químicos e antibióticos e, na propriedade, as vacas são criadas soltas no pasto.
O rebanho da Guaraci Agropastoril tem 450 vacas criadas soltas no pasto
Médico veterinário de formação, Laranja é um apaixonado pela natureza, a pesquisa e tecnologias que privilegiam o bem-estar animal, como as das startups Decoy e OnFarm, que prestam serviço para a Guaraci Agropastoril.
A Decoy, agtech de biotecnologia, provê a ferramenta usada pelo produtor no controle biológico do carrapato bovino. O produto da startup tem como princípio ativo esporos de fungos que são inimigos naturais dos carrapatos e controla infestações tanto no rebanho como na pastagem.
Além de preservar o bem-estar dos animais, porque evita que adoeçam em razão de ataques do carrapato, o produto não deixa resíduos nos alimentos, é seguro para quem aplica e consome a produção e não agride o meio ambiente.
A OnFarm, por sua vez, é aliada da fazenda no controle da mastite, com uma solução simples de testes que permitem identificar a causa do problema in loco e no prazo de 24 horas. A tecnologia facilita o diagnóstico da necessidade de tratamento dos animais, sinaliza para os casos em que a bactéria não responderá ao tratamento e para episódios em que o animal caminha para a cura espontânea.
Na área de medição do carbono que tem capturado no solo, Laranja também considera que a tecnologia aplicada ao campo deve ajudá-lo a evoluir e mostrar que — além de carbono neutro, orgânica e alinhada ao bem-estar animal — a produção do leite NoCarbon também está inserida no contexto da agricultura regenerativa. O conceito, que tem ganho cada vez mais espaço, preconiza uma produção capaz de ajudar a recuperar os solos. “No momento, estamos desconsiderando o sequestro de carbono pelo solo e adotando uma estratégia conservadora para medir nossas emissões, porque queremos ter mais clara a metodologia para calcular isso”, explica.
Sempre um passo à frente das demandas do seu setor, Laranja já antecipa o próximo sonho dos produtores de leite carbono neutro: ter à mão ferramentas que ajudem a reduzir as emissões de metano pelos ruminantes.