Quais os segredos das empresas que estão na fronteira da inovação?

Adaptabilidade, agilidade e autonomia estão entre as características comuns às companhias que mais inovam o mercado

Julho 19, 2022

Corporações inovadoras são adaptáveis e geram respostas positivas quando expostas a estímulos externos (Foto: Canva/Khwanchai Phanthong)

Marina Salles e Vitor Lima

Não existe uma receita de bolo, cartilha, nem lista dos “10 mandamentos da empresa inovadora” com os pré-requisitos para estar (e se manter) na fronteira da inovação, seja no agronegócio ou em qualquer outro setor da economia. Mas é certo sim que, apesar do contexto, dos valores e da cultura de cada organização, algumas estratégias e características se repetem entre as companhias que decidem liderar a evolução dos seus mercados.

Neste Inovapédia, o time AgTech Garage — representado por Bruno Abreu (Líder do time de Gestão de Inovação), Henrique Provenzzano (Coordenador de Programas de Inovação Aberta), Leonardo Langoni (Gestor de Comunidade para Startups) e Dalana de Matos (Líder de Learning & Experience) — compartilha suas visões sobre “O Segredo das empresas na fronteira da inovação” a partir da experiência diária com os parceiros do hub, que já somam mais de 80 empresas e 100 startups residentes e membership. Depois da leitura, não deixe de conferir também o episódio do AgTech Garage Podcast que deu origem a este artigo. 

Adaptabilidade como carro-chefe 

É constante dentro das empresas a busca por adaptação estratégica quanto à forma de atender seus clientes, modelar seus negócios e gerir seu capital humano na Era Digital. É uma necessidade inerente ao dinamismo das mudanças do mundo em que vivemos. 

Já dizia a teoria da evolução, do naturalista britânico Charles Darwin, que os organismos que sobrevivem no ecossistema não são necessariamente os mais fortes mas, sim, os que melhor se adaptam às condições do meio. A mesma lógica pode ser extrapolada para o universo corporativo. Quem não se adapta às mudanças, corre o risco de desaparecer. Dalana de Matos, Líder de Learning & Experience no AgTech Garage, pontua sobre o tema: 

“As empresas que estão liderando a transformação dos seus mercados inevitavelmente se perguntam com frequência: ‘Como eu me mantenho relevante?’”

Corporações inovadoras são adaptáveis e geram respostas positivas quando expostas a estímulos externos que podem vir de concorrentes, startups ou outsiders. Elas têm uma postura ativa para inovar a oferta ao cliente, que vai muito além de produtos, e hoje está mais ligada a entregas de valor. 

É comum também a essas empresas a capacidade holística de ler os “sinais fracos” do mercado, para antever as mudanças que podem vir a afetar sua sobrevivência. É mais sobre estar atento, e menos sobre ter uma bola de cristal. 

Cultura como a base de tudo

O aculturamento, por sua vez, é base para trabalhar a inovação dentro das grandes corporações. Segundo Provenzzano, o diferencial das organizações que se mantêm na fronteira da inovação está em disseminar o tema na empresa, e fazer com que a inovação permeie a cultura corporativa. “Nada funciona se não houver um time engajado com o propósito da empresa”, diz. 

De acordo com Dalana, a cultura de inovação muitas vezes é passada adiante pela área dedicada aos novos projetos dentro das corporações e as equipes de Gestão de Pessoas, mas precisa ir muito além e ser reconhecida pelo universo completo de colaboradores. “É preciso haver clareza sobre o papel de todas as pessoas da empresa nos processos de inovação. Ela deve ser transversal e incentivada em todos os níveis, da liderança às demais áreas e cargos”, afirma Dalana, indo dos times de marketing ao jurídico e às operações. 

Governança para poder inovar 

Leonardo Langoni destaca, contudo, que a “inovação sem direção é como um carro desgovernado”. Para manter o carro na rodovia, é importante que a companhia busque compreender qual modelo de área de inovação melhor funciona para sua realidade. 

