Julho 25, 2023
Pedro Miranda, fundador e CEO da Abundance Brazil
Por Marina Salles
“Acreditamos que toda floresta tem o seu valor”, afirma Pedro Miranda, fundador e CEO da Abundance Brasil. A climate tech, criada em 2020, comercializa tokens de árvores plantadas em pequenas e médias propriedades, dando margem para a geração de renda extra pela via do reflorestamento de áreas degradadas. “Para nós, não importa se a floresta tem 1 hectare ou mais, queremos dar a oportunidade do pequeno e médio produtor participar da economia verde”, diz.
A startup, que tem a ambição de fomentar o plantio de 1 bilhão de árvores até 2030, viu as primeiras mudas brotarem dentro de casa. Em Cana Verde (MG), o pai do empreendedor aderiu à iniciativa e, ao longo dos últimos dois anos, plantou 200 mil árvores na fazenda Aurora Verde, que tem 150 hectares. Até 2030, a ideia é chegar a 1 milhão de árvores. Daquelas que foram plantadas, 10.500 já foram comercializadas.
A procura pelos tokens, segundo Miranda, tem vindo de empresas de transportes e bebidas e a expectativa é abrir o leque para o setor de siderurgia, mineração e energia – com grande necessidade de compensar suas emissões de gases de efeito estufa. “Hoje, a gente fala de uma média de 0,2 tonelada de CO2 sequestrado por árvore plantada. Mas esse número pode variar de 100 kg a 500 kg, no geral. Na Amazônia, tem árvores que absorvem até 1 tonelada”, diz.
O Abundance token (ATK), que representa uma árvore de espécies nativas do Brasil (como o ipê, jacarandá, cedro, jatobá etc), é comercializado a US$ 20, dos quais 70% são destinados ao produtor que faz o plantio. “Para garantir que a floresta continue em pé ao longo do tempo, fazemos o pagamento escalonado. De R$ 100, por exemplo, ficamos com R$ 30, repassamos R$ 30 para o fazendeiro e a gente segura R$ 40, que são pagos ao longo de 30 anos. Então, existe um benefício financeiro para as informações continuarem a ser atualizadas à medida que o tempo passa”, diz.
As informações a que ele se refere são dados da floresta como, por exemplo: indicação da reposição de árvores que morreram nos primeiros anos, status de crescimento da vegetação e estoque de biomassa. Esses dados são levantados pela mensuradora parceira da Abundance Brasil, a empresa Seteg, que tem sede em Fortaleza (CE). No início, a mensuradora faz visitas semestrais às propriedades, que depois passam a ser anuais e, dentro de seis anos do início do projeto, se tornam bianuais.
Ainda que tenha um custo, Miranda garante que a validação do token neste formato equivale a apenas 5% do que seria cobrado por uma grande certificadora de créditos de carbono. “Eu acredito que para democratizar o acesso à economia verde, vai ser necessário reduzir a dependência da Verra, da Gold Standard etc, e entregar um nível de estruturação compatível com a realidade dos pequenos e médios produtores”, afirma. Hoje, em parceria com a Seteg, a Abundance Brasil segue o protocolo do IPCC para realização da metodologia de mensuração do sequestro de carbono.
Segundo o empreendedor, o compromisso da Abundance Brasil é com a transparência. “Deixamos claro que a floresta não tem um certificado, mas tem um MRV de certo nível”, diz. Fora do Brasil, ele afirma que iniciativas similares têm tido sucesso. Na Holanda, ele cita o exemplo da startup Coorest, que opera com o certificado da Earthood, auditora de carbono credenciada pelas Nações Unidas.
Na Estônia, um case é o da Single Earth, que desenvolveu o que chama de Índice de Integridade do Ecossistema (EII, em inglês) para contabilizar impactos ambientais positivos que vão além do sequestro de carbono. Uma vez contabilizados, esses ativos são convertidos na sua moeda digital chamada Merit.
A visão de Miranda é que, no futuro, a Abundance Brasil possa comercializar créditos de biodiversidade e de outros ativos ambientais, para além das cotas florestais. Tendo o respaldo da segurança da tecnologia blockchain, o empreendedor também vê a possibilidade de os tokens serem interoperáveis entre carteiras digitais.