A atual trajetória de emissões de gases de efeito estufa ainda está distante da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C, conforme o Acordo de Paris. Para corrigir essa trajetória, são necessárias ações coordenadas em nível internacional, nacional e subnacional que promovam práticas de baixo carbono.
Os impactos das mudanças climáticas já são visíveis, com eventos extremos mais frequentes e intensos, gerando perdas econômicas e ameaçando vidas. O Custo Social do Carbono (CSC) – estimado em US$ 280/tCO₂ pela Universidade da Califórnia em Davis – quantifica os danos gerados por cada tonelada adicional de CO₂ emitido.
Para evitar que essas perdas se multipliquem nas próximas décadas, será necessário um volume inédito de investimentos na transição energética. De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), esses investimentos devem ultrapassar US$ 4 trilhões por ano já em 2025, podendo chegar a um patamar entre US$ 7,2 trilhões e US$ 8,9 trilhões anuais entre 2030 e 2050 (ver gráfico abaixo).
Esses dados evidenciam a necessidade de reorganizar a economia, criando mecanismos que atribuam valor à redução de emissões em vez de arcar com os custos da inação. Mais do que uma medida econômica, é uma estratégia para preservar vidas, garantir segurança climática, evitar prejuízos trilionários e sustentar a competitividade global.
A implantação de sistemas de precificação de carbono cria incentivos financeiros para que empresas reduzam suas emissões, ao tornar mais vantajoso investir em descarbonização do que arcar com os custos de poluir. Esse mecanismo estimula a adoção de tecnologias e práticas de baixo carbono, com base nos preços atuais e projetados do mercado.
Cerca de 90 países já adotaram instrumentos como mercados de carbono e taxações. O Sistema de Comércio de Emissões (ETS) é o mais utilizado, liderado pelo modelo europeu (EU ETS), que incluirá o CBAM a partir de 2026. Essas iniciativas estão moldando novas regras no comércio internacional e incentivando outros países a seguir o mesmo caminho.
O Brasil – com uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta e uma biodiversidade única – tem tudo para ocupar uma posição de destaque. Mas isso exige preparo, estratégia e ação coordenada entre setores público e privado. A sanção da Lei nº 15.042/2024 marca a entrada do Brasil nesse novo tabuleiro, com a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).
Nesta publicação, analisamos os pilares do SBCE e sua relação com os compromissos internacionais do Brasil, especialmente a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) revisada em 2024. Também exploramos os riscos e oportunidades da precificação de carbono no cenário global e o potencial do país para liderar a transição para uma economia de baixo carbono.
Buscando ajudar as empresas a se antecipar às exigências, apresentamos caminhos para que integrem o carbono às decisões estratégicas e convertam riscos regulatórios em vantagem competitiva, promovendo uma gestão climática alinhada ao crescimento sustentável.
“Estamos acompanhando as novas tendências globais e sendo influenciados pela evolução subsequente. Precisamos caminhar em direção a uma nova lógica econômica, mais limpa, resiliente e alinhada ao compromisso climático, criando mecanismos que atribuam valor à redução das emissões dos gases de efeito estufa.”
Daniel Martins,sócio e líder da indústria de Energia e Serviços de Utilidade Pública