Abril 27, 2022
*Por Vitor Lima
Cada vez mais cresce o número de startups com soluções voltadas para o agronegócio. Segundo o Radar AgTech Brasil de 2020/2021 da Embrapa, são quase 1.600 as empresas inovadoras que entram nessa classificação, um crescimento de 40% ante 2019. No caso das startups de alimentos, levantamento recém-lançado pela PwC Brasil e Liga Ventures dá conta de que o número cresceu 15,5% de 2019 a 2021 e chegou a 396 foodtechs.
Baseado no podcast “Como estruturar as equipes nas agtechs”, que contou com a presença de Rodrigo Iafelice (membro do conselho consultivo da Perfect Flight, Solubio e Procer), Rodrigo Dias (CEO da Connect Farm), André Maltz (CEO da AgTrace), este Inovapédia coloca em pauta a formação de equipes nas startups, sejam agtechs ou foodtechs, que ajudam a inovar o agronegócio.
A formação de um time começa pelos idealizadores, leia-se, os sócios do negócio. No começo, é comum partir de uma equipe de duas ou três pessoas e, neste hora, a escolha certa pode ser a diferença entre a vida ou morte da startup. Um dos princípios básicos da formação de sociedades no mundo dos negócios é a complementaridade. Quanto mais diversa a expertise do C-level (CEO, CFO, CMO, COO…) maiores são as chances de sucesso das suas startups no longo prazo.
No caso da AgTrace, Maltz compartilha que a busca foi por grandes especialistas em temas que seriam fundamentais para a estruturação de uma agtech escalável, baseada em uma plataforma digital e focada na rastreabilidade de produtos agrícolas. O resultado? Uma equipe de 3 pessoas formada pelo: COO Luciano Tamiso, fundador do Instituto Brasileiro de Rastreabilidade e responsável por este tema na AgTrace; ele mesmo, Maltz, especialista na construção de soluções escaláveis e com experiência em big techs (gigantes da tecnologia); e o CIO Alberto Leiva, engenheiro da computação com forte vivência em gestão de projetos de TI, responsável pela construção da plataforma da startup.
Rodrigo Iafelice: “Se você tem uma tecnologia que é core, faça jus a isso na hora de formar o time”
Daqui, já fica a recomendação: para startups que tem a tecnologia no seu core business, é fundamental ter no time de sócios um especialista naquele pilar de sustentação. Iafelice, que também participou da formação da AgTrace, reforça que viu de cara na equipe uma visão coesa sobre o futuro da tecnologia de rastreabilidade para o agronegócio, onde está o DNA da solução da empresa.
Dias, em paralelo, ressalta a importância do olhar para os perfis de profissionais para além das áreas de formação: “Na maioria, somos engenheiros agrônomos. Quando a agtech tem um perfil técnico mais forte como a Connect Farm, acaba atraindo profissionais deste tipo e o desafio se torna encontrar pessoas que equilibrem áreas como comercial e financeiro”, diz. Neste caso, o perfil do profissional é muito mais relevante do que o curso em que se formou.
Como ponto central para a contratação de novos colaboradores para qualquer agtech, os empreendedores concordam em gênero, número e grau que o alinhamento de cultura também forma o alicerce. Não dá para trazer para dentro do negócio alguém qualificado tecnicamente e que vai “se ajustar” ao fit cultural depois.
André Maltz: “Dê uma ideia brilhante a um time ruim e eles acabarão com a ideia. Dê uma ideia ruim a um time brilhante e eles farão algo com isso”
Nas palavras de Maltz: “O pior erro que a gente pode cometer é contratar alguém que não tem o fit cultural, mas tem o skill que estamos precisando. Isso, lá na frente, terá seu preço”. Afinal, acreditar em um profissional e atraí-lo para a equipe demanda, no mínimo, investimento e treinamento. Em casos de problemas comportamentais, ou de desalinhamento de valores e princípios, voltar atrás na contratação é a melhor alternativa, na visão do empreendedor da AgTrace.
Uma das características que brilham os olhos de quem está formando time nas startups, destaca Iafelice, é o senso de dono, o perfil intraempreendedor de quem toma riscos e enxerga o potencial de longo prazo da empresa.
Dias comenta que, na Connect Farm, a entrevista contempla perguntas que dizem muito sobre os valores do candidato, como: Qual é sua história de vida? Quais suas inspirações? Do que é inegociável no ambiente de trabalho?
A recomendação geral a respeito das entrevistas é: não tenha pressa de contratar! Gaste o tempo que for necessário, faça reuniões dos candidatos com seus futuros líderes, com o corpo de sócios e não hesite em marcar novas entrevistas caso ainda reste um fundo de dúvida.
Rodrigo Dias: Antes de contratar, pergunte sobre a história de vida do candidato, isso pode dar pistas de quais os valores dele
Prezando pela diversidade no corpo de colaboradores, as agtechs devem buscar formar seus times a partir da mescla entre profissionais com anos de experiência e jovens talentosos e com sede de aprendizado e crescimento.
Mas para mirar e acertar nos dois grupos a competição com as grandes empresas, já consolidadas em seus setores, é dura. Uma vez que elas têm poder para ofertar a seus colaboradores maiores salários, benefícios e o status social, de forma geral.
A carta na manga das agtechs, porém, é o chamado propósito, que pode ser mais atrativo que a oferta de uma grande companhia, sempre e quando o candidato tem o fit cultural (lembre-se disso!).
“Hoje em dia, muita gente não trabalha mais só pelo holerite, mas pelo anseio de entregar algum valor à sociedade e aos setores do qual fazem parte", diz Iafelice. O anseio de contribuir com o desenvolvimento da cadeia de alimentos em prol de um futuro mais sustentável move, sim, os talentos do mercado. Assim como a oportunidade de conviver nos ambientes de inovação e tecnologia.
No contexto da transformação digital dos negócios, a capacidade de analisar e gerar insights a partir de dados tem sido muito valorizada pelas empresas. E os profissionais da Tecnologia da Informação são cada vez mais disputados e escassos, no agro e em todos os setores da economia.
Indo direto ao ponto, é como diz Iafelice: “É extremamente difícil encontrar bons profissionais de TI disponíveis no mercado. Com expertise no agro, então? nem se fala”. Diante dessa constatação, só há uma alternativa: desenvolver o desenvolvedor.
O conhecimento sobre o dia a dia do campo é fundamental para produzir entregas que efetivamente geram valor nas fazendas. Maltz conta que, na AgTrace, colaboradores como os da área de TI são levados em visitas às fazendas e às indústrias de alimentos para sentirem na pele as demandas do setor.
Para Dias, é de responsabilidade e interesse da própria empresa expor seus colaboradores à realidade para a qual estão gerando soluções. “Muitas empresas pecam ao olhar muito para seu produto, serviço ou modelo de negócios e pouco para as pessoas que estão construindo as soluções”.
No Brasil, ainda é incomum encontrar profissionais de TI já prontos para trabalhar no agronegócio. Nos Estados Unidos, uma parceria entre a iniciativa privada e a Iowa State University tem sido direcionada para suprir esta demanda e formar engenheiros especializados no desenvolvimento de tecnologia para o agronegócio.
*Com edição de Marina Salles