Indústria aeroespacial e de defesa global: desempenho e perspectiva anual

Edição 2021

A edição 2021 do estudo Global Aerospace and Defense: Annual Industry Performance and Outlook, da PwC, divulga as principais métricas de desempenho do segmento comercial da indústria global aeroespacial e de defesa (A&D), além de acontecimentos relevantes. Nossos dados são extraídos de relatórios financeiros do ano fiscal de 2020 e incluem os resultados das 100 maiores empresas de A&D em termos de receitas.

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A&D year in review

Desempenho do setor de A&D: 2020

O setor aeroespacial e de defesa registrou US$ 697 bilhões em receitas (queda de 8% em relação a 2019) e US$ 25 bilhões em lucros operacionais (redução de 61%), sobretudo devido aos impactos da Covid-19 no setor aeroespacial comercial, uma vez que a demanda em passageiros‐quilômetros pagos transportados (RPK, na sigla em inglês) despencou 66%.

US$ 25 bilhões em lucros operacionais, uma redução de 61%

Fortes perdas para Boeing, Airbus, Spirit AeroSystems e fornecedores. O desempenho da Boeing pesou fortemente nos resultados do setor. O lucro operacional da empresa caiu cerca de US$ 11 bilhões (mais de um quarto do recuo total da indústria) por causa dos efeitos combinados da Covid-19, da proibição dos voos com o 737 MAX e de despesas com os projetos de defesa e do 777X. A Airbus relatou redução de US$ 2,1 bilhões nos lucros e de US$ 22 bilhões nas receitas, enquanto as receitas da Spirit AeroSystems despencaram 57%. Os quatro principais fornecedores de nível 1 dos fabricantes do setor aeroespacial comercial – Raytheon Technologies, GE Aviation, Rolls-Royce e Safran – registraram prejuízo operacional agregado de US$ 1,4 bilhão, para uma redução de US$ 16,3 bilhões. Essas sete companhias representaram mais de três quartos da retração geral de lucros do setor. A L3Harris Technologies apresentou crescimento de 42% de receitas devido principalmente ao primeiro ano completo da fusão entre a Harris e a L3. Já a SAIC subiu 12 posições no ranking de receitas, sobretudo graças à aquisição da Engility.

Lockheed Martin lidera o ranking de receitas. A Lockheed Martin apresentou receitas de US$ 65 bilhões, 9% a mais que em 2019 e a maior do setor. O crescimento foi fortemente impulsionado pela expansão do programa do F-35 e pelas quedas acentuadas de Boeing e Airbus. A Lockheed Martin manteve-se como a maior empresa em termos de rentabilidade, registrando lucros operacionais de US$ 8,6 bilhões, um aumento de 1%.

Margens operacionais afundam para 3,9%. A margem operacional do setor despencou 470 pontos-base para 3,9%. A Garmin Aviation registrou a melhor marca da indústria: 72,7%.

Desempenho do setor aeroespacial comercial: 2020

A Airbus entregou 566 aeronaves em 2020, uma queda de 34% em relação a 2019, interrompendo 17 anos de recordes consecutivos de produção. A Boeing entregou 157 aeronaves. Isso representa uma redução de 57% em relação a 2019 e apenas 20% do recorde de 806 aviões produzidos em 2018, com a proibição de voo do 737 MAX pesando muito nas encomendas e entregas. Essa aeronave concluiu sua recertificação antes do fim de 2020 e está retomando seu serviço globalmente.

Interrupção nos 17 anos de recordes consecutivos de produção da Airbus

A Airbus registrou 268 pedidos líquidos em 2020, uma redução de 65% em relação ao ano anterior. A Boeing informou 471 pedidos líquidos a menos, na sequência de uma queda de 87 encomendas líquidas em 2019, que foi a primeira taxa negativa de encomendas em três décadas. Com isso, a carteira de pedidos do setor diminuiu 926 unidades e US$ 245 bilhões. No entanto, essa carteira segue saudável com mais de US$ 600 bilhões e cerca de 12 mil unidades, o que equivale a mais de sete anos de produção nos níveis recordes de 2019.

RPK cai 66%. Em 2020, a International Air Transport Association (IATA) apontou uma redução de 66% no RPK – interrompendo uma série de recordes anuais desde a crise financeira de 2008-2009 – com as companhias aéreas globais relatando perdas em torno de US$ 370 bilhões. A taxa de ocupação de passageiros ficou em 65% para o ano inteiro, depois de atingir um recorde em 2019. O mercado de carga encolheu 11% durante o ano, mas a taxa de ocupação de carga melhorou já que a capacidade caiu ainda mais.


Perspectivas para o setor aeroespacial comercial

Para 2021, a IATA prevê um aumento de 50% no RPK, o que alcançaria apenas metade dos níveis de 2019. A Boeing tem mais de 400 aeronaves 737 MAX em estoque e anunciou planos de aumentar a fabricação do modelo para 31 por mês até 2022. A Airbus pretende aumentar a produção do A320s para 45 por mês já no fim deste ano. Com isso, 2021 parece ser um ano de avanços importantes, mas a recuperação total não deve acontecer até o fim de 2023.

A natureza sem precedentes da pandemia de Covid-19 significa que há poucos dados nos quais embasar estimativas. Embora as projeções para 2021 representem uma melhora em relação a 2020, as restrições a viagens provavelmente continuarão a ter um impacto negativo importante sobre os resultados anuais do setor de 2021. Além disso, as companhias aéreas sofreram prejuízos de longo prazo ao assumirem grandes dívidas que podem dominar suas prioridades de alocação de capital pelos próximos anos.

