Em Minas Gerais, um hub de inovação do tamanho do potencial de Uberaba

No Parque Tecnológico uberabense, o Moon Hub by AgTech Garage chega para potencializar conexões e gerar novos negócios

Julho 31, 2023

 

Moon Hub by AgTech Garage, localizado no Parque Tecnológico de Uberaba, Minas Gerais

Por Marina Salles e Fernanda Cavalcante

Com localização privilegiada no mapa do Brasil – a não mais de 500 km da capital paulista, mineira, goiana e nacional –, a cidade de Uberaba (MG) preserva suas raízes históricas ao mesmo tempo em que inova. No coração do Parque Tecnológico do município, um prédio imponente, todo envidraçado, com 3.256 m², 3 andares, 1 auditório, 2 salas de treinamento, 5 salas de reuniões, 20 salas de clientes e capacidade para receber até 450 pessoas, começa a operar como Centro de Inovação. 

Ambiente interno Moon Hub by AgTech Garage em Uberaba, Minas Gerais

Nomeado Moon Hub by AgTech Garage, o hub conta com gestão tripartite público-privada compartilhada pela Prefeitura de Uberaba, a empresa uberabense Ubyfol e o mais relevante hub de inovação do agronegócio na América Latina, o AgTech Garage – parte do network PwC.

Ali, no dia 1 da operação, o hub foi palco do seu primeiro grande evento, que reuniu quase 250 pessoas, entre representantes do setor público, de empresas privadas, startups, instituições de ensino, pesquisa e extensão, além de produtores rurais e investidores. Da porta de entrada do hub, já era possível ver o espaço cheio de vida, ocupado pelos atores que, desde muito antes da fundação do centro, contribuíram para criar e fomentar uma comunidade de inovação em Uberaba.

Evento de celebração do dia 1 das operações do Moon Hub by AgTech Garage

O AgTech Garage se soma a essa comunidade na missão de potencializar conexões e oportunidades de negócios, que se multiplicam também pelo efeito de rede do hub, que já impactou mais de 110 grandes empresas e 1.100 startups desde sua fundação em 2017 em Piracicaba (SP). José Tomé, CEO do AgTech Garage e sócio da PwC Brasil, ressalta que o crescimento desta rede, genuinamente conectada, marca o início da expansão geográfica do AgTech Garage para polos com potencial claro de escalar o alcance, a densidade e o impacto da prática da inovação aberta. 

“Eu já disse isso sobre Piracicaba e digo também sobre Uberaba. Foi a cidade que escolheu o hub, e não o contrário. Esses movimentos acontecem em ecossistemas que já têm sua densidade. Uberaba estava pronta para ter um hub de inovação. Se não fôssemos nós, alguém fundaria um AgTech Garage ali”, diz.

Painel “Conhecendo a Comunidade Uberabense” com a participação do Marcius Marques (Sebrae), João Gilberto Bento (ABCZ), Célio Vieira (Fazu), Robson Resende (Mosaic), Marcell Salgado (E-ctare), Alexandre Guimarães (Biota), e Marina Salles (AgTech Garage) como moderadora

A comunidade uberabense

Conhecida como Capital Mundial do Zebu, Uberaba se tornou referência em tecnologia para a pecuária por alguns motivos. Conforme conta João Gilberto Bento, Superintendente Comercial e de Marketing da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), essa história começa no final do século XIX. “Foi ainda antes de 1900, que os produtores rurais mineiros perceberam que precisariam de animais mais resistentes ao clima quente e seco para produzir mais e melhor. Para solucionar esse problema, foi feita uma expedição saindo da cidade de Lavras e indo até a Índia, de onde eles trouxeram de navio os primeiros zebuínos. Vale dizer que, até hoje, o zebu é a principal raça de gado utilizada na produção brasileira”, afirma.

Já em 1919, iniciaram-se em Uberaba os registros do gado zebuíno, com o objetivo de garantir a procedência dos animais importados. Em 1934, foi fundada a ABCZ, com a missão de promover o melhoramento genético e o registro genealógico das raças do zebu em todo o Brasil. Ao longo dos anos, mais de 12 milhões de animais foram registrados, sendo feitos mais de 600 mil registros por ano. A ABCZ também introduziu tecnologia e inovação na região por meio do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), que acompanha o melhoramento genético de mais de 3.600 rebanhos em todo o país.

