Julho 13, 2021
A companhia norueguesa de fertilizantes Yara está pronta para trilhar uma nova fase da sua estratégia de transformação digital. Ao lado do AgTech Garage, a empresa quer trazer para perto startups que possam compor sua suíte de soluções.
Rodrigo Moraes, Diretor Digital da companhia, afirma que desde 1997 a Yara vem desenvolvendo tecnologias proprietárias, que culminaram na criação da divisão Yara Farming Solutions. O momento agora é de abrir as portas para o ecossistema empreendedor participar desse processo.
“Em consultoria com a Mckinsey, em 2017, a Yara chegou à conclusão de que a questão da inovação digital não era acessória, mas sim ligada ao core business da empresa e, assim, delineou seus nortes estratégicos. Porque tão importante quanto saber o que fazer, é saber o que não fazer”, afirma Moraes.
Rodrigo Moraes, Diretor Digital da Yara
Na Yara Farming Solutions, a estratégia digital passa pelo desenvolvimento da sustentabilidade (o que inclui aplicações otimizadas de insumos), interação com toda a cadeia de alimentos (para entregar produtos padronizados na ponta e atender à necessidade de rastreabilidade do food chain) e busca pela neutralidade em carbono, em sintonia com a frente de negócios Agoro Carbon Alliance, lançada em maio de 2021 pela companhia. No Brasil, a Agoro apoiará os produtores com experiência agronômica e suporte prático para sequestrar carbono no solo e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O objetivo é gerar créditos certificados e aumentar a renda no campo.
Com esses nortes estratégicos em vista, a aproximação com as startups poderá acontecer de diversas maneiras, segundo Deise Dallanora, diretora de Food Solution Innovation da Yara Brasil. “A gente está absolutamente aberto em como se conectar às startups, com um escopo que vai dos desafios e contratação de serviço à possibilidade de fusão, aquisição, investimento”, frisa a executiva.
Deise Dallanora, diretora de Food Solution Innovation da Yara Brasil
Com 116 anos de história e faturamento de US$ 11,7 bilhões em 2020, a Yara é a maior indústria de fertilizantes do mundo. A nível global, tem 17,7 mil funcionários, dos quais 1,2 mil na divisão Yara Farming Solutions.
Segundo Moraes, a área digital da empresa nasceu ainda na década de 1990 com o desenvolvimento de um dispositivo ótico instalado nas máquinas que media a quantidade de biomassa na lavoura. A tecnologia, batizada N-Sensor, existe até hoje e determina instantaneamente o teor de nitrogênio de diferentes culturas, permitindo fazer recomendações para adubação em taxa variável.
Mais tarde, já na década de 2010, a Yara decidiu adquirir três startups para complementar sua base tecnológica. Começou, então, em 2013, comprando a agtech alemã ZIM Plant Technology, de sensores para irrigação usados para aumentar a eficiência do uso da água. Em 2017, foi a vez da compra da americana Agronomic Technology Corp (ATC), detentora do software Adapt-N, capaz de combinar dados de solo, clima e modelagem de culturas para prescrever o uso dos fertilizantes. E, por fim, da alemã Trecker, em 2018, de rastreamento de máquinas e ativos, que informa ao produtor se seu talhão está dando lucro ou prejuízo.
Uma vez internalizadas, essas tecnologias continuaram sendo aprimoradas nos hubs de desenvolvimento da Yara em quatro locais do mundo: São Paulo (Brasil), Berlim (Alemanha), Singapura (Malásia) e Bangalore (Índia).
E a Yara não parou mais. Em março de 2018, a empresa lançou o aplicativo Atfarm, que permite a produtores, agrônomos e consultores recomendar aplicações de adubo de forma variável, com base em dados de satélite e informações do algoritmo N-Sensor. Disponível no Brasil desde a metade de 2019, o app foi baixado por mais de 16 mil usuários e a meta é atingir 25 mil até o fim de 2021.
Com seus nomes originais, as ferramentas Adapt-N e Trecker também integram o portfólio, a que se soma o software de gestão integrada de dados AgroOffice e a solução Farm Water Advisor, desenvolvida em parceria com a IBM, que opera hoje na América do Norte e está prestes a desembarcar no Brasil neste segundo semestre.
De acordo com Moraes, mais difícil do que promover a transformação digital é promover uma mudança de mindset e, por isso também, a companhia entrou para o AgTech Garage. “A gente não precisa de uma transformação digital para fazer hoje o que a gente fazia no passado. As possibilidades são muito maiores e é isso que temos vivenciado. Toda vez que eu vou no AgTech Garage eu sinto esse cheiro de inovação no ar, é um ambiente que contagia, e é esse espírito que queremos levar para a Yara”, afirma.
Com os dois pés no mundo digital e o olhar direcionado ao cenário de mudanças climáticas e necessidade de descarbonização da produção de fertilizantes, a Yara sabe exatamente onde quer chegar se associando ao ecossistema empreendedor.
“A inovação não necessariamente passa por descobrir algo novo, mas por encontrar formas mais ágeis de fazer também o que já integra o nosso business. Queremos soluções que enderecem questões do dia a dia da nossa operação e que possam contribuir para que a gente se torne cada vez mais ágil, para atender ao mercado e fomentar nossa estratégia”, afirma Deise.
Para Moraes, a Yara segue no caminho que garantirá sua longevidade pelos próximos cem anos.