Startup catarinense NanoScoping chama a atenção do mercado europeu com linha nanotecnológica

Com uma linha defensivos naturais biodegradáveis, a startup tem crescido de forma mais acelerada na Europa do que no Brasil

Julho 11, 2023

Por Fernanda Cavalcante*

Fundada pelas pesquisadoras doutoras em nanotecnologia Letícia Mazzarino e Beatriz Veleirinho em 2014 e com operação comercial desde 2017, a startup NanoScoping, de Florianópolis (SC), tem avançado por um caminho curioso no agro — crescendo mais rápido na Europa do que no Brasil. Somente este ano, os pedidos dos importadores já somaram quase uma tonelada. Considerando que os insumos nanotecnológicos exigem uma dosagem média de 1 litro por hectare, o volume seria suficiente para tratar cerca de 1 mil hectares.

“A tecnologia tem sido amplamente adotada por produtores de hortaliças europeus, principalmente devido à crescente demanda do mercado consumidor interno por alimentos mais seguros e livres de agroquímicos”, afirma João Alves, Analista de produtos e projetos na NanoScoping.

Os produtos exportados são considerados adjuvantes agrícolas com nanopartículas biodegradáveis, sendo também chamados de defensivos naturais. “Na prática, esses insumos podem ser usados, inclusive, na produção de alimentos orgânicos”, diz Alves. Isso é possível, ele explica, porque os produtos são fabricados à base de óleos vegetais, de plantas como neem, melaleuca, citronela e o orégano apresentando ação antifúngica, antibacteriana e repelente para doenças e pragas encontradas nas lavouras. Os produtos da marca levam o selo Ecocert, referência em rotulagem orgânica e ecológica.

Na cultura do tomate, por exemplo, as aplicações de um produto batizado de Nano Agro Total ajudaram a reduzir em até 80% a gravidade do ataque de manchas bacterianas na comparação com áreas que não receberam qualquer tratamento. Os produtos pertencentes à linha Nano Agro, segundo Alves, têm também ação espalhante, adesiva e emulsificante que, devido à presença de compostos ativos de origem vegetal nanoencapsulados, potencializam os resultados no campo.

Os produtos que chegam à Europa são distribuídos a partir de um parceiro da agtech na Lituânia. Dali, são enviados a outros países, de que Alves sequer tem notícia. “Um diferencial, que chama a atenção no exterior, é o fato de nossa produção ser baseada em ingredientes biodegradáveis, em tecnologia verde. Ou seja, ela não gera poluentes nem resíduos”, afirma.

Do ponto de vista científico, a produção das nanocápsulas utiliza processos químicos e físicos de diluição de moléculas até atingir a dimensão de 200 a 400 nanômetros. A quantidade de produto em contato com o ambiente, nesse caso, é mínima e outra vantagem da tecnologia é a produção de compostos altamente estáveis e menos voláteis do que formulações convencionais.

Linha verde

De acordo com Alves, o aspecto que diferencia os produtos da NanoScoping de outros formulados com óleos essenciais, é a tecnologia de nanoencapsulamento, que proporciona dois efeitos principais. Primeiro, o efeito espalhante adesivo, capaz de melhorar a aderência e a cobertura do produto nas plantas. Segundo, o efeito emulsionante, que provê maior estabilidade aos óleos, prevenindo a separação ou sedimentação dos componentes.

Utilizando quatro óleos encapsulados (de neem, melaleuca, citronela e orégano), a NanoScoping desenvolveu três produtos. O Nano Agro Total (mix de óleos potencializador antifúngico, antibacteriano e repelente); Nano Agro Neem (potencializador inseticida) e Nano Agro Crop (potencializador fungicida e bactericida). Os produtos da startup podem ser aplicados de forma independente ou em conjunto com outros produtos químicos.

Parcerias de co-desenvolvimento

Além de soluções de prateleira, a NanoScoping conta também com uma área dedicada ao desenvolvimento e co-desenvolvimento com outras empresas, para apoiar a incorporação da nanotecnologia ao portfólio de terceiros. Nesses projetos, além de ampliar o alcance dos benefícios da nanotecnologia, a NanoScoping também trabalha com a possibilidade de desenvolver diferentes gatilhos de liberação dos produtos.

“Por exemplo, se uma empresa tem um ativo incompatível com a calda bordalesa, que é uma mistura comumente utilizada por produtores de orgânicos, conseguimos nanoestruturar e proteger esse ativo para que seja liberado somente quando estiver em contato com a planta”, diz Alves. Os gatilhos podem ser adaptados de acordo com as necessidades de cada cliente, alguns exemplos são a presença ou ausência de ácidos e bases, estímulos mecânicos ou resposta ao pH do ambiente.

*Com edição de Marina Salles

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Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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