A era da reinvenção

Mineração 2023 – 20ª Edição

6 de junho de 2023

As grandes mineradoras do mundo precisam encontrar uma nova fórmula para o sucesso. A era dos minerais críticos chegou e representa a mudança mais importante que a indústria já viu em décadas. As empresas de mineração não podem mais depender de portfólios e práticas do passado para criar valor nesse novo cenário dinâmico e extremamente competitivo. A era dos minerais críticos deve ser uma era de reinvenção.

As mineradoras precisam lidar com um importante novo player que surgiu no mercado de minerais críticos: o governo. Diante do rápido crescimento da demanda e da concentração da cadeia de suprimentos em níveis preocupantes, os governos formaram alianças, instituíram novas políticas e mobilizaram fundos para garantir o acesso a minerais críticos. Esses movimentos mudarão o negócio de mineração. A entrada de fundos públicos, por exemplo, deve levar as mineradoras a repensar as taxas de retorno que podem esperar da mineração ou dos ativos da cadeia de suprimentos. As mineradoras também precisarão lidar com um risco maior de investir e o aumento da concorrência, uma vez que os governos interferem no cenário com incentivos e intervenções.

Agir em relação à descarbonização é uma questão urgente. As mineradoras terão que aumentar a produção para atender à crescente demanda por minerais críticos e outras commodities necessárias para a transição energética. Mas elas também sabem que devem reduzir suas emissões de carbono. A boa notícia é que a descarbonização pode ajudar as mineradoras a criar valor em todos os pontos da cadeia produtiva. Cada vez mais, vemos as empresas do setor aumentarem sua eficiência ao utilizar tecnologias e práticas de baixo carbono, fazerem parcerias com processadores para produzir os “metais verdes” que os clientes desejam e obterem financiamento vinculado a condições de sustentabilidade.


As mineradoras devem se reposicionar para o crescimento de longo prazo – e as transações de fusão e aquisição que fecharam em 2022 mostram que estão usando seus recursos financeiros para isso. Os minerais críticos dominaram a atividade em 2022, período em que mineradoras grandes e pequenas correram para reformular seus portfólios e torná-los mais alinhados com a transição global para a energia limpa. 

Diante do aumento das consolidações, da maior volatilidade de preços e da ação contínua dos governos, as mineradoras devem agir rapidamente para conquistar oportunidades de negócio cada vez mais escassas.

O sucesso vai depender de aspectos que vão além de um bom posicionamento financeiro: as 40 principais empresas do setor também precisam atrair pessoas. O talento em tecnologia, especialmente, é essencial para dar conta de operações cada vez mais automatizadas, digitalizadas e baseadas em IA. Não se trata, porém, apenas de contratar profissionais mais especializados. As empresas do setor precisam de mais pessoas de maneira geral. Isso exigirá a criação de ambientes abertos e inclusivos. Será preciso repensar estratégias de pessoal para que as mineradoras atraiam talentos no futuro. 

As 40 principais empresas mineradoras precisam se transformar para poder criar valor e ajudar a construir um futuro próspero, baseado em uma economia de baixo carbono.

Minerais críticos: um novo player entra em ação

À medida que avançam para garantir o acesso ao cobre, lítio e outros minerais críticos, os governos nacionais reconfiguram o cenário competitivo. As mineradoras devem aprender a lidar com novas dinâmicas da indústria.

O interesse pelos minerais críticos só aumentou nos últimos 12 meses, pois os países reconheceram a importância desses insumos para a energia limpa e a defesa. A incerteza geopolítica complicou o quadro, semeando dúvidas sobre as possíveis fontes desses minerais. Em resposta, os governos de todo o mundo tomaram medidas rápidas para formar alianças, formular políticas e leis e financiar iniciativas para estabilizar seus suprimentos de minerais críticos. Isso intensificou a competição e o risco.


Três formas de ação do governo


Alianças e acordos

Parcerias estratégicas entre governos ou acordos comerciais centrados na colaboração sobre minerais críticos

Política e legislação

Leis, políticas ou regulamentos criados para proteger, garantir ou impulsionar o crescimento em relação a minerais críticos e cadeias de suprimentos

Financiamento

Financiamento direto do governo ou de fundos apoiados pelo governo para empreendimentos em minerais críticos e cadeias de suprimentos

Implicações para as mineradoras

A movimentação dos governos está mudando rapidamente o cenário competitivo de empresas que atuam no segmento de minerais críticos e mineradoras em geral, principalmente de cinco formas. Para superar seus concorrentes, as empresas mineradoras devem se ajustar agora.

