Junho 12, 2025
Por Fernanda Cavalcante
No agronegócio, os desafios não terminam com a colheita. A etapa seguinte — que abrange o armazenamento, o transporte e a chegada dos produtos ao consumidor — ainda enfrenta entraves estruturais que comprometem a eficiência do setor. Problemas como infraestrutura limitada, presença excessiva de intermediários e baixo nível de digitalização dificultam a geração de valor e contribuem para perdas significativas, especialmente entre pequenos e médios produtores.
Diante desse cenário, empresas e cooperativas têm buscado na inovação uma forma de modernizar processos e ampliar sua eficiência. Para entender como essas organizações estão estruturando suas estratégias, o estudo “Termômetro da inovação aberta no agro”, conduzido pelo PwC Agtech Innovation, analisou o nível de maturidade da prática de inovação em 86 organizações do setor. A pesquisa avaliou a adoção de tecnologias em três momentos da cadeia produtiva — antes, dentro e depois da porteira — e mapeou os principais focos de investimento em cada etapa.
Segundo o levantamento, as cinco áreas prioritárias de investimento tecnológico no “depois da porteira” são:
Armazenamento, infraestrutura e logística (59%);
Indústria 4.0 (52%);
Marketplaces e e-commerce (42%);
Soluções voltadas à experiência do cliente (42%);
Segurança alimentar com foco na redução de desperdícios (35%).
Os dados indicam que as organizações estão ampliando o uso de tecnologias para além da produção, com atenção à rastreabilidade, digitalização da comercialização e aproximação com o consumidor. Esse movimento reflete uma tentativa de integrar os diferentes elos da cadeia por meio de estratégias que consideram sustentabilidade, eficiência e novos formatos de negócio.
Entre os temas mapeados, a logística se destaca como prioridade de investimento. A dependência do transporte rodoviário, aliada à precariedade da infraestrutura em diversas regiões, compromete a previsibilidade e eleva os custos de escoamento da produção. Em um cenário de supersafras recorrentes, a capacidade de armazenagem também tem se mostrado insuficiente, forçando produtores a estocar parte da colheita de forma inadequada – o que gera perdas significativas e impacta diretamente a rentabilidade.
Para superar esses desafios, soluções tecnológicas focadas na gestão logística e na integração dos diferentes elos da cadeia têm ganhado destaque. Startups do setor agro estão desenvolvendo ferramentas que combinam automação, inteligência de dados e monitoramento em tempo real, promovendo maior eficiência e conectividade. Entre os exemplos de soluções disponíveis no mercado estão:
Cometrix: solução para gestão de operações de importação e exportação, que automatiza processos e centraliza dados, reduzindo custos e riscos operacionais.
Goflux: sistema SaaS que conecta embarcadores a transportadoras e operadores logísticos, promovendo mais transparência e agilidade na cotação e contratação de fretes.
Implanta IT: plataforma baseada em inteligência artificial que integra agentes da cadeia produtiva, garantindo o produto certo, na quantidade certa, nos locais certos – e por preços mais justos.
Apesar das particularidades de cada cadeia produtiva — que impõem desafios específicos à adoção da rastreabilidade no agro, seja na produção, no beneficiamento ou no escoamento — garantir visibilidade sobre o caminho percorrido pelo alimento, da fazenda até o consumidor, tornou-se uma exigência crescente.
A rastreabilidade deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma exigência de mercado, especialmente nos mercados internacionais, que elevam os padrões de segurança alimentar, conformidade sanitária e responsabilidade socioambiental.
Por isso, adaptar processos logísticos e de monitoramento para oferecer visibilidade ponta a ponta é fundamental para conquistar novos mercados e aumentar o valor percebido da produção. Nesse contexto, soluções tecnológicas vêm sendo aplicadas de forma crescente. Entre elas:
Safe Trace: rastreia toda a cadeia de alimentos, do campo ao consumidor, integrando dados dos diferentes elos. Garante transparência sobre o cumprimento de normas socioambientais e sanitárias, atendendo às exigências de mercados mais rigorosos.
AgTrace: conecta todos os participantes da cadeia produtiva por meio de uma solução em blockchain. Oferece rastreabilidade em tempo real, com dados seguros e auditáveis, aumentando a eficiência, reduzindo riscos e fortalecendo a confiança do consumidor.
A transformação digital da comercialização está mudando a forma como os produtores acessam o mercado. Plataformas digitais vêm reduzindo a dependência de intermediários, encurtando distâncias e trazendo mais agilidade, transparência e controle às negociações. Esse movimento também melhora a experiência de quem está no dia a dia do campo, que passa a contar com ferramentas mais modernas para vender sua produção e planejar sua estratégia comercial.
Entre as soluções em destaque estão os marketplaces e plataformas de e-commerce agrícola, que permitem ao produtor negociar diretamente com compradores — sejam eles cooperativas, indústrias ou varejistas. Além de ampliar o acesso a diferentes canais de venda, essas ferramentas facilitam a comparação de preços, condições de pagamento e prazos de entrega.
Outro avanço importante é a tokenização de ativos. Ao transformar grãos, propriedades ou insumos em ativos digitais, essas soluções abrem novas possibilidades de crédito, liquidez e investimento — especialmente para produtores que enfrentam barreiras no acesso ao financiamento tradicional.
Duas startups que se destacam nesse cenário são:
Grão Direto: conecta produtores rurais e compradores de grãos em uma plataforma digital que já movimenta grandes volumes no mercado físico. A solução traz eficiência e segurança para os contratos, além de facilitar o planejamento comercial com base em dados e previsibilidade.
Justoken: utiliza infraestrutura blockchain para digitalizar ativos físicos, como grãos, transformando-os em tokens que podem ser usados como garantia em operações de crédito, pagamento ou financiamento. A plataforma combina rastreabilidade, segurança e flexibilidade em um ecossistema pensado para o agronegócio.
A transformação da cadeia do agronegócio é um processo contínuo. A adoção de tecnologias, a digitalização avançada, o fortalecimento da infraestrutura e o uso estratégico de dados estão construindo as bases para um setor mais competitivo, resiliente e preparado para os desafios do mercado global.
Mais do que incorporar novas ferramentas, trata-se de uma verdadeira mudança de mentalidade. A inovação, a colaboração entre os diversos elos da cadeia e uma gestão cada vez mais qualificada passam a ser elementos centrais para gerar valor de forma sustentável.
Para acessar todos os dados da pesquisa, baixe o relatório completo abaixo.