Setembro 28, 2022
Por Marina Salles
A crescente digitalização da gestão no agronegócio, que começou nas empresas do setor e já se estende às fazendas, ajuda a explicar o sucesso de startups de software que apostaram no segmento lá atrás, como a Implanta. Há uma década no mercado, a startup tem hoje quase 25% da sua carteira de projetos no agro e auxilia grandes indústrias a venderem mais e melhor. Na lista das 100 Startups to Watch da Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios 2022, a Implanta aparece como destaque na categoria Agronegócios.
Segundo Rômulo Prudente, CEO da Implanta, essa e outras conquistas são reflexo da qualidade dos dados fornecidos para tomada de decisão no setor, personalização dos projetos e atuação de ponta a ponta da startup (indo da coleta das informações e tratamento com inteligência artificial à produção de dashboards de fácil interpretação).
Nos clientes, que somam 40 no total de dentro e fora do agro (entre ramos como alimentos, saúde animal, insumos até construção civil, setor automotivo e higiene e beleza), os resultados são medidos em diversas frentes da comercialização de produtos. A inteligência na oferta, por exemplo, tem ajudado a alavancar as vendas de grandes corporações em até 10%, graças ao fornecimento do item certo na hora certa. Enquanto a boa gestão de estoques tem liberado até 20% do capital de giro dos distribuidores e incrementado na casa de 5% o tíquete médio do consumidor final, elo envolvido na compra.
Ao todo, são mais de 5 mil lojas conectadas à plataforma da Implanta, mais de 500 mil itens cadastrados e 150 ERPs integrados, girando mais de R$ 36 bilhões em notas fiscais por ano — indicadores de um negócio que, segundo Prudente, cresceu a uma taxa de 100% ao ano nos últimos três anos.
A própria origem da Implanta remonta às necessidades do agronegócio. A startup é uma spin-off do Grupo Siagri, líder no fornecimento de softwares de gestão para distribuidores de insumos agrícolas, que em 2011 recebeu de uma multinacional a demanda específica por captar dados dos seus canais de venda. Daí surgiu a nova empresa, Implanta, que hoje faz parte do Grupo Alliare, resultado da união entre Siagri, Datacoper e Solution, em que o banco BTG Pactual também detém uma participação.
Na Implanta, o Grupo Alliare é sócio majoritário e Rômulo Prudente minoritário, ocupando a função de CEO desde a fundação (2012). A companhia-mãe, que tem mais de 1 mil funcionários, compartilha com a startup suporte nas áreas financeira, de contabilidade e jurídico, dando apoio a um time dedicado de 50 pessoas prontas para implementar uma solução de gestão de vendas e promover a coleta automática de informações.
“Antes, o distribuidor de insumos agrícolas se via como cliente da indústria e o relacionamento era de cliente e fornecedor. Hoje, a indústria e os canais trabalham juntos, buscando a venda de fato. Essa é uma mudança de paradigma que nós vimos acontecer e que movimentou o mercado”, diz Prudente.
Na missão de aproximar a oferta da demanda por produtos no agro, a Implanta investiu em inteligência de dados. “Quando a gente está integrado com a indústria e o distribuidor, fica muito mais fácil atender bem o produtor, que é o cliente final dos dois elos. Criamos assim um ciclo virtuoso, em que as indústrias que atendemos conseguem vender mais, a preços melhores, garantindo a oferta na hora certa e a otimização das compras com seus fornecedores”, diz. O processo se tornou ainda mais desafiador com a pandemia e a guerra na Ucrânia, fatores de desestabilização de uma série de cadeias de suprimento de matérias-primas no agronegócio.
Dashboard personalizado que permite o acompanhamento do previsto x realizado nas metas de vendas de vendedores indiretos (Imagem: Implanta)
Cobrando por canal integrado, ou seja, por distribuidor parceiro da indústria, independentemente do número de lojas que ele tenha, a Implanta visa levantar o maior conjunto de dados possível para favorecer o fluxo de mercadorias na cadeia. O retorno sobre o investimento na solução, calcula Prudente, varia de dois a seis meses para cada canal integrado, de forma geral.
A indústria ganha ao ter uma previsibilidade maior para fabricação e dimensionamento da logística de entrega dos produtos, ao passo que o distribuidor otimiza seu controle de estoque, programa melhor suas entregas e faz um escoamento inteligente de produtos, evitando ficar com itens parados ou vencidos na prateleira. “De forma indireta, a gente desempenha também um papel ESG, dando condições de que se fabrique e transporte só o que vai ser consumido, reduzindo desperdícios”, afirma Prudente.
Ferramenta para times de compras das corporações, que permite acompanhar status dos pedidos (Imagem: Implanta)
A solução facilita ainda a apuração dos resultados de campanhas de marketing e o pagamento de comissões (rebate) aos distribuidores, o que costumava demandar um tempo considerável das indústrias. “Apurar o resultado dos canais não é tarefa simples e com a nossa solução é instalado um aplicativo que faz a checagem diária dos resultados, e não espera terminar a safra”, explica o empreendedor.
Segundo ele, a facilidade de conexão para captura de dados, que pode ser feita de mais uma dezena de maneiras diferentes (via API, webservice, arquivo XML, submissão de notas em portal de serviços etc) atende a perfis variados de clientes, que acessam distribuidores com diferentes níveis de digitalização. No aspecto da segurança, Prudente destaca que o fluxo de informações acontece seguindo as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGDP) e em nuvem, a partir de provedores qualificados.
“Por conta do sucesso que tivemos no Brasil, alguns dos nossos clientes estão abrindo portas para que a gente atenda também suas unidades no exterior. No momento, a solução está desembarcando na Colômbia, Chile, Equador e Peru (via projetos com a Basf), na Argentina (com a Zoetis) e também em Portugal, com a participação em uma missão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), incubação na UPTEC, da Universidade do Porto, e seleção em programa do banco português Montepio. A expectativa é que Portugal seja a porta de entrada da Implanta para a Europa.