Cinco principais mudanças no cenário

  1. Maior demanda por minerais críticos
  2. Mudança no panorama financeiro
  3. Investimento mais arriscado
  4. Mais competição
  5. Padrões ambientais mais rígidos
Descarbonização: uma nova fonte de valor

Mesmo aumentando a produção de minerais críticos para apoiar a transição energética, as mineradoras sabem que precisam reduzir suas emissões de carbono para evitar riscos como barreiras de mercado, multas e perda de licenças para operar. Mas a descarbonização também pode ajudar as mineradoras a criar valor. Ao acelerar seus planos de descarbonização e estendê-los às cadeias de suprimentos, as empresas podem reduzir custos, aproveitar oportunidades de parceria e obter termos de financiamento favoráveis.

A tecnologia e os métodos existentes já podem descarbonizar uma grande parte das atividades de mineração, processamento e produção. Uma notícia ainda melhor é que essas tecnologias e métodos podem ser aplicados em toda a cadeia de valor de mineração e metalurgia para ampliar a redução de custos e as oportunidades de criação de valor.


35%



dos CEOs de mineração disseram que suas empresas estarão altamente ou extremamente expostas a riscos climáticos nos próximos cinco anos.

Fonte: 26ª Pesquisa Anual Global com CEOs da PwC

As ferramentas para a descarbonização

Mineradoras e processadores têm acesso a diferentes tecnologias e métodos de baixa emissão de carbono para ajudá-los a descarbonizar. Entre as opções mais econômicas estão a eletrificação direta, a melhoria da eficiência e a energia renovável, seguidas pela energia do hidrogênio para aplicações que não podem ser eletrificadas. 

Parcerias com processadores

Ao fazer parceria com processadores, as mineradoras podem compartilhar os riscos relacionados ao projeto, obter economia de escala e garantir o controle de qualidade desde a mina até o produto acabado. O uso do hidrogênio para a produção de aço é um exemplo dessa parceria. 

As 40 principais mineradoras podem encontrar oportunidades em todo o mundo, mas é preciso avaliá-las agora, pois os prazos de entrega podem ser longos e a concorrência está aumentando.

Finanças verdes

A transição energética está criando oportunidades e riscos para grandes mineradoras terem acesso ao capital. Mas, se por um lado, os investidores estão alienando ativos de combustíveis fósseis, por outro, as mineradoras podem achar difícil obter capital de fontes tradicionais. O volume de títulos relacionados à sustentabilidade e outros mecanismos de financiamento, porém, está aumentando, o que fornece às mineradoras novas fontes de capital com preços atraentes. Globalmente, os títulos verdes passaram de cerca de US$ 150 bilhões em 2017 para US$ 450 bilhões em 2022 e devem crescer mais 30% em 2023. 


US$ 450 bi



Títulos verdes emitidos em 2022

Fonte: S&P Global

Como gerar valor com a descarbonização

A economia da descarbonização vai orientar as decisões de negócios da mineração nas próximas décadas, ao mesmo tempo que executivos do setor enfrentarão grandes desafios e oportunidades. Para criar valor, as empresas líderes estão concentrando suas estratégias de descarbonização em iniciativas que as ajudem a diminuir custos e acessar novos mercados finais. Nossa experiência sugere que os fundamentos dessas estratégias incluem:

Nos próximos cinco anos

  • Definir e comunicar metas para reduzir as emissões sob seu controle (Escopo 1 e 2) e envolver clientes e fornecedores para reduzir as emissões do Escopo 3.

  • Implementar tecnologias maduras de energia renovável em minas e fazer pilotos com novas soluções de baixo carbono para o processamento.

  • Avaliar as parcerias de redução de emissões com os clientes e começar a envolvê-los.

Até 2035

  • Estabelecer parceria com processadores para reduzir as emissões da cadeia de valor (por exemplo, usando energia renovável para produzir alumínio com baixo teor de carbono).

  • Ampliar a utilização de tecnologias renováveis nas minas.

Além de 2035

  • Escalar novas operações em minas e processos de refino de baixo carbono.

  • Comissionar em grande escala usinas de mineração e de refino no mesmo local.

  • Integrar energias renováveis em aplicações de energia e transporte e eliminar os equipamentos remanescentes movidos a combustíveis fósseis.

Análise financeira: incerteza à frente

Em 2022, as 40 maiores empresas de mineração mais uma vez relataram resultados financeiros robustos. No entanto, a queda dos preços das commodities e o aumento dos custos operacionais prejudicaram o fluxo de caixa e as margens. Em meio à contínua incerteza econômica, as grandes mineradoras devem considerar o uso de seus sólidos balanços patrimoniais para aproveitar as oportunidades de crescimento oferecidas pelo aumento da demanda.


