O trade sem taxa da Tarken, a mais nova startup de Luiz Tangari

Modelo de negócios é baseado em serviços agregados, pensando em não corroer as margens curtas de quem opera na compra e venda de grãos

Outubro 7, 2021.

Por Marina Salles

Chame de empreendedor serial ou de empreendedor incansável. No agro, uma dessas figuras é a do mineiro Luiz Tangari, que no mesmo dia em que contava para esta repórter, que fala com você agora, sobre a saída da Syngenta Digital (antiga Strider), estava comprando as cadeiras para montar a sede da Tarken. Na época, a nova ideia de negócio não estava totalmente delineada, mas Tangari já contou que sua tese conversava com o universo agro.

De uma ligação para outra, cinco meses se passaram e, quando fui conversar com Tangari de novo, ele estava sentado nas cadeiras da sua nova startup, já com tudo organizado em Belo Horizonte, MG. E tinha montado um time de nada mais nada menos do que 20 pessoas: ⅓ do pessoal de marketing, ⅓ de desenvolvimento e um ⅓ de vendas. Isso foi na semana passada! 

Equipe da Tarken, direto do terraço do escritório em BH (e direto de suas casas) (Foto: Tarken)

Nesse momento, a nova tese, claro, estava mais do que delineada... Com vídeo sobre a tecnologia no ar e tudo, ele disse que escolheu fazer algo para gerar valor para o produtor rural em primeiríssimo lugar, mirando mais a fundo o cliente dentro da porteira do que na sua última empreitada. 

Para quem não conhece — o que acho difícil — a Strider (agora Syngenta Digital) é uma ferramenta de monitoramento de pragas. Já a recém-lançada Tarken é uma plataforma de negociação de commodities no mercado físico, que conecta compradores e vendedores, e oferece serviços agregados.

“Ainda no ciclo da Strider me angustiava que, por mais que você fizesse algo na fazenda, o benefício da margem acabava ficando, em parte, nos outros elos da cadeia, fosse na revenda ou na indústria”, explica. A margem apertada da atividade, sempre ela… a pedra no sapato do empreendedor e do produtor.

Trade de graça? De graça...

“Agora, a gente quer trabalhar 100% para o produtor e para quem compra seu grão, dando mais opções para eles fecharem melhores contratos, sem assimetria de informação e sem cobrar nenhuma taxa no trade”, afirma Tangari. Isto significa que nem o produtor nem o comprador (que pode ser um granjeiro, pecuarista ou usina de etanol) pagam qualquer percentual sobre as transações para operar na Tarken. 

Precisamos dar liquidez nas negociações na plataforma, por isso, o trade é inteiramente gratuito"

Mas a Tarken também precisa ganhar dinheiro. O modelo de negócios, segundo Tangari, é baseado na prestação de serviços após o fechamento do contrato. Entre esses serviços está a conexão com transportadoras, oferta de seguro para a carga, armazenagem, controle de qualidade e até certificação da mercadoria, em parceria já em curso com a empresa Produzindo Certo. 

Na visão do empreendedor, o caminho para remunerar o ativo ambiental passa pela certificação e pelo trade de grãos e a Tarken quer estar preparada para responder a essa demanda. “Quando o mercado estiver pronto para remunerar os produtores pela preservação da floresta, pelo sequestro de carbono, isso vai entrar como um adicional do preço do produto e a certificação vai nortear esse prêmio”, diz. 

Liquidez e segurança

Hoje, numa situação comum, em que o produtor quer vender seu milho a preço justo, de mercado, ele fica, tranquilamente, com o estoque no armazém por um mês a fio quando não encontra alguém interessado em alimentar a boiada na sua região. O remédio, muitas vezes, é baixar o preço ou esperar sentado.

Pela Tarken, a expectativa é que o negócio aconteça (no futuro, quando mais gente entrar na plataforma) em 2 a 3 dias depois da publicação da oferta. E, o mais importante, sem dor de cabeça até o momento da entrega no destino final.

Além de fazer vendas rápidas, porque o comprador e o vendedor, em tese, estarão a um clique de distância, a Tarken também tem por objetivo entregar um acompanhamento detalhado das várias transações e dar as condições para que os negócios ocorram de forma segura. 

Para entrar na rede da startup, os negociadores passam por uma análise cadastral criteriosa, que avalia seu histórico como produtor e pagador. No momento, alguns milhares de clientes estão inseridos no sistema, desde a fazenda de leite do interior de Minas até grandes confinamentos e produtores de frango e ovos do Centro-Oeste. A meta para outubro é ter mil clientes com ofertas ativas na plataforma. 

Inteligência de precificação

Usando dados de fontes variadas e inteligência artificial, a startup já provê preços para o milho em 647 municípios do agronegócio no Brasil. A commodity foi escolhida para dar o pontapé nas negociações pela alta demanda interna, principalmente neste ano de quebra de safra no país, e porque operar com milho é mais simples do que com a soja ou café, que demandariam da startup uma perna internacional. 

Segundo Tangari, a Tarken vai muito além de um painel de preços. Em uma tela de busca de oportunidades, por exemplo, o produtor cadastrado (1) insere a sua cidade, (2) diz se quer comprar ou vender e (3) informa o valor desejado. Então, pode navegar em um mapa.

Ferramenta de oportunidades mostra preços na região do comprador e vendedor (Foto: Tarken)

Nesse mapa, visualiza o preço da saca que está sendo negociado na sua cidade e nas cidades vizinhas e já vê também o valor estimado do frete e do imposto da transação (caso haja incidência de ICMS) tudo em sacas da sua commodity — a moeda preferida do agro, que compra de caminhonetes a terras em Mato Grosso.

“O preço varia muito de cidade para cidade e queremos que o produtor se relacione com gente de outros lugares, se o melhor negócio não estiver do lado dele. O milho, por natureza, já viaja muito no Brasil”, diz Luiz Tangari, que fala com conhecimento de causa no agro, de quem já rodou tantos quilômetros no país quanto as commodities que quer ajudar a negociar. 

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Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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