Em termos de estrutura, os comitês de inovação são uma boa alternativa para começar e dar celeridade a iniciativas dentro das empresas. No comitê, geralmente um líder de área fica responsável por alimentar os processos que trazem soluções eficazes e transversais para as demandas de diferentes setores, estimulando a participação dos funcionários na resolução de diferentes desafios. 

Outra opção é partir para criar uma área de inovação e manter contato direto com as diferentes equipes da companhia e o ecossistema de inovação, de onde podem vir as soluções para projetos incrementais, adjacentes ao core business ou totalmente disruptivos. A inovação em rede, ou colaborativa, nada mais é do que a inovação aberta, que vai além dos muros das organizações. 

Agilidade e autonomia a fim de chegar à fronteira

Com a governança bem equacionada, a geração de novas ideias entre os colaboradores tem grande valor para a inovação. Neste sentido, Dalana fala sobre a “segurança psicológica”, termo que se refere à criação de um ambiente no qual os funcionários se sentem confortáveis para serem eles mesmos e expressarem suas visões, sem medo de errar. Assim é possível aproveitar ao máximo a diversidade dos colaboradores e estimular sua autonomia. 

Nesse sentido, a abertura para o modelo de gestão “bottom-up” (de baixo para cima), em que os funcionários participam ativamente das decisões, embora elas continuem a passar pelo crivo da liderança, pode gerar bons frutos. O termo nos remete à direção do fluxo de informação dentro da empresa, conforme a hierarquia. No modelo “bottom-up”, a liderança horizontal tende a prevalecer do planejamento à execução e estimula o intraempreendedorismo. Times com autonomia geralmente também contam com agilidade para estarem na fronteira da inovação.  

Valorização de projetos de longo prazo

A inovação depende de continuidade e velocidade. Langoni lembra que alguns projetos de inovação levam tempo para amadurecer (confira case do Zé Delivery e da Nespresso) e que faz parte se antecipar aos desafios do mercado. Uma empresa que opera entregas não deveria esperar a regulação do uso de drones para ir atrás dessa tecnologia, por exemplo. Em paralelo à regulamentação, ela pode sempre realizar um projeto piloto. 

“A inovação disruptiva tem horas que você nem consegue ver acontecendo. É comum ter caráter de longo prazo e, se você não estiver atento agora, pode significar a quebra do seu negócio lá na frente”, afirma Langoni. Para ele, cultivar o relacionamento com o ecossistema é uma das maneiras mais eficientes de ficar a par do novo. “A inovação vai chegar, é o cliente que puxa isso”, diz. Do lado das empresas, a responsabilidade é acompanhar essas demandas. 

Bruno Abreu lembra que a inovação também gera efeitos em cadeia que são difíceis de prever e, por isso, fazer um acompanhamento do mercado para identificar os sinais fracos é fundamental. “A futura popularização dos carros autônomos pode diminuir o número de acidentes que resultam em morte no trânsito. E, se você tinha muitos doadores entre os motoristas, isso pode gerar um impacto para as seguradoras de saúde, que vão precisar cuidar dos pacientes de outra forma, talvez com órgãos impressos em 3D”, exemplifica Abreu com uma hipótese levantada por Bre Pettis, fundador da MakerBot, ainda em 2014. “Mudanças sutis surgem a todo momento, de todos os lados, e percebê-las antes da maioria pode fazer a diferença”, diz.

Foco em orçamento e métricas

Inovação também exige investimento, o que está claro para as empresas na fronteira da inovação, mas nem sempre torna mais simples a aprovação de orçamentos para novos projetos. 

Provenzzano destaca pontos importantes para se ter em mente antes de sentar na mesa de reunião com os times financeiros. Estabelecer métricas claras de geração de valor é um deles. Indo além do ROI (retorno sobre o investimento, em português), vale avaliar também o número de pessoas impactadas na organização, conexões geradas e custo de oportunidade. Determinar “quick wins” (vitórias rápidas) pode ser outra estratégia interessante para medir avanços no curto prazo. 

Em situações nada incomuns, projetos não são aprovados por falta de orçamento na área específica que receberá a iniciativa. “Por que não envolver mais de um departamento no projeto? O impacto da solução para uma área pode gerar valor para outra”, completa.

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Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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