Top 40: resumo financeiro de 2022


Receita

US$ 711 bi

-1% em relação a 2021

EBITDA

29%

-3 pontos percentuais em relação a 2021

Valor de mercado

US$ 1,2 tri

+2% em relação a 2021

Perspectivas para o carvão

Em 2022, o carvão teve maior participação na receita das 40 principais mineradoras do que qualquer outra commodity. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a geração de energia a carvão aumentou em 2022, o que sugere que o mundo pode enfrentar dificuldades para conseguir uma redução contínua de uso desse insumo, apesar dos muitos compromissos de governos e empresas para reduzir as emissões de carbono.

Exploração em alta

Em meio à crescente demanda por minerais e metais, as 40 maiores empresas de mineração relataram gastos mais altos em exploração do que em qualquer outro momento desde 2013. Em 2022, o ouro superou os gastos com exploração em todo o mundo. Os gastos com a procura por minerais críticos, como cobre, lítio e cobalto, também cresceram muito. Dadas as projeções de déficit de fornecimento de minerais críticos, o investimento contínuo para descobrir esses depósitos será essencial para sustentar a transição energética. No longo prazo, os gastos com exploração devem crescer, com as mineradoras buscando atender à demanda crescente.

Expectativas para este ano

Em relação às perspectivas para as 40 principais mineradoras em 2023, esperamos que haja uma queda nos preços de muitas das principais commodities de mineração – e, como consequência, uma queda de 9% na receita. Em relação ao carvão, a receita deve cair pelo menos 20%. Dificilmente a commodity será a principal fonte de receita do setor em 2023, o que pode levar a uma mudança na composição do grupo das 40 maiores.

A tendência de aumento de custos observada em 2022 deve se estabilizar durante 2023, já que os custos mais baixos de frete e combustível compensam algumas pressões inflacionárias.

Para garantir a resiliência de longo prazo, as 40 principais mineradoras devem se concentrar em responder às tendências atuais, mesmo enquanto reduzem seus gastos. Com fluxo de caixa livre e balanços fortes, essas mineradoras estão bem posicionadas para aproveitar novas oportunidades.

Transações: a corrida por minerais críticos

As mineradoras enfrentam um ambiente muito competitivo para ativos minerais críticos. Com a redução das oportunidades, os líderes devem agir com urgência para adquirir os ativos que impulsionarão o crescimento futuro de suas empresas.

O valor de transações envolvendo empresas que atuam no segmento de minerais críticos aumentou impressionantes 151% em relação a 2021, respondendo por 66% do valor de todas as transações em 2022. As transações no segmento de ouro, por outro lado, caíram 50%, marcando o fim do domínio do metal precioso em fusões e aquisições nos últimos anos. O cobre foi a commodity quente do ano, representando 85% de todas as transações de minerais críticos e 56% das atividades de fusão e aquisição do grupo das 40 principais mineradoras. Como um metal vital para a eletrificação e a energia renovável, o cobre deve se manter em alta demanda nos próximos anos.

Os principais movimentos das 40 maiores

Nos últimos anos, várias tendências marcaram as transações com minerais críticos envolvendo as 40 principais empresas do setor. A primeira é a preferência pela propriedade total em vez de joint ventures. A segunda grande tendência é um apetite crescente por negócios transformacionais, no momento em que as maiores representantes do grupo das 40 principais empresas buscam agregar valor aos portfólios existentes, adquirir ativos estratégicos, alcançar eficiências operacionais e aumentar sua resiliência. 

A chegada de outros participantes

As empresas de mineração não são as únicas participantes na corrida por minerais críticos. Fundos soberanos e planos de pensão têm mostrado interesse crescente em empresas desse segmento. Os fabricantes de equipamentos originais (OEMs, na sigla em inglês) – principalmente os do setor automotivo – têm firmado parcerias estratégicas com as mineradoras.

Consolidação do ouro

As empresas de mineração de ouro não mostram sinais de desaceleração em seus negócios. As fusões e aquisições ainda são um meio para ganhar escala, otimizar portfólios e liberar sinergias. Esperamos ver uma atividade contínua de fusões e aquisições no setor de ouro, inclusive consolidações de empresas de médio porte e meganegócios ocasionais.

Mentalidade ESG

A regulamentação das emissões e a transição energética significam que os ativos de carvão estão sob crescente vigilância, com investidores deixando o setor e empresas de mineração reorganizando portfólios. Seja por meio de fusões e aquisições ou descomissionamento, os ativos de carvão permanecerão na vanguarda da mudança. As 40 principais mineradoras provavelmente continuarão a reorganizar suas operações, considerando a transição para uma economia de baixo carbono.

Hora de agir

Com a crescente demanda por minerais críticos, as mineradoras enfrentarão pressão contínua para estabelecer posições competitivas em termos de presença geográfica e equilíbrio de ativos. A estratégia de transações será fundamental para o sucesso de longo prazo das 40 principais mineradoras. As grandes empresas do setor devem monitorar de perto as oportunidades de negócios e propostas de valor à medida que o mercado de fusões e aquisições se torna mais competitivo. Aqueles que agirem agora colherão os benefícios nos próximos cinco a dez anos.

