NT@gro, de nomes como Molina e Olavo Setúbal Jr., prepara fundo voltado a hard science

Desde a sua fundação, em 2018, a NT@gro já aportou cerca de R$ 10 milhões em três startups e fundou duas agtechs na pecuária

Junho 24, 2021.

Por Marina Salles

Novas Tecnologias no Agronegócio é o que a empresa de investimentos NT@gro procura, literalmente, desde 2018, quando seus seis sócios — entre os quais Marcos Molina (Marfrig), Olavo Setúbal Junior (Itaú Seguradora) e Antonio Maciel Neto (ex-Suzano, Caoa e Ford e pecuarista na FSL Angus) — se uniram para investir em “hard science”. 

Traduzido como ciência básica, o termo faz referência a um hall da pesquisa que investiga de novas substâncias químicas a tecnologias em vacinas, matemática avançada e microrganismos que combatem doenças. 

Victor Prodonoff, CEO da empresa (na foto acima), conta que desde sua fundação a NT@gro já aportou cerca de R$ 10 milhões em três startups. No segundo semestre de 2021, o plano da empresa é estruturar um fundo para abrir caminho para novos investimentos e atrair também novos investidores.

Portfólio ultra-tecnológico

No portfólio da NT@gro — que conta com cinco startups, duas fundadas pelos sócios e três investidas — estão tecnologias nada convencionais. 

A exemplo da FIT (Fine Instrument Technology), que usa ressonância magnética em análises de alimentos e é capaz de identificar, ainda dentro da garrafa, possíveis adulterações em azeites, sucos e vinhos. Ou da Agrorobótica, de análise da fertilidade do solo e fotônica para certificações agroambientais, atuante no mercado de agricultura de precisão e créditos de carbono. Além, é claro, da Nanox, que desenvolveu um composto em pó à base de micropartículas de prata com ação bactericida, fungicida e capaz de eliminar também o coronavírus. Prodonoff afirma que, na pandemia, a substância da Nanox está sendo incorporada inclusive a máscaras de plástico e de tecido. 

O apetite pela disrupção acompanha os sócios da NT@gro há pelo menos uma década, quando fundaram a sua própria startup, a Biotick, que deu origem, mais tarde, a uma spin-off de produtos veterinários. Em parceria com a Embrapa Gado de Corte e o Instituto Butantã, a Biotick busca levar ao mercado vacinas contra o carrapato bovino e contra as doenças causadas por ele. A parceria com as instituições de pesquisa gerou, este ano, um pedido de patente pela Embrapa e a expectativa é que venham outros no médio prazo. 

O fato de homem já ter ido à Lua, explorado petróleo a mil metros de profundidade e não ter conseguido combater um parasita que causa prejuízos da ordem de R$ 10 bilhões por ano no Brasil, pode-se dizer, foi a semente da NT@gro"

É o que conta Prodonoff, que administra os ativos do sexteto formado por Molina, Setúbal Jr. e Maciel Neto, além de Silvio Eid (empresário responsável pela criação do Parque da Mônica), David Leite Ribeiro (produtor agrícola e pecuário) e Giorgio Nicoli (referência na indústria moveleira). 

A tese da NT@gro em hard science

Investir em soluções de tecnologia avançada e com um pé na ciência básica, que na maioria dos casos saiu da Embrapa Instrumentação e da Universidade Federal de São Carlos, significa, muitas vezes, não ter pressa e crer que a espera valerá a pena.

“Via de regra, nós investimos em projetos de mais longo prazo que, de um lado, são demorados mesmo, mas, de outro, têm uma barreira de entrada para concorrentes porque são justamente de difícil execução”, afirma Prodonoff. 

Outra característica da NT@gro é investir em soluções que dialoguem entre si, como no caso da FIT e Agrorobótica, com sinergias na área de análises físico-químicas. “Nós entendemos que o conjunto da nossa carteira vale mais do que cada aporte individual e estimulamos as startups a compartilharem clientes e somarem seus serviços”, explica o executivo. 

Na prática, uma cooperativa de café, por exemplo, pode contratar a Agrorobótica para avaliar a fertilidade do solo dos seus cooperados e ajudar na otimização das aplicações de insumos. Depois, com a safra colhida, recorrer à FIT para analisar a qualidade dos grãos e ter insights sobre eventuais mudanças no manejo. “Quando as tecnologias se complementam,  a gente estimula que as empresas cooperem e atinjam novos mercados”, diz o CEO da NT@gro.

Aposta forte em smart money

Com participação de 20% a 30% nas startups investidas e um time com larga experiência na cadeia industrial de alimentos e do agronegócio, o que os investidores esperam é que pouco a pouco seu portfólio ganhe tração. Para isso, colocam à disposição seu smart money e um representante no Conselho Administrativo de cada uma das empresas. O objetivo é estruturar a governança desde cedo, criar uma disciplina fiscal e manter no radar as melhores oportunidades de negócio.

“Nossos relacionamentos ajudam as startups a caminharem mais rápido, ganharem credibilidade. A FIT, por exemplo, nós colocamos dentro da Marfrig e em contato com a BRF e eles estão testando a ressonância magnética na análise de carnes”, exemplifica Prodonoff. Usando um equipamento de bancada que não destrói a amostra submetida à análise nem demanda a adição de substâncias químicas, a FIT consegue medir o teor de gordura e proteína de carnes e tem atuado da mesma forma na área de óleos vegetais. 

Segundo Prodonoff, com o novo fundo a tese de investimentos será mantida e a tendência é a régua continuar alta também para o perfil dos investidores. "Tem funcionado bem trabalhar com investidores bastante experientes, com bagagem na área industrial e agrícola", diz, sem dar muito mais pistas sobre os aportes em “hard science” que estão por vir.

Contatos

Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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