Janeiro 13, 2025
Tainan Lamas e Rafael Vivian recebem prêmio do 100 Open Startups 2024 na categoria cadeia agroalimentar (Crédito: Arquivo pessoal)
Por Barbara Lemes*
Muitas histórias de sucesso são marcadas por desafios, superação e reviravoltas. Com Tainan Lamas, fundador da startup Mastera, não foi diferente. Da fase de professor de natação, passando por produtor de tomates até fundar a Mastera, o empreendedor enfrentou uma série de idas e vindas. Hoje, com o rumo dos negócios mais bem definido, Lamas e os sócios fundadores – Rafael Vivian, Sarah Almachar e Leonardo Saraiva, além de Thaís Chericoni – têm levado sua startup a um novo patamar.
A Mastera fomenta soluções de ponta no agronegócio, graças à ponte entre a startup e empresas de base científica, atuando em diferentes segmentos. Com a visão estratégica de atender novos desafios e demandas futuras do mercado, investiga soluções, prioritariamente, nas áreas de: agricultura digital preditiva, adaptação aos efeitos climáticos, ampliação do uso de bioinsumos, novas ferramentas biotecnológicas para a agricultura e nanotecnologia, tanto para sanidade como segurança alimentar e nutricional.
Formado em Educação Física em Joinville (SC), Tainan Lamas conquistou cedo na carreira a oportunidade de treinar atletas profissionais da natação. Depois de uma temporada bem-sucedida à frente do time de elite local, vencedor de mais de 10 medalhas em diferentes competições, foi participar de um “training camp” de nadadores nos Estados Unidos.
Formado em Educação Física, Tainan atuou como treinador de natação no Brasil e nos Estados Unidos (Crédito: Arquivo pessoal)
Em 2009, de volta ao Brasil, ele teve dificuldades de se recolocar no mercado do esporte. Na cidade onde sua mãe foi criada, Goiânia (GO), a única oportunidade que surgiu foi de dar aulas de natação para crianças, o que o fazia se sentir dando braçadas para trás.
"Mas, se tem algo que o esporte ensina, é a resiliência”, diz Lamas, que na época começava a considerar um futuro longe das piscinas. Ele lembra que, certa vez, enquanto lia uma reportagem da Forbes – uma das principais revistas de negócios do mundo – percebeu que seus objetivos pessoais e profissionais haviam mudado e traçou uma nova meta.
A reportagem dizia que, entre 10 CEOs de sucesso nos Estados Unidos, oito haviam sido, ao menos, atletas universitários. Aquilo reforçou as semelhanças que ele já via entre a trajetória esportiva e o mundo dos negócios. “Como treinador, aprendi muito no meu dia a dia fazendo uma correlação direta entre negócios e treinos. Quando treinamos atletas, pensamos a longo prazo, como num ciclo olímpico, com uma ou duas grandes competições por ano. Da mesma forma, é a disciplina que faz o sucesso do empreendedor.”
O agronegócio, afinal, nem era um campo tão novo para Lamas, que sempre teve um pé no Sul do Brasil e outro no Centro-Oeste por conta da família, e a possibilidade de trabalhar no setor acabou vindo na hora certa. Em 2009, o tio tinha decidido experimentar plantar uma nova cultura e convidou o sobrinho para fazer parte do seu projeto de produção de tomates do tipo grape.
“Iniciamos com algumas estufas em Goiânia e, com o tempo, fomos crescendo até nos tornarmos um dos principais produtores de tomates da região, atendendo 14 Estados brasileiros”, afirma Lamas. Já em 2010, a demanda dos clientes cresceu e fez com que eles chegassem a contar com uma rede de 28 produtores parceiros, responsáveis por quase 200 estufas. Para embalar a produção, a empresa investiu em um parque industrial moderno, com máquinas importadas da Itália, e chegaram a ganhar prêmios de fornecedores.
E, assim, naquele ano, de Copa do Mundo, a certeza da virada de chave do esporte para o agro foi ficando mais real. “Enquanto todos assistiam aos jogos, eu estava cuidando dos tomates. E foi trabalhando nas estufas e carregando caminhões para os Ceasas, que construí e, depois aprofundei, minha base no setor”, relembra. Apesar do sucesso dos primeiros anos, a sociedade familiar acabou não prosperando e Lamas foi buscar outros desafios.
