Na OCP e Yara, CVCs buscam equilibrar valor estratégico e retorno financeiro

Com autonomia para alocar investimentos em startups, gestores reiteram a importância de não pensar apenas no pay back e manter a visão de futuro dos negócios

Maio 17, 2022

Por Marina Salles

As grandes corporações estão se aproximando, cada vez mais, das startups e o desejo de conexão passa também por investir em soluções disruptivas. Via fundos de parceiros ou iniciativas próprias, o importante é ter clara a motivação por trás dos cheques. 

Nas empresas de fertilizantes OCP e Yara, essa visão foi concebida desde a criação dos seus braços de investimento, os fundos Bidra Innovation Ventures e Yara Growth Ventures. Durante o Conexão Partners, realizado pelo AgTech Garage, Björn Heinz, diretor de investimentos do Yara Growth Ventures, e Amar Singh, presidente da Bidra Innovation Ventures, compartilharam a experiência de gerir as “lentes” e “binóculos” de grandes companhias para ver o futuro. 

Teses de investimento

Lançado em abril de 2022, com o apoio da universidade UM6P e do Grupo OCP, empresa marroquina líder global em nutrição de plantas, o Bidra Innovation Ventures fica sediado em São Francisco, no Estado americano da Califórnia, e tem inicialmente US$ 50 milhões para investir em cinco anos em soluções inovadoras para a agricultura em todo o mundo, com foco especial na área de insumos e tecnologias digitais. 

Embora Bidra, em árabe, signifique “semente”, Singh destaca que o fundo é agnóstico em termos do estágio de desenvolvimento das suas investidas e quer ser um parceiro dinâmico dos empreendedores no esforço global para alimentar de forma sustentável a crescente população mundial.

Eu gosto de pensar no CVC como binóculos. Imagine que você é o CEO de uma companhia e está no topo de um barco. O CVC te mostra mais cedo o que está no horizonte, e te permite agir mais rápido ou até mudar de rota. Só que cabe também a quem está usando esses binóculos ficar em contato com a equipe que cuida do motor, para o barco continuar navegando"

Há pouco mais de um ano operando, a Yara Growth Ventures já investiu em oito startups e tem, inclusive, um investimento na América Latina, fruto de uma rodada colaborativa da agtech Agrofy. Com orçamento de 100 milhões de euros, sede na Noruega e atuação a nível global, seu objetivo é investir em soluções de agricultura e hidrogênio verde. As duas teses contemplam startups de quaisquer estágios de maturidade. Segundo Björn Heinz, o fundo nasceu com a co-responsabilidade de ser um farol para a Yara navegar na paisagem inovadora que circunda os dois mercados. 

“No Venture Capital você tem que se mover muito rapidamente e participar de investimentos em startups é uma forma absolutamente eficiente de estar por dentro do que está acontecendo. O CVC é como se fosse uma lente para o futuro, e esse tipo de benefício é muito importante para a Yara”, afirma Heinz. 

Björn Heinz, diretor de investimentos do Yara Growth Ventures: “Temos a co-responsabilidade de ser um farol para a Yara navegar na paisagem inovadora da agricultura e do mercado de hidrogênio verde”

As verticais de interesse da Yara na agricultura são: novos biológicos para o campo, apoio à decisão agronômica, otimização da cadeia de suprimentos, financiamento agrícola. Já no caso do hidrogênio verde, o foco está na produção, armazenamento e transporte desse tipo de combustível. Por trás da tese, o objetivo da companhia é contribuir com a descarbonização e sustentabilidade no planeta, saúde do solo e transparência da indústria, gerando alto impacto positivo com menores esforços.

Estratégia e retorno financeiro

Tendo gerido quatro CVCs de diferentes empresas, entre eles o FMC Ventures, Singh gosta de dizer que: “ROI é como oxigênio, você precisa dele para viver, mas não é por ele que você vive”. Dando um exemplo hipotético, em que multiplicaria por cinco um investimento de US$ 100, afirma que esse tipo de retorno não mexe a ponta da agulha para uma grande companhia. 

“O que faz a diferença, sim, é estar à frente no lançamento de uma nova molécula ou da quebra de paradigma com um novo modelo de negócios. “Não vai ter fundo II se a gente não produzir retorno, é verdade, mas esse não é o principal objetivo”, diz o gestor do Bidra Innovation Ventures.  

Na Yara Growth Ventures, o entendimento é parecido. “No CVC buscamos estar nem tão perto nem tão longe do core business. Não vai ser o caso de todos concordarem com um deal dizendo 'isso é exatamente do que precisamos', e nem de investir em uma startup que vai deixar os executivos da companhia perderem o sono à noite”, argumenta. O risco é inerente aos CVCs, de acordo com ele, e a arte de investir é saber equilibrar os dois lados da balança. 

O tema discutido acima foi um dos recortes do Painel CVC com Yara e OCP do Conexão Partners. Além do posicionamento estratégico versus financeiro dos fundos, o painel tratou da independência dos CVCs, gestão administrativa, smart-money e relação com os empreendedores, retroalimentação da estratégia com os times locais de inovação e posicionamento dos fundos de Corporate Venture Capital na estratégia de Inovação Aberta das empresas. 

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Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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