Março 11, 2024
Por Fernanda Cavalcante*
Idealizada pelos pesquisadores-doutores em células-tronco Vanessa Capuano e Diógenes Maronezzi em 2017, e com operações comerciais desde 2021, a startup AnimalCell de Uberaba (MG) utiliza células-tronco em tratamentos terapêuticos de animais domésticos, e está expandindo para novas aplicações.
No agronegócio, o potencial de aumentar a quantidade e qualidade de embriões de bovinos e equinos na reprodução assistida já desperta o interesse de associações de raça.
Maronezzi, fundador da AnimalCell e doutor pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), explica que as células-tronco contribuem para melhorar a fertilidade de vacas que passaram por sucessivos procedimentos de aspiração folicular. Hoje, o Brasil é líder mundial na produção de embriões a partir da técnica de fecundação in vitro (FIV).
Atualmente, a startup está em contato com associações de raça para pôr em prática esse benefício. O objetivo é gerar valor para a cadeia do agro e diversificar a receita da AnimalCell, hoje 100% centrada no segmento pet.
Para os tutores de animais de companhia, a terapia regenerativa é uma alternativa a cirurgias e internações e tende a reduzir custos com medicamentos, associados a esses tratamentos.
O diferencial da terapia regenerativa está na capacidade da célula-tronco se multiplicar. “Quando essa célula entra em contato com o paciente, dependendo do estímulo que recebe, ela se diferencia e ajuda na recuperação do tecido lesionado”, diz Vanessa, pós-doutoranda em ciências fisiológicas e doutora em patologia clínica da UFTM.
Há quase 20 anos, ela e Maronezzi iniciaram seus estudos sobre o tema na UFTM, mas foi há apenas sete anos que eles tiveram a ideia de juntar os conhecimentos obtidos nas pesquisas para entregar os benefícios das células-tronco para a sociedade. Nos três primeiros anos, a deep tech focou os esforços no financiamento do negócio e desenvolvimento da patente de produção da solução.
O protocolo desenvolvido para a produção das células-tronco conta com algumas etapas, sendo a primeira a de seleção de um doador de tecido que tem o material coletado durante uma cirurgia simples, como no caso da castração em cachorros e gatos. O animal escolhido precisa cumprir os critérios de: ser jovem, sadio e da mesma espécie que o paciente.
Após a coleta, a amostra passa por procedimentos laboratoriais minuciosos, de identificação e separação das células-tronco. Em seguida, o material é incubado em condições adequadas para as células se multiplicarem sem se diferenciarem. Ao final desse processo, a solução está pronta para uso.
A dose e a concentração aplicada no animal variam de acordo com o caso clínico, sendo o tratamento personalizado para cada situação. A aplicação pode ser realizada pelo médico veterinário responsável, com o auxílio da AnimalCell ou por um profissional indicado pela empresa. Atualmente, a deep tech conta com uma rede de 60 veterinários capacitados e 20 clínicas parceiras.
O principal diferencial do produto da AnimalCell, em comparação com concorrentes, é a dispensa do congelamento. “Já conduzimos testes que nos mostraram que o congelamento reduz a qualidade e a quantidade de células-tronco. Como nosso produto não passa por esse processo, ele deve ser aplicado em até 48 horas após a fabricação”, diz Maroneze.
Após mais de 200 tratamentos bem-sucedidos com animais de companhia, a startups planeja seu crescimento. Nesse sentido, um dos desafios está em comunicar as vantagens da terapia para a sociedade, criar novas conexões no mercado e encontrar profissionais capacitados para atuação nessa frente.
A presença da AnimalCell no Moon Hub, centro de inovação localizado no Parque Tecnológico de Uberaba (MG), que integra a rede do PwC Agtech Innovation, reforça esses objetivos.
“Mesmo que o tema atraia o interesse das pessoas, não é uma técnica amplamente conhecida e não temos tantos médicos veterinários capacitados”, diz Maronezzi. Além disso, a deep tech também está em contato com universidades parceiras, para apoiar a formação de novos médicos veterinários especializados em células-tronco.