Há 88 anos, a ABCZ criou também a ExpoZebu, evento que ocorre anualmente no Parque Fernando Costa, em Uberaba, e atrai mais de 200 mil visitantes por edição. Durante a ExpoZebu, são realizadas palestras, cursos, debates, exposições e leilões. Outro evento relevante promovido pela associação é a Expo Genética, uma feira que apresenta os principais programas de melhoramento genético do país.

O clima tropical atraiu para a região, além de pecuaristas de gado de corte e leite – importante lembrar que a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro foi fundada em Uberaba em 1980 – produtores de soja, milho e cana-de-açúcar, que encontraram um ambiente prolífico para produzir. O terreno fértil também ganhou os cafeicultores do Cerrado Mineiro, que têm feito da região sua marca e elevado ano a ano o reconhecimento da qualidade do seu café especial. 

No Estado onde o café com leite e o pão de queijo são mundialmente famosos, e que ainda sobra potencial para servir no almoço tutu recém saído da panela de barro e carne assada no fogão à lenha, a receita do sucesso não poderia estar em outro lugar a não ser no solo. Num raio de 250 km de Uberaba, estão algumas das principais reservas de rocha fosfática do Brasil. Tapira, Serra do Salitre, Patos de Minas e Araxá retroalimentam as lavouras e o desejo de empresas nacionais e estrangeiras de investirem na produção de fertilizantes a partir do oeste de Minas Gerais.

A Mosaic Fertilizantes é uma dessas empresas. Gigante da produção e comercialização de adubos fosfatados e potássicos, iniciou sua relação com a comunidade uberabense na década de 1970, devido à localização estratégica da cidade. Em 2018, a empresa reforçou a presença local, com a instalação do seu Centro de Inovações em Uberaba. “A Mosaic atua da mina ao campo, uma cadeia muito extensa com diversos desafios, o que abre ótimas oportunidades para a implementação de ações de melhoria, contando com parcerias junto a universidades, startups e hubs de inovação”, destaca Robson Resende, Coordenador de Desempenho Operacional e Relacionamento da Mosaic.

Com uma população de 19 milhões de habitantes, Minas Gerais tem 875 mil empresas (grandes, médias, pequenas e micro), de acordo com estudo da junta comercial do Estado (Jucemg) – o que corresponde a 11% do total no país, estimado em 8 milhões. No Triângulo Mineiro, o número de empresas fica próximo a 92 mil, segundo levantamento realizado em 2022. Em Uberaba, especificamente, o cômputo é de 19.204 empresas. 

Quanto aos microempreendedores individuais do Triângulo Mineiro, contabilizados pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a soma é de 128 mil. “É importante destacar o que atrai essas empresas e não tenho dúvidas de que o ambiente inovador é um dos fatores. Nesse sentido, o Sebrae tem realizado diversas ações e oferecido soluções para fomentar o empreendedorismo e o intraempreendedorismo na região”, diz Marcius Marques Mendes, analista do Sebrae.

O futuro da região é promissor, na visão de Marques, que destaca duas iniciativas em curso, que podem ampliar a atração de investimentos para o polo em franco desenvolvimento. Uma delas, é o projeto de Lei de Incentivo à Inovação de Uberaba e, a outra, o Projeto do Geoparque Uberaba, voltado à valorização do patrimônio histórico-cultural do município – conhecido como capital mundial do Zebu, mas também como o local onde Chico Xavier se revelou ao espiritismo mundial e onde foram encontrados importantes fósseis de dinossauros. 

Em 2008, toda essa tradição aliada à modernidade, foi coroada com a criação oficial do Parque Tecnológico, pela prefeitura de Uberaba, a Embrapa e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). No bairro, da Univerdecidade – onde hoje fica o Moon Hub by AgTech Garage – estão localizadas também uma série de instituições de ensino, essenciais à formação de talentos na região. Entre elas, a Fazu, UFTM, IFTM e UniUbe. 