No longo prazo, o setor aeroespacial comercial segue otimista. As projeções atuais apontam para um CAGR de 4%, uma taxa 60% acima do crescimento previsto para o PIB. Ao longo das próximas décadas, a indústria estará focada em inovação e no desenvolvimento de novos produtos que contribuam para as metas de carbono zero. A demanda prevista para os próximos 20 anos corresponde a uma entrega estimada de 43 mil novas aeronaves e a um valor de mercado de serviços superior a US$ 9 trilhões.

 

Desempenho do setor de defesa: 2020

Combinados, os seis maiores fornecedores do setor de defesa nos EUA relatam um aumento de 2% nas receitas (5%, se considerada a aquisição da Raytheon pela UTC) e 18% de redução dos lucros (6%, considerando a aquisição da Raytheon). A queda nos lucros foi impulsionada sobretudo pela redução de 41% da Boeing Defense, Space & Security, relacionada com os gastos registrados nos programas do KC-46A Tanker e do VC-25B.

Receita das seis maiores companhias de defesa subiu 2%

As cinco maiores empresas europeias de defesa registram, em conjunto, receitas estáveis e um aumento de 20% nos lucros operacionais. Esse aumento se deve principalmente a uma melhoria de US$ 1,5 bilhão na Airbus Defence and Space and Helicopters, graças à compensação parcial de encargos do programa do A400M, em 2019, com a queda de US$ 700 milhões no programa Leonardo.

Lockheed lidera o setor com ganho de 9%

A Lockheed Martin registrou o aumento mais forte de receita, de US$ 5,6 bilhões (9%), alavancado sobretudo pelo aumento da produção do F-35. As receitas da L3Harris aumentaram US$ 2,4 bilhões (19%), principalmente devido à fusão da L3 com a Harris, parcialmente compensada por alguns desinvestimentos. 

A margem operacional nos EUA caiu de 12,4% para 9,9%, enquanto na Europa, ela subiu de 6,2% para 7,5%. A britânica Rolls-Royce Defence anunciou a mais alta margem operacional da indústria (13,3%) e a Lockheed Martin, a mais alta dos EUA (13,2%).


Perspectivas para o setor de defesa

O setor de defesa permanece estável, e as empresas preveem crescimento moderado para 2021. Alguns observadores do segmento acreditam que os orçamentos de defesa estarão, inevitavelmente, sob grande pressão em um futuro próximo, uma vez que os governos de todo o mundo lidam com o enorme custo do socorro à pandemia.

A administração Biden planeja pedir solicitar US$ 715 bilhões para gastos militares no ano fiscal de 2022, acima dos US$ 704 bilhões do ano fiscal de 2020. Na Europa, os níveis elevados de ameaça terrorista e a tensão permanente com a Rússia registraram uma virada. Esperamos que os orçamentos de defesa subam moderadamente em 2021 e nos anos seguintes. O Reino Unido, a Alemanha e a França confirmaram as intenções de reforçar suas capacidades de defesa. Mas isso não deve resultar em um número maior de programas, em virtude da natureza assimétrica das ameaças. Em vez disso, os fornecedores de defesa europeus precisarão desenvolver rapidamente nova capacidades cibernéticas e de inteligência para enfrentar a concorrência de empresas de tecnologia não tradicionais. O ambiente de segurança global continua dinâmico, e o próximo ano pode ter efeitos adicionais para as políticas de defesa devido à persistente crise mundial.

Nos últimos anos, verificamos um foco em crescimento de mercado e a mudança da estratégia de “retorno de capital aos acionistas” para a de “investir para crescer”. Os últimos exemplos incluem a aquisição da Aerojet Rocketdyne pela Lockheed Martin, a fusão da Harris com a L3 Technologies, a aquisição da Orbital ATK pela Northrop Grumman e da CSRA pela Dynamics. Embora o setor de defesa tenha sido relativamente poupado da crise de Covid-19, criou-se um ambiente de cautela no curto prazo. Esperamos ver aumentos moderados nos níveis de M&A e de investimento em P&D.

 

Panorama geral do setor de A&D

O desempenho das maiores 100 companhias de A&D é um termômetro da saúde do setor.

A aviação comercial já é parte crítica da nossa infraestrutura global. A Covid-19 deixou o setor em crise, e não se espera sua recuperação plena até o fim de 2023. Além disso, muitas companhias aéreas serão provavelmente prejudicadas por grandes dívidas que podem dominar sua estratégia de alocação de recursos. 

Nas últimas duas décadas, a aviação tornou-se cada vez mais inelástica, como provam sua resiliência durante a última recessão e a recuperação subsequente. A globalização e o crescimento da classe média global estimularam a demanda. Mesmo que haja uma tendência de moderar – ou até reverter – a globalização (já que cadeias de suprimentos se moveram para mais perto de seus mercados), a previsão de longo prazo para o setor aeroespacial comercial é positiva. Basta considerar, por exemplo, que 82% da população global ainda não puseram os pés em um avião e que, com a projeção de crescimento da classe média global de 25% para 60% até 2030, há um enorme segmento inexplorado de novos consumidores.

As perspectivas para a defesa continuam boas. Orçamentos globais de defesa estão estagnados, mas em níveis saudáveis. Embora os déficits crescentes representem um risco para esse tipo de gasto, os níveis de ameaça global permanecem elevados em algumas regiões, inclusive as que passam por programas de modernização militar.

Além disso, as ações de restruturação iniciadas pelas empresas aeroespaciais comerciais em 2020, combinadas com a transformação digital e melhorias de processos, vão melhorar a competitividade por muitos anos e posicionar a indústria para um boom de lucratividade assim que os mercados de destino se recuperarem.

The state of A&D

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Rafael  Alvim

Rafael Alvim

Sócio, PwC Brasil

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