Tecnologias para solo e bioinsumos impulsionam a sustentabilidade no Cerrado

Conheça quatro startups que transformaram desafios em soluções durante o Programa Soja Sustentável do Cerrado (PSSC)

Junho 24, 2025

Por Tiago Milani

Saúde do solo, uso eficiente de bioinsumos e estratégias para descarbonização têm ganhado destaque nas discussões sobre o futuro do agro. A busca por práticas que regenerem os sistemas produtivos vem abrindo espaço para soluções baseadas em ciência e dados. Nesse cenário, o Programa Soja Sustentável do Cerrado (PSSC) se destaca por conectar inovação tecnológica às necessidades reais do campo.

Mais do que um espaço de experimentação, o programa proporcionou um ambiente fértil para a aplicação prática de soluções. Startups voltadas à biotecnologia e ao manejo regenerativo alcançaram resultados em campo, demonstrando o potencial das tecnologias. 

Essa aplicação prática foi acompanhada por um esforço colaborativo para adaptar as tecnologias à realidade do campo, permitindo ajustes contínuos das soluções diante dos desafios encontrados. O suporte do PSSC foi importante nesse processo, ao oferecer orientação técnica, facilitar conexões estratégicas e fomentar um ambiente colaborativo — garantindo maior alinhamento com as demandas específicas dos produtores.

“O programa conectou produtores, pesquisadores, especialistas, empresas e investidores, criando condições para que os empreendedores tivessem acesso a múltiplas expertises para desenvolver, testar e escalar suas soluções. Essa abordagem multistakeholder foi essencial para garantir que as inovações estivessem alinhadas às demandas reais do campo, ao mesmo tempo em que promovia a colaboração entre diferentes elos da cadeia do agro”, explica Dirceu Ferreira Júnior, COO do PwC Agtech Innovation e sócio da PwC.

O PSSC foi resultado da parceria entre o PwC Agtech Innovation e o Land Innovation Fund, com apoio estratégico da Cargill, CPQD, Embrapa e Embrapii. O programa teve como objetivo fomentar soluções que contribuíssem para a sustentabilidade da produção agrícola no Cerrado — um dos biomas mais ricos em biodiversidade e, ao mesmo tempo, mais pressionados pela expansão da fronteira agrícola no Brasil.

A seguir, conheça algumas das 34 startups que participaram da iniciativa e os aprendizados gerados ao longo dessa jornada.

BioUs:

A BioUs, deep tech de bioeconomia circular que transforma resíduos orgânicos agroindustriais em bioprodutos, como biofertilizantes e plásticos biodegradáveis. No PSSC, seu objetivo foi validar biofábricas OnFarm como solução sustentável para transformar matéria orgânica diretamente no campo.

A startup implantou uma biofábrica em parceria com a COOPAQ e a Cachaçaria DUZÉ, utilizando recursos provenientes da aquicultura e da cana-de-açúcar. Os testes resultaram na mitigação de aproximadamente 22 toneladas de CO₂ equivalente, com o tratamento de 80 toneladas de material orgânico. Em soja e milho, os ganhos foram expressivos: aumento de 8% na produtividade da soja, 12% na germinação e maior nodulação. No solo, houve aumento de 35% na biomassa microbiana e redução de até 40% de fitopatógenos.

Segundo o CEO Raimundo Silva Jr, “A solução se mostra viável técnica e economicamente, com alto potencial de descarbonização, redução de insumos químicos e regeneração dos solos agrícolas”. Parcerias com instituições como Cyan, ByMyCell, Associação Rendalli e BMV Global foram fundamentais para validações técnicas e análises laboratoriais.

Agora, a BioUs se prepara para escalar sua tecnologia, expandir para novos mercados e consolidar sua atuação como agente de descarbonização e regeneração do agro.

Biotecland:

A Biotecland, desenvolvedora de soluções agrícolas sustentáveis com base em microalgas, participou do PSSC com o objetivo de validar o uso do bioinsumo à base de algas Primafert em áreas de soja sob manejo sustentável. A proposta era demonstrar como a tecnologia poderia contribuir para regenerar o solo e aumentar a produtividade de forma prática e escalável.