O agro expandiu seu olhar para outros negócios e, depois de ter sido “picado pelo bichinho do empreendedorismo”, ele entrou para o mundo das startups.“Na prática, eu me tornei investor builder, me envolvendo diretamente na construção de empresas de base tecnológica, de startups”, diz. Em troca do seu tempo e do seu trabalho, conquistava, então, equity, isto é, participação nas empresas. “Porque, na época, eu não tinha orçamento para ser investidor anjo, mas tinha a expertise necessária para desenvolver negócios do zero”, explica.
Durante um ano e meio, o empreendedor-investidor analisou quase 50 pitches e identificou duas grandes oportunidades de apostar suas fichas. Foram elas as startups: Membran-i, para a qual entrou em maio de 2018, e a Evlos4U, da qual se tornou sócio em fevereiro de 2019. Ambas existem até hoje.
A Membran-i, em joint-venture com a Techsocial, se consolidou como plataforma de IA voltada a compras e supply chain, tendo como missão ajudar os clientes a negociarem melhores condições de pagamento. Enquanto a Evlos4U desenvolve sistemas financeiros para bancos, corretoras e grandes corporações.
No início de 2020, mais de uma década depois de deixar as piscinas, Lamas já contava com uma rede de contatos e visão multimercado sólidas o suficiente para voltar a pensar em empreender – olhando de novo para o agronegócio.
“Para evitar os erros que cometi no passado, convidei para se juntarem a mim pessoas que tinham as competências complementares e necessárias para construir o novo negócio”. Sarah Almachar, fundadora da Evlos4U, entrou com a visão financeira e Leonardo Saraiva, que havia prestado serviço para a mesma startup, integrou a equipe com a perspectiva jurídica. O quarteto, com o agrônomo Rafael Vivian, fechava lá atrás a escalação, hoje composta também pela engenheira Thaís Chericoni, quinto elemento na formação.
A consolidação da ideia por trás da Mastera veio justamente do contato com Vivian – cérebro da operação no agro, segundo Lamas. “A Mastera é a concretização de várias ideias que tive quando era produtor e não tinha acesso à tecnologia, mas ficou por algum tempo no papel porque me faltava vivência em pesquisa científica – coisa que o Vivian tem de sobra. Hoje, nosso trabalho é diferenciar invenção de inovação, levando pesquisas ao mercado de maneira eficiente e prática”, explica.
Lamas e Vivian no Cultivar Summit 2023, em St. Louis, EUA. Evento reuniu startups e investidores da América Latina (Crédito: Arquivo pessoal)
Desde a fundação, a Mastera já passou por três pivotagens e segue em constante evolução, a fim de atender às necessidades de grandes empresas do setor agroindustrial e facilitar o acesso a novas tecnologias. Um dos caminhos para essa facilitação foi a assinatura de um convênio com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em meados de 2020. De acordo com Lamas, esse tipo de acordo acelera o desenvolvimento tecnológico e a transferência de tecnologia ao mercado.
Fazendo a ponte entre o mercado e a Academia, a Mastera funciona como uma espécie de radar de soluções, além de se ocupar da gestão profissional de projetos inovadores. Na frente de gestão, a startup oferece tanto a possibilidade de encontrar e desenvolver produtos estratégicos como de entrar como parceira e sócia de diferentes iniciativas. No mundo veloz da inovação, a startup busca dar celeridade aos processos sem abrir mão do rigor da ciência.
Esportista e treinador por vocação, Tainan Lamas afirma que nunca abriu mão, ele mesmo, da resiliência, e que no mundo dos negócios desenvolveu ainda mais outro trunfo do esporte: o espírito de equipe. “Tudo que eu passei me preparou para chegar nesse momento e construir algo grande ao lado dos meus sócios. Eles, que são mais do que parceiros de negócios, me ensinaram o valor do debate de ideias e de construir uma visão conjunta para os nossos projetos. Assim como a jornada dos atletas profissionais, nossa missão é de longo prazo, com a ciência e com a Mastera”.
*Colaboraram Marina Salles e Fernanda Cavalcante