Embedded finance: desafiar premissas para impulsionar o crescimento

Antes limitado a serviços white label, como seguro de carro alugado e cartões de lojas, o embedded finance agora é fundamental para a inovação e o crescimento futuro do setor financeiro.

Com a crescente integração de ferramentas de poupança, crédito, seguro e investimento em aplicativos ou sites não financeiros, o mercado de aplicações de embedded finance deverá crescer cinco vezes mais, passando de US$ 54,3 bilhões em 2022 para US$ 248,4 bilhões em 2032, de acordo com o Future Market Insights de 2023.

Alguns bancos já estão se movimentando para participar e fazer parceria com plataformas não bancárias. No entanto, eles devem considerar a pressão de preços que esses provedores podem exercer e avaliar os benefícios dessas parcerias.

Ao se comprometer apenas a administrar a infraestrutura financeira de back-office para os parceiros do ecossistema, os bancos podem ficar com as atividades caras e difíceis relacionadas à regulamentação. Com isso, poderão ter menos contato com os usuários de seus produtos e serviços.

Para abordar essas questões, alguns bancos vêm abrindo suas próprias plataformas para instituições não bancárias ou se ramificando com seguros integrados e serviços de concierge em setores adjacentes, como viagens, mobilidade e muito mais.

 

Desafiando as principais atitudes

O embedded finance está superando quatro suposições que prevaleceram em todo o setor por mais de uma década. São elas:

"Os bancos sempre serão os donos da infraestrutura de pagamentos."

“Novos participantes não entrarão em empréstimos como fizeram com pagamentos.”

“Players não financeiros não solicitarão licenças bancárias.”

“Os bancos continuarão a possuir a conta bancária principal e, portanto, o relacionamento com o cliente.”

A persistência das quatro suposições enfatiza a necessidade de uma mudança de mentalidade. Para capitalizar a oportunidade de crescimento que o embedded finance representa, os bancos e outros players precisarão repensar seus modelos de negócios e redefinir como eles atuarão na evolução da jornada do cliente.

Neste artigo analisamos essas quatro suposições e como elas estão mudando. 

 

Os bancos sempre serão os donos da infraestrutura de pagamentos

O campo de atuação dos pagamentos foi redefinido nos últimos 20 anos por novos players, com uma forte mudança para transações sem dinheiro e a necessidade de soluções de pagamento instantâneas e cross-border – entre outras tendências importantes. Apesar disso, os pagamentos são vistos pelos bancos tradicionais como relativamente seguros. Eles contam com sua reputação de intermediários financeiros confiáveis e mais bem posicionados para lidar com o advento das moedas e carteiras digitais, pagamentos internacionais e crimes financeiros.

O crescimento contínuo do embedded finance pode acelerar ainda mais a mudança dos bancos tradicionais em relação a pagamentos. Com o surgimento de provedores decacorns globais de serviços de pagamento (Payment Service Providers, PSP, em inglês) – empresas avaliadas em US$ 10 bilhões ou mais — vemos players oferecendo melhores soluções para comerciantes e pagadores. Isso vai além de apenas incorporar o pagamento em transações abrangentes de maneira segura, diminuindo o atrito e a perda de conversão.

Um número maior de PSPs também está incorporando transações, reconciliações, análise de dados, fluxo de mercadorias e de retorno aos sistemas de contabilidade e finanças dos estabelecimentos comerciais – agregando valor significativo.

Novos players não entrarão em empréstimos como fizeram com pagamentos

Para muitos bancos, o crédito ao consumidor ou a empresas é a parte mais lucrativa do negócio. Muitos presumiram que os obstáculos regulatórios ou as preocupações com o risco iriam desencorajar novos players – mas isso se provou falso.

As grandes empresas de tecnologia e grandes varejistas, que aderiram ao embedded finance em grande parte por meio de pagamentos e ofertas de crédito de white label, estão expandindo para embedded lending. Isso envolve parcerias com bancos e emissores de cartão de crédito, aquisições estratégicas de fintechs ou mesmo bancos.

Os bancos tradicionais correm o risco de perder lugar no mercado de crédito para novos clientes, principalmente com os empréstimos sendo mais incorporados às jornadas de vendas do consumidor ou às operações de pequenas e médias empresas. 

Muitos desses novos players, especialmente da indústria de tecnologia, estão mudando a forma de determinar quem recebe crédito, com base em dados, em vez de relatórios de crédito. Eles também estão oferecendo valor claro aos clientes, ajudando-os a crescer. Os bancos precisarão fazer mais do que apenas copiar produtos de BNPL (sigla em inglês para "buy now, pay later") para manter o ritmo e atentar para a pressão sobre as margens de juros, à medida que a fonte de crédito migra para longe.

 

Players não financeiros não vão solicitar licenças bancárias

Os bancos acreditam que têm vantagens inerentes em termos de escala, confiança do cliente e conhecimento regulatório e, portanto, são qualificados de maneira única para o licenciamento completo. Mas essa suposição está mudando. Além de possíveis incursões de big-techs, o número de fintechs com licença bancária no espaço embedded finance está crescendo.

Os executivos do setor bancário devem considerar como sua instituição pode permanecer relevante e lucrativa se mais fintechs, especialmente big-techs, obtiverem licenças bancárias.

À medida que as soluções de compliance baseadas em dados se tornam mais comuns, fintechs e big-techs, que se destacam em aproveitar essas informações, podem encontrar alguns obstáculos para alcançar a conformidade mesmo com os requisitos regulatórios mais simples. E as recompensas potenciais de um cenário em que o vencedor leva tudo podem se tornar grandes o suficiente para encorajar uma mudança total no setor bancário regulado.

 

Os bancos continuarão a possuir a conta bancária principal e, portanto, o relacionamento com o cliente

O uso de embedded finance costuma ser interpretado como complementar às atividades bancárias principais ou apenas para alcançar novos clientes. A suposição é que os bancos, por serem proprietários da conta principal, manterão sua função com sua base de clientes.

Os players financeiros que esperam que as fintechs e as big-techs recuem de seus esforços para entrar ou ganhar participação no mercado de serviços financeiros, porém, provavelmente ficarão desapontados.

Os bancos devem examinar o custo de não fazer nada versus preparar seus negócios para enfrentar os desafios impostos pelo embedded finance.

Devido especialmente às pressões no setor, fazer os investimentos certos pode aumentar a competitividade. Ações como o aumento do foco no cliente, o aprimoramento do uso de dados e o incentivo à eficiência, que levam a operações mais simples.

 

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Willer Marcondes

Willer Marcondes

Sócio Strategy& Brasil e líder de estratégia para Serviços Financeiros, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

Lindomar Schmoller

Lindomar Schmoller

Sócio e líder da indústria de Serviços Financeiros, PwC Brasil

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