Maio 1, 2023
A Varda foi criada pela Yara, mas conta com operação independente e sede própria na Suíça (Foto: Divulgação)
Por Marina Salles e Fernanda Cavalcante
Fundada pela Yara International – empresa norueguesa líder mundial em nutrição de plantas –, a startup Varda, de tecnologia agrícola sediada na Suíça, está desembarcando no Brasil. E vem com uma solução que se propõe a resolver um problema antigo do agronegócio: a falta de padronização na identificação das áreas de cultivo, que acarreta uma série de complicações ao longo da cadeia.
Em outras palavras, a startup quer criar uma identificação única, como se fosse um RG ou CEP de cada talhão de cada fazenda ao redor do globo. A meta, ambiciosa, permitiria que os diferentes atores da cadeia de produção pudessem associar outros dados a esse registro. A grande sacada é que esse pedaço de terra seria entendido como único no mundo, tendo seu “Global Field ID” pessoal e intransferível.
Deise Dallanora, Líder da iniciativa para o Brasil e América Latina, conta que a Varda nasceu como um negócio independente da Yara depois de conversas para entender a origem da dificuldade do compartilhamento de dados no agro. “Chegamos à conclusão de que os dados na cadeia do agronegócio hoje são muito fragmentados e que seria importante a colaboração do setor para mudar esta realidade”, diz.
Ela argumenta que resolver uma questão complexa como essa não será possível se os players do mercado atuarem sozinhos. “As questões climáticas mostram que não temos muito tempo e que, se cada um trabalhar em seus silos com dados isolados, não vamos resolver esse desafio tão cedo. O que a Varda traz de inovador e diferente é a colaboração e como promovê-la, fornecendo uma infraestrutura básica para permitir o compartilhamento de dados”, diz.
A proposta da Varda é que todos os players do mercado falem a mesma língua, pelo menos para se referir aos talhões das propriedades, com uma comunicação geoespacial comum. No mundo real, isso poderia facilitar a interoperabilidade entre plataformas, rastreabilidade de produtos, acompanhamento do histórico de práticas agrícolas nas propriedades rurais e até o monitoramento de atividades de desmatamento.
No mercado de carbono, outra possibilidade que se abre é a facilitação do controle da emissão de créditos na agricultura, evitando problemas de duplicidade. Além disso, é possível que a infraestrutura comum otimize a digitalização das práticas de manejo no campo e a premiação dos produtores que aderem a práticas sustentáveis.
“Quem vai decidir qual uso dar para a infra básica que criamos são os usuários da cadeia”, ressalta Deise, acrescentando que os dados associados por eles ao ID dos talhões não ficarão visíveis para a Varda. A plataforma já está em uso na França e Reino Unido desde 2022, com cases de uso na área de rastreabilidade de alimentos. No Brasil, a startup informa que está conduzindo um case de uso no mercado de carbono.
Sem entrar em detalhes, Deise antecipa, por fim, que a Varda deve lançar nos próximos meses ferramentas que agreguem valor à experiência dos usuários, e que somem também ao seu modelo de negócios.
O serviço já pode ser acessado pelos diferentes atores do Brasil de forma digital. Para universidades, Deise ressalta que o acesso à ferramenta é gratuito. Já para empresas, das grandes às agtechs, há licenças pagas disponíveis com preços que variam conforme o porte e o uso de dados.
A ideia é atrair a iniciativa pública, privada, Academia, indústrias, startups e também os produtores para perto, gerando valor compartilhado na cadeia do agronegócio. No Brasil, Deise afirma que a Varda está em conversa com centenas de players que demonstraram interesse pela solução. A nível global, foi anunciada em fevereiro uma parceria com o Syngenta Group.
“A Yara já contribui para resolver questões de sustentabilidade e criar um sistema alimentar positivo para a natureza, e agora buscamos com a Varda uma contribuição colaborativa para acelerar esse processo”, afirma Deise.