Do próprio Moon Hub é possível avistar a Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), fundada em 1975 e onde cerca de 750 alunos ingressam todos os anos em seis cursos de graduação centrados no agronegócio. Segundo Célio Vieira, Diretor Executivo da Fazu, não há melhor lugar para a instituição ter decidido se instalar. “ O Parque Tecnológico proporciona a necessária conexão entre o mercado de trabalho e os futuros profissionais do setor. Como uma faculdade nesse polo de inovação, estamos de porteiras abertas para estabelecer novas parcerias com empresas, deixando um legado para a comunidade, onde promovemos pesquisa para a criação de novas tecnologias”, diz. 

Um novo horizonte para as startups

Nesse ecossistema pujante de Minas Gerais, que transcende o agronegócio, o levantamento Scape Report, realizado pelo Sebrae Minas em parceria com a Pipeline Capital, identificou a presença de 870 startups em 2022, distribuídas em 13 categorias. As cinco mais relevantes em número de startups foram: soluções de base tecnológica, voltadas ao digital, apps, software, cloud (141); de marketing (108); finanças (103); agro (85) e educação (76). Especificamente no segmento de agtechs, o Radar AgTech Brasil havia apontado um número um pouco maior de startups (154) no levantamento de 2021/2022. 

As startups E-ctare e Biota são duas delas, com histórias que se cruzam no mundo de oportunidades que é Minas Gerais. Nascido e criado no Estado, o empreendedor Marcell Salgado fez da sua cidade natal, São Sebastião do Paraíso (MG), a sede da E-ctare ainda em 2015. De lá para cá, a startup, que nasceu como um extrato eletrônico de produtores de leite e, naturalmente, também avançou na cultura do café, está a caminho de se tornar uma techfin do agro. Salgado explica que a visão até o fim de 2023 é construir uma plataforma para aproximar originadores e concessores de crédito e, com isso, chegar a uma movimentação financeira de R$ 2 bilhões.

“A E-ctare teve origem no leite e nosso primeiro cliente foi uma cooperativa do Alto Paranaíba, bacia leiteira de extrema importância para o Brasil. Hoje, a gente tem clientes do Rio Grande do Sul a Alagoas, e para expandir nesse mercado nacional sempre precisamos do apoio dos ambientes de inovação. Somos membros do AgTech Garage desde o comecinho e o hub foi um dos palcos em que a gente conseguiu ganhar expressão”, diz o empreendedor mineiro.

Engenheiro agrônomo nascido em Porto Alegre (RS), Alexandre Guimarães percorreu diferentes rotas antes de apostar num dos berços de startups mineiros. Mestre em fitopatologia e especialista em gestão empresarial no agronegócio, começou empreendendo em Porto Alegre, migrou para Piracicaba (SP) e, mais tarde, fincou raízes em Uberaba. 

Em 2017, ele e a sócia Isabel Cristina Padula Paz decidiram se estabelecer na cidade. A Biota atua com produtos biológicos baseados em microrganismos e oferece serviços de consultoria e assessoria técnica em análise de mercado, bioprocessos e bioprodutos. Além disso, faz transferência de tecnologias inovadoras para stakeholders do segmento.

“Quando falamos de inovação, sabemos onde queremos chegar, mas muitas vezes desconhecemos o caminho. Estar em Uberaba, num ecossistema que estende as mãos para os empreendedores, mesmo os de fora, tornou todo esse percurso mais fácil”, diz Guimarães. Para ele, o Moon Hub by AgTech Garage é a peça que faltava ao ecossistema local, vindo para ser uma nova vitrine de soluções, construída com robustez e profissionalismo. “Nesse espaço, as startups terão o ambiente ideal para facilitar o acesso às suas soluções e as empresas poderão buscar novas tecnologias e inovações”, diz. 

Para Salgado, da E-ctare, a arte das startups é a da reinvenção – o que exige certo grau de preparo do meio em que estão inseridas. “No nosso caso, entendemos que o mercado não demandava apenas concessão de crédito, mas sim soluções financeiras e, neste rumo, nossa história continua. Então, é muito claro para mim que a gente precisa do ambiente de inovação para fazer essa roda girar. Porque são as universidades que trazem mão de obra para dentro das nossas empresas, as associações que fomentam o uso de tecnologia, o produtor que aplica essas soluções no campo. No AgTech Garage, todos esses atores estão muito mais perto e abertos a se relacionar, o que abre portas para o desenvolvimento das startups”, diz. 

👉Galeria de fotos: Dia 1 das operações do Moon Hub by AgTech Garage

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Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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