Maio 3, 2022
Por Marina Salles
Há cinco anos, a multinacional alemã Bayer lançava no Brasil sua plataforma digital, o Climate FieldView, que no ano passado monitorou 22 milhões de hectares no país. O crescimento foi de 72% em 2021 ante 2020. Um ano antes, havia sido de 63%. Agora, com tamanha penetração, já é possível alçar novos voos e levar para os early adopters (os primeiros na curva de adoção tecnológica) mais novidades.
A novidade da vez é o Bayer Valora, um modelo de negócios inovador para a agricultura, lançado pela Bayer na Agrishow. A iniciativa, em fase pré-comercial, vai compartilhar o risco entre o produtor e a empresa primeiro no plantio de milho. Mais adiante, é possível que a solução esteja disponível para outras culturas e também para produtos de proteção de cultivos, da Bayer e de parceiros.
Funciona assim hoje: a Bayer faz uma recomendação de densidade da população ideal de milho em cada talhão do produtor, buscando um ganho real de produtividade em relação ao manejo que já era adotado na propriedade (acompanhado em uma parcela testemunha). Se o resultado fica abaixo do projetado pela companhia, o produtor recebe de volta o valor da quantidade adicional de sementes investida para implementar a recomendação. A prescrição é direcionada por meio de dados da plataforma Climate FieldView e todo o ciclo da cultura é monitorado digitalmente.
“O Climate FieldView passa a ser um facilitador para novas tecnologias. Só vai poder participar do Valora o produtor que já tiver o FieldView, pois ele precisará da prescrição da aplicação em taxa variável de sementes feita através da plataforma”, diz Guilherme Belardo, Líder de Desenvolvimento de Negócios e Parcerias Estratégicas de Agricultura Digital da Bayer.
O lançamento do novo modelo de negócios marca um ponto de virada importante para a indústria de insumos, que busca rentabilizar também suas soluções digitais e, a partir delas, extrair valor em outras frentes.
“No passado, pensamos em fazer um SaaS [software como serviço] cobrando por hectare, mas, no fim, decidimos oferecer uma solução completa e integrada para posicionar ainda melhor os produtos Bayer. Até porque se eu quiser monetizar em cima de tudo, o pacote vai ficar pesado para o produtor”, afirma Belardo.
Em vez disso, ele explica que o FieldView se encaixa na estratégia de avanço da Bayer de forma macro. “O FieldView é uma ferramenta que nos ajuda a fidelizar o cliente, que permite que ele veja nossos produtos de forma mais rentável, meça sua eficiência e sustentabilidade”, diz, o que, indiretamente, pode contribuir para um aumento de participação de mercado.
A escolha por começar pelo milho tem relação direta com a característica da cultura — que responde mais rápido a variações de população do que a soja, por exemplo — e a quantidade de dados levantados pela Bayer em lavouras de cereal usando o FieldView. “O produtor tem colhido mais com a nossa recomendação, o que ocorreu em mais de 75% das vezes com assertividade nos pilotos”, diz.
Mas, claro, quando o produtor eventualmente produz menos, a diferença do que investiu a mais na compra de sementes é devolvida como cashback e pode ser resgatada em produtos Bayer ou de parceiros no marketplace Orbia. Entram no programa Bayer Valora sementes da linha Agroeste, Dekalb e Agroceres. Ao todo, são 14 variedades de milho-verão e 17 de milho-safrinha.
Medir o retorno de soluções digitais não é tarefa simples, mas Belardo garante que a Bayer também caminha a passos largos nessa trilha. “Medimos fidelização de clientes, se o cliente aumentou o nosso share of wallet, quanto o distribuidor está participando, o NPS dos usuários do Field View, digitalização em outros programas, como Orbia e Impulso Bayer, e assim vamos tendo indicadores do resultado para todo o negócio”, diz.
Esses resultados, segundo ele, já comprovam que investir em inovação traz retorno, além de entregar maior satisfação ao cliente. “Para o produtor, o Bayer Valora traz o sentimento de ganha-ganha. Se ele produzir mais, ótimo. Se produzir menos, não absorveu o custo”, diz o executivo.