Julho 12, 2023
Mark Brocks: Estamos Investindo em tecnologias revoluciondrias, que remodalarão o futuro da ogricuitura a possiveimente, até o futuro da próprio FMC. (Foto: FMC Ventures)
Por Marina Salles e Fernanda Cavalcante
A FMC Ventures, braço de capital de risco da FMC Corporation, investe em startups que estão desenvolvendo e aplicando tecnologias emergentes no setor agrícola. Da sua fundação, em 2020, até 2023, o fundo realizou oito investimentos, incluindo a aquisição da agtech BioPhero. As soluções passam por produtos biológicos, agricultura de precisão e financiamento, sempre visando uma agricultura mais lucrativa e sustentável.
Atualmente, a FMC Ventures tem sete investimentos ativos: AgroSpheres (de encapsulamento de produtos biológicos), Micropep (de formulações à base de micropeptídeos para combate a desafios agronômicos), Trace Genomics (de análise e controle de doenças do solo), Guardian Agriculture (de drones para a agricultura), Tartan Sense (de automação de processos manuais usando automação e robótica), Scanit Technologies e Traive (de crédito e compliance sociambiental inteligentes).
Em termos de maturidade, o foco da tese é no estágio pré-seed e seed. Porém, dependendo do tipo de solução, há disposição para investir também em rodadas de Série A e B. O valor dos cheques varia, em média, na faixa de US$ 1 milhão a US$ 3 milhões. O escopo geográfico, por sua vez, é global.
Neste contexto, Mark Brooks, que assumiu a direção da FMC Ventures há um ano, compartilha em entrevista concedida ao AgTech Garage News sua visão sobre o futuro da agricultura e os investimentos na América Latina. Acompanhe:
AgTech Garage News: Mark, poderia nos contar sobre a origem da FMC Ventures e compartilhar o principal objetivo de vocês?
Mark Brooks: Nosso braço de investimentos existe porque acreditamos que a produção agrícola será completamente diferente no futuro, tanto em função dos avanços em produtos biológicos, como em robótica, automação e muitas outras frentes.
Como indústria química, é fato que enfrentamos o desafio do aumento da resistência das pragas aos defensivos. Por isso mesmo, estamos analisando produtos biológicos e tecnologias de agricultura de precisão que podem proporcionar o uso mais sustentável dos nossos produtos ao longo do tempo. Recentemente, investimos em uma startup que utiliza aprendizado de máquina e inteligência artificial para descobrir novos ingredientes ativos, acelerando o processo de identificação de moléculas alternativas.
Também estamos explorando a tecnologia financeira na agricultura, com o objetivo de auxiliar os agricultores a obterem acesso facilitado a crédito, empréstimos e liquidez.
Essas áreas abrangem um amplo espectro e corroboram nosso objetivo de ajudar os agricultores a manterem negócios mais lucrativos e sustentáveis. Vale destacar que nosso interesse não está voltado para investimentos em inovações incrementais. Estamos investindo em tecnologias revolucionárias, que remodelarão o futuro da agricultura e, possivelmente, até o futuro da própria FMC.
AgTech Garage News: Pode dar exemplos de tecnologias investidas no campo dos produtos biológicos?
Brooks: Há pouco tempo, investimos na AgriSpheres, uma startup dos Estados Unidos que desenvolve tecnologias de encapsulamento biodegradável, utilizando ingredientes ativos, incluindo RNA e outros biológicos. Eles estão obtendo um bom desempenho, o que nos mostra um futuro promissor e uma sólida posição de propriedade intelectual.
Além disso, investimos na Micropep, uma empresa francesa especializada na produção de pequenos peptídeos, que podem ser utilizados para regular os genes das plantas, tornando-as mais resilientes ou resistentes a pressões específicas de pragas. Os peptídeos também podem ser usados para controle de ervas daninhas ou insetos.
Esses são os dois investimentos que realizamos até o momento no campo dos produtos biológico. No entanto, estamos constantemente buscando novas oportunidades, pois reconhecemos que os produtos biológicos desempenharão um papel significativo no futuro da nossa empresa e na área de defensivos agrícolas.
AgTech Garage News: A FMC Ventures já investiu em alguma startup da América Latina?
Brooks: Ainda não. Investimos apenas na Traive, que tem sede nos Estados Unidos e grande presença no Brasil. Eles estão solucionando um problema específico da agricultura brasileira. Inclusive, a Traive é um bom exemplo de uma empresa que está reinventando todo o processo de crédito. E uma ótima referência para ilustrar o tipo de tecnologia revolucionária que a FMC Ventures busca.
AgTech Garage News: Em junho, foi divulgado um levantamento realizado pelo AFunder que revela que apenas 5% dos investimentos em agtechs no mundo estão sendo direcionados para a América Latina, apesar do enorme potencial da região na produção de alimentos. Gostaria de saber sua opinião a respeito desse cenário?
Brooks: Tenho algumas teorias sobre o motivo disso ocorrer, embora não tenha a razão exata. Há 10 ou 15 anos, as agtechs não existiam, sendo uma área nova para inovação e, historicamente, com poucos fundos de investimento ou capital de risco com expertise em agricultura.
Acredito que o baixo investimento em agtechs na América Latina ocorre por conta da distância geográfica dos fundos de capital de risco tradicionais, que estão localizados nos EUA, Europa etc. No entanto, essa realidade está mudando com os Corporate Venture Capitals (CVCs) e fundos de investimento focados no agronegócio, como o SP Ventures, no Brasil. Tenho certeza de que o cenário está melhorando e que há um grande espaço para crescimento daqui para frente.
AgTech Garage News: A FMC Ventures tem representantes no Brasil ou em outros países para ter uma interação mais próxima dos empreendedores de diferentes regiões?
Brooks: Ainda não temos, mas no futuro gostaríamos de expandir a presença de nossa equipe global. Enquanto isso, seguiremos buscando parcerias com fundos locais, como a SP Ventures, Barn Investimentos, Glocal e outros semelhantes, para nos fornecer uma visão mais aprofundada do mercado brasileiro e ajudar a orientar nossos investimentos.
Então, a curto prazo, estamos buscando parcerias para investir em agtechs na América Latina. Mas a longo prazo, seria ótimo ter a FMC Ventures presente aqui e em outros lugares do mundo, como a India, por exemplo. Esses locais são estratégicos tanto para a FMC quanto para o setor agrícola, uma vez que nosso objetivo é investir em tecnologias que remodelarão o futuro da agricultura e dos defensivos químicos.
Além disso, gosto de participar de eventos como o World Agri-Tech Summit no Brasil e na América Latina, tanto para conhecer os empreendedores como outros investidores, o que permite expandir minha rede de contatos e entender mais a fundo o desafio de cada lugar.
AgTech Garage News: Quão próxima é sua relação com a área de inovação da FMC no Brasil e em outros países da América Latina?
Brooks: Na FMC Ventures, nos conectamos frequentemente com colegas em diferentes países. Como não somos tão grandes como outras multinacionais do setor, temos mais facilidade em estabelecer conexões com os líderes das unidades de negócios regionais e temos todo o apoio deles nos processos de due dilligence. Além disso, recebemos uma grande quantidade de oportunidades de investimento dos nossos colegas ao redor do mundo. Boa parte delas, das quais já estávamos cientes, mas que reforçam nosso olhar.