Durante o programa, a solução foi aplicada em 12 fazendas do Cerrado, totalizando cerca de 600 hectares. As análises, conduzidas com apoio de parceiros como Laborsolo, ByMyCell e Agrovisio, avaliaram desde parâmetros químicos e físicos até a diversidade microbiana do solo.

Os resultados indicaram impactos positivos em múltiplas frentes: 82% das áreas apresentaram aumento de produtividade, e em um quarto dos casos, os ganhos superaram 7 sacas por hectare. Além disso, o Primafert demonstrou um retorno financeiro relevante, com ROI de 309% e retorno médio de R$ 360 por hectare.

“O Programa Soja Sustentável do Cerrado marcou um ponto decisivo na nossa trajetória. Ele nos permitiu avançar significativamente no entendimento de como nossa tecnologia contribui para a regeneração dos solos”, afirma Dágon Ribeiro, CEO da Biotecland. Com base nesses avanços, a empresa se prepara para ampliar o uso do Primafert em novas culturas e regiões, desenvolver novas cepas de microalgas e fortalecer parcerias em pesquisa e desenvolvimento.

B4A: 

A B4A, startup especializada em análises de biodiversidade do solo, com foco na aplicação da metagenômica para mapear fungos e bactérias em ambientes agrícolas. No PSSC, teve como objetivo desenvolver e validar o índice de saúde microbiológica do solo para apoiar práticas regenerativas no Cerrado.

Durante o programa, a startup analisou solos com diferentes níveis de degradação e, com base em estatística multivariada, classificou-os em três grupos (A, B e C), representando distintos níveis de equilíbrio microbiano. O índice foi integrado à plataforma da B4A e passou a orientar recomendações de bioinsumos, plantas de cobertura e práticas regenerativas.

A iniciativa também impulsionou parcerias com APagri, LandPrint e Sintropica, viabilizando estudos de campo e integração com indicadores de qualidade do solo. A expectativa é que, com a validação técnica, os dados possam ser usados para acesso a créditos ambientais vinculados à saúde do solo.

“O nosso índice de saúde microbiana do solo, desenvolvido no PSSC, já está sendo aplicado em todas as análises que realizamos, e já contamos com um plano de expansão de alcance a partir dos insights derivados do programa”, afirma Robert Cardoso, Diretor de Tecnologia da B4A. A startup agora mira a expansão do índice para toda a América Latina, incorporando inteligência artificial, imagens de satélite e dados climáticos.

ByMyCell:

A ByMyCell, startup de biotecnologia especializada em genômica aplicada ao solo. No PSSC, seu objetivo foi avaliar a microbiota presente em áreas de cultivo de soja para orientar manejos mais eficientes e promover a saúde do solo. 

Durante o programa, a startup conduziu um mapeamento microbiológico em diferentes fases do ciclo produtivo, desde o pré-plantio até a colheita, além de áreas de mata nativa e restauração. As análises integraram dados físico-químicos, diversidade microbiana e atividade biológica, cruzados com informações históricas e produtivas. Os resultados foram disponibilizados por meio de relatórios técnicos, manuais e uma plataforma digital interativa.

Essa abordagem possibilitou o uso mais direcionado de bioinsumos, a redução de insumos químicos e melhorias na qualidade do solo, refletindo positivamente na produtividade. A startup também estruturou uma base de dados regional com mais de 10 mil hectares analisados e promoveu capacitações técnicas para produtores e consultores.

“A possibilidade de testar, validar e aprimorar nossa tecnologia junto aos produtores rurais do Cerrado nos fortaleceu como startup e nos aproximou ainda mais das reais necessidades do setor”, afirma Stella Virgílio, sócia e cofundadora da ByMyCell. Com os aprendizados no PSSC, a startup mira expandir sua atuação para novos biomas e culturas, além de integrar inteligência artificial à sua plataforma para recomendações automatizadas de manejo.

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Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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