Ao avaliar possíveis transações, as grandes empresas de mineração devem se planejar para:

  • maior consolidação no segmento minerais críticos

  • mais esforço de mineradoras e não mineradoras para garantir o abastecimento por meio de parcerias estratégicas 

  • aumento da volatilidade dos preços no curto e médio prazo, com a continuidade de pressões inflacionárias e de demanda

  • ações adicionais de governos por meio de regulamentos, mudanças fiscais e aumento da vigilância sobre as transações.

Talento: preparando-se para o futuro

Para as mineradoras, a escassez de talentos está se tornando um desafio quase existencial. As empresas do setor devem atrair mais trabalhadores, inclusive aqueles com habilidades tecnológicas muito procuradas, para atingir seus objetivos estratégicos. No entanto, muitos dos trabalhadores mais cobiçados não consideram o setor atraente. As 40 principais mineradoras precisam repensar suas estratégias de força de trabalho para atrair uma gama maior de funcionários.

Foco na tecnologia

Suprir a necessidade de trabalhadores com habilidades em tecnologia, como robótica, automação e análise de dados, não será fácil. Afinal, empresas de todos os setores também querem contratá-los. 

Algumas mineradoras tentaram atrair trabalhadores de tecnologia recorrendo a programas de pós-graduação e outros incentivos, mas não tem sido fácil obter o talento necessário. Em uma pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial em 2020, 57% das empresas disseram que veem a incapacidade de atrair talentos especializados como a maior barreira para a adoção de novas tecnologias. Mas a disponibilidade parece ser um problema ainda maior: para 73%, a maior barreira é a escassez de competências no mercado de trabalho local. 


73%



das empresas de mineração veem a escassez local de competências como a maior barreira para a adoção de novas tecnologias.

Fonte: Fórum Econômico Mundial

Para atrair os talentos com as competências em tecnologia de que precisam, as mineradoras devem considerar as seguintes abordagens:

  • Investir em educação nas instalações da empresa e nas comunidades onde atuam para atrair e reter talentos que possam ser treinados, requalificados ou transferidos.

  • Colaborar com governos, indústria e seus pares na defesa de políticas sobre questões como a migração de trabalhadores qualificados e apoio a comunidades remotas de mineração, para atrair talentos e atender aos anseios da força de trabalho.

  • Investir em comunicações que destaquem o papel da indústria na transição energética e mostrem como a tecnologia muda a atividade extrativa. Isso pode ajudar a acabar com a ideia de que a mineração é uma atividade prejudicial ao meio ambiente, fisicamente desgastante, perigosa e realizada em locais remotos.

Fortalecer a I&D

Uma forte cultura de inclusão e diversidade (I&D) é fundamental para atrair talentos.

As 40 maiores mineradoras estão alinhadas em torno da ideia de aumentar a diversidade de gênero. Ao analisar os relatórios de sustentabilidade mais recentes publicados por essas empresas, descobrimos que cerca de dois terços estabeleceram metas para que mulheres estejam representadas em alguns níveis da organização.


14%



dos empregos na mineração em todo o mundo são ocupados por mulheres.

Fonte: Organização Internacional do Trabalho, Mulheres na mineração

Mas fortalecer a I&D no local de trabalho não é tão simples quanto definir cotas. Como as mineradoras sabem por sua longa experiência em lidar com questões de saúde física e segurança, mudar as práticas e a cultura do local de trabalho requer políticas, incentivos e estratégias de longo prazo. Entre as 40 principais empresas, algumas adotaram medidas, como estabelecer requisitos de diversidade em suas ações de recrutamento e vincular a remuneração dos executivos a metas de diversidade.

Há também aquelas que estabeleceram programas de treinamento para aumentar a conscientização sobre discriminação e assédio e promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e aberto. 

Para atrair talentos e diversidade e obter os benefícios de ter uma força de trabalho inclusiva, as mineradoras devem considerar as seguintes ações:

  • Entender o estado de I&D em seu negócio coletando dados e criando transparência com os stakeholders.

  • Adotar a tecnologia para remover as barreiras impostas pela localização remota de muitas minas e tornar o ambiente de trabalho mais acessível.

  • Elaborar uma estratégia que priorize a I&D e a dissemine por toda a organização; divulgar como isso afeta diretamente os resultados da empresa.

  • Promover a adesão de líderes em toda a empresa; garantir que o tom da liderança esteja alinhado com o propósito da organização.

Contatos

Patricia Seoane

Patricia Seoane

Sócia e líder do setor de Mineração e Siderurgia, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

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