Novembro 24, 2023
Por Fernanda Cavalcante*
Num cenário de mudancas constantes, a inovação se tornou um mecanismo vital para estimular o crescimento e a sustentabilidade das empresas. Mas, se de um lado elas têm a certeza de que é preciso inovar, de outro, pairam muitas dúvidas sobre qual veículo de inovação escolher para alimentar sua esteira de projetos.
Faço um hackathon ou abro uma chamada de startups para solucionar determinado desafio? Ou será que valeria mais a pena resolver internamente com um programa de intraempreendedorismo?
Talvez, melhor investir no longo prazo e montar um programa de inovação? Ou, pelo risco de abrir meu desafio para a concorrência, será que a opção ideal é um scouting (busca fechada por tecnologias)?
Não existe uma resposta certa para essas perguntas, mas sim a ferramenta certa mais adequada para cada objetivo. É o que afirmam os especialistas do AgTech Garage - parte do network PwC, que participaram do podcast que inspira este artigo. Assista/ouça na íntegra:
No meio do oceano azul de oportunidades no agro, muitas empresas consideram que o grande desafio está em escolher o veículo de inovação que vai, de fato, ajudá-las a navegar na direção e velocidade necessárias para transformar seu negócio. O ponto é que, uma vez no mar, a escolha pela bússola, lupa ou GPS deveria se pautar em outro porém: onde a companhia pretender chegar e de que forma. Porque entendendo se o ponto final da viagem é o continente ou uma ilha, e se o caminho precisa ser o mais rápido, seguro ou barato, fica clara a opção de ferramenta mais indicada para se usar.
Trocando em miúdos, um "veículo de inovação é a ferramenta ou abordagem que as empresas utilizam para implementar processos de inovação. Isso inclui desde o desenvolvimento interno na área de P&D até iniciativas que promovem a inovação aberta - como os desafios de startups, cooperação com a Academia, scoutings etc, em que a busca por soluções para um problema se dá fora dos muros da organização.
Para quem está buscando a resposta há tempos, os especialistas lamentam dizer que "depende". Depende da estratégia organizacional e dos resultados que se espera dos projetos de inovação. Porque quando falta clareza sobre esses dois pontos, a inovacão pode cair no vazio da atividade isolada, o que tende a desmotivar as equipes a bordo e pode levar o navio da empresa na direção errada.
Para garantir o alinhamento entre a estratégia da empresa e os projetos de inovação, é crucial avaliar metas e objetivos em diferentes horizontes de tempo, abrangendo o curto, médio e longo prazos. A metodologia dos horizontes de inovação, que divide os projetos em três grupos, auxilia nessa iornada.
H1: O primeiro horizonte concentra-se na otimização dos processos e produtos existentes, buscando melhorias contínuas e eficiência operacional. Geralmente, demanda menos esforço imediato e também tem um impacto financeiro menor.
H2: O segundo horizonte foca na exploração de oportunidades em mercados adjacentes, em que a empresa pode expandir a oferta dos seus produtos e serviços.
H3: O terceiro horizonte é dedicado à inovação disruptiva em novos mercados e envolve a criação de produtos ou serviços inteiramente novos, além de revolucionários. Embora o terceiro horizonte exija mais tempo de maturação, produtos criados nesse contexto podem gerar impacto financeiro significativo no longo prazo.
Com o horizonte para o projeto bem definido, a empresa está pronta para avançar mais uma casa e determinar o orçamento, pessoal e tempo dedicados à atividade.
Só agora chegou o momento de olhar para os veículos de inovação, ou para o nosso canivete suíço, e entender qual das ferramentas é a mais adequada para cada tipo de desafio. Vamos explorar algumas dessas ferramentas:
Chamada Aberta: Nessa abordagem, a organização convida atores externos (como startups, pesquisadores e universidades) para apresentar propostas que enderecem seus desafios. As ideias selecionadas avançam para etapas de aprofundamento, validação e execução. Essa ferramenta ajuda a resolver problemas que a organização não poderia enfrentar sozinha, promovendo soluções conjuntas e também auxiliando na detecção de tendências de mercado ou novas tecnologias.
Scouting: Prática adotada por organizações que buscam solucionar desafios estratégicos de negócios sem divulgação pública. Nesse processo, a empresa realiza uma pesquisa detalhada para identificar tecnologias que possam atender sua necessidade. Essa abordagem é comumente empregada para estabelecer parcerias estratégicas, monitorar tendências de mercado, identificar atores com ideias inovadoras e avaliar oportunidades de investimento ou aquisição de startups.
Hackathons: Eventos de curta duração, de até um dia ou dois, nos quais equipes multidisciplinares se reúnem para desenvolver soluções inovadoras para um problema específico, normalmente proposto pelos organizadores do hackathon. Essa ferramenta pode ser usada para diversas finalidades, como fomentar o intraempreendedorismo, estimular colaboração entre diversas partes interessadas, alcançar soluções rapidamente, promover diversidade de ideias sobre um mesmo desafio e facilitar o networking.
Programa Multi Stakeholders: Iniciativa que reúne diversos atores do ecossistema, como empresas, startups, investidores, mentores, pesquisadores e outros participantes, com o propósito de abordar um desafio complexo por meio de discussões e colaboração conjunta.
Um exemplo notável é o case do Programa Soja Sustentável do Cerrado (PSSC), promovido pelo Land Innovation Fund (LIF) em parceria com o AgTech Garage e que tem apoio da Cargill, CPQD, Embrapa e Embrapii. O programa nasceu com a meta ambiciosa, de fomentar o empreendedorismo e a inovação em prol da produção de soja livre de desmatamento. O programa, muito robusto, tem diversas etapas de execucão e envolve diversos atores, incluindo produtores rurais, empreendedores, pesquisadores e empresas.
CVC (Corporate Venture Capital): Modalidade de fundo de investimento criado pelas empresas com o objetivo de obter benefícios estratégicos, como acesso a novas tecnologias, mercados e inovação. Os CVC são utilizados para impulsionar a inovacão dentro das corporações e se caracteriza por aportes minoritários em startups, tanto em estágios iniciais quanto mais avancados dos negócios.
M&A (Mergers and Acquisitions): Processo no qual as empresas adquirem ou se fundem a outras empresas, sendo um estratégia de crescimento para expandir as operações, ganhar acesso a novos mercados, tecnologias, produtos ou recursos.
Hub de inovação: Os hubs, assim como o AgTech Garage, são catalisadores da inovação e permitem às corporações aproveitar ao máximo o kit de ferramentas que dão suporte à realização dos seus projetos. Por meio de metodologias estruturadas e consultoria profissional, o hub também operacionaliza o uso dessas múltiplas ferramentas e capacita os times internos das empresas, para que obtenham os melhores resultados. E funciona, ainda, como ponto de encontro para troca de experiências e conhecimentos entre diferentes stakeholders.
Além dos veículos de inovação citados acima, vale dizer que existem outras abordagens - como as plataformas online, que dão acesso a soluções inovadoras de startups, bem como os centros de pesquisa e desenvolvimento, onde especialistas da própria organização trabalham na criação de novas tecnologias e produtos.
Seja como for, lembre-se: somente com projetos alinhados à estratégia é que os veículos de inovação são capazes de guiar as empresas em direção aos seus objetivos, para que tenham mais chances de chegar em terra firme (e fértil).