A jornada ESG do private equity: da conformidade à criação de valor

Pesquisa Global de Investimento Responsável de Private Equity 2021

Várias crises nos últimos 18 meses trouxeram um alerta ao mundo. Se quisermos evitar novas pandemias, reduzir os riscos das mudanças climáticas, construir uma sociedade mais justa e ainda gerar crescimento, teremos que criar economias e sistemas mais sustentáveis.

Empresas em todo o mundo estão se adaptando, transferindo para o centro de suas preocupações estratégicas as questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Elas reconhecem o ESG como um fator de criação de valor e vêm desenvolvendo rapidamente uma mentalidade ESG proativa. A última Pesquisa Global de Investimento Responsável de Private Equity da PwC demonstra que as empresas de private equity (PE) estão nessa mesma jornada e bem posicionadas para liderar esse movimento, graças a décadas de experiência priorizando uma abordagem de criação de valor estratégica, ativista e de longo prazo.

Há muitas questões em jogo. O investimento sustentável – uma categoria que inclui o investimento ESG (no qual questões ESG se sobrepõem à busca do desempenho financeiro) e o investimento socialmente responsável (em que os investimentos são selecionados ou desqualificados com base em considerações éticas) – não para de crescer, depois de ter ultrapassado US$ 30 trilhões globalmente até 2018. Somente nos EUA, os ativos sob gestão com foco em ESG cresceram cerca de US$ 5 trilhões de 2018 a 2020, e o mercado global de investimento de impacto – um segmento do mercado de investimento sustentável que se concentra em gerar resultados positivos, independentemente dos retornos – está estimado em cerca de US$ 715 bilhões.

As empresas de PE que põem o ESG no centro de sua estratégia de negócios serão os agentes da mudança na nova economia sustentável. E assim como haverá líderes, haverá também retardatários. As empresas que não adotarem os princípios ESG se arriscarão a perder valor.

Nossa pesquisa mostra como as empresas de PE estão adotando melhor o investimento sustentável. Ela explica:

  • que as empresas estão entrando em uma nova era de maturidade ESG

  • por que o ESG está se tornando a chave para a criação de valor

  • o que está impulsionando o sucesso empresarial duradouro


Entrando na maturidade

Nos últimos sete anos, as empresas de PE fizeram uma reavaliação radical da importância e do valor do ESG para seus negócios. Esses fatores deixaram de ser considerados uma área tangencial de conformidade ou um produto especializado para uma pequena minoria de investidores e se tornaram um framework abrangente que fundamenta o pensamento estratégico de toda a empresa.

A atitude e a abordagem das empresas de PE amadureceram em muitas áreas importantes, incluindo como elas valorizam o desempenho ESG e como o ESG influencia suas decisões de investimento, valor da empresa e/ou múltiplos. Houve mudança também em relação ao envolvimento com investidores e à divulgação de informações ao público.

Essa nova maturidade é impulsionada por vários fatores. No setor de serviços financeiros, houve uma melhora acentuada no desempenho dos fundos com foco em ESG, uma vez que os investidores mudaram seus próprios padrões éticos e se tornaram mais exigentes. Eles também consideraram o impacto financeiro de fatores como a preferência dos consumidores por produtos mais sustentáveis, possíveis novas regulamentações ESG e a influência de políticas de diversidade e inclusão na reputação (negativa ou positiva). Um relatório recente da empresa de serviços financeiros Morningstar revelou que a maioria dos fundos ESG supera o desempenho do mercado em geral ao longo de uma década.

O ESG está atraindo mais atenção da alta administração. Em nossa pesquisa, 56% das empresas disseram que o ESG esteve na pauta das reuniões da diretoria executiva mais de uma vez por ano e 15% disseram que o assunto foi discutido em todas as reuniões. Isso representa um aumento substancial em relação a 2019, quando 35% dos entrevistados disseram que os temas ESG eram tratados nessas reuniões mais de uma vez por ano, e apenas 6% disseram que estava na pauta de todas as reuniões. 

Esse percentual certamente continuará a aumentar à medida que mais empresas alinharem suas estratégias de investimento ao esforço de descarbonização das economias globais, tornarem seus negócios e cadeias de suprimentos resilientes à disrupção provocada por mudanças climáticas ou futuras pandemias, formarem forças de trabalho mais inclusivas e reconhecerem que sustentabilidade e propósito são importantes para atrair e reter talentos. O movimento crescente para vincular a remuneração dos executivos ao desempenho ESG também ajudará a atrair a atenção do conselho.

O ESG está tendo influência crescente na estratégia de negócios ao longo do ciclo de vida da transação e em todos os portfólios. As empresas estão usando critérios ESG não apenas para avaliar riscos e identificar oportunidades de criação de valor, mas também para gerenciar seu portfólio e, em última instância, entregar um investimento melhor na saída. Um bom exemplo é a adoção ou o alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como um framework. Os investidores e as empresas estão descobrindo que os ODS são cada vez mais úteis porque fornecem uma abordagem universal para alcançar resultados sociais positivos, além de proporcionar rigor à identificação de 17 objetivos abrangentes e 169 metas. Eles também representam um modelo baseado em resultados, em um momento no qual as firmas de PE e as empresas em geral tentam entender as muitas iniciativas concorrentes de avaliação de ESG.

65%

dos entrevistados desenvolveram uma política de investimento responsável ou de ESG e as ferramentas para implementá-la.

72%

sempre fazem uma investigação das empresas-alvo quanto aos riscos e oportunidades ESG no estágio pré-aquisição.

56%

abordam assuntos ESG na agenda da diretoria executiva mais de uma vez por ano.

38%

identificaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU relevantes no portfólio de empresas.

Criação de valor para investidores e sociedade

Nos últimos anos, assistimos a uma mudança fundamental no enfoque de PE quando se trata de estratégia e implementação ESG. Em 2019, o gerenciamento de riscos foi o maior impulsionador da atividade ESG, mas este ano caiu para quarto lugar, enquanto a criação de valor ficou no topo das preferências. Este foi o primeiro ano em que a criação de valor esteve entre as opções de resposta, mas o fato de os entrevistados a terem escolhido como principal impulsionador da atividade ESG mostra que as empresas de PE estão adotando uma mentalidade ESG muito mais proativa. As principais tendências de sustentabilidade, como economia circular, emissão líquida zero de gases de efeito estufa, recrutamento inclusivo, tecnologia climática e soluções naturais, estão abalando o status quo (e, portanto, criando oportunidades de investimento) em todo o ambiente de negócios. Basta ver os setores de alimentos, moda e transporte, onde novos negócios com produtos mais sustentáveis estão transformando as preferências dos consumidores e as estratégias de investimento e aquisição das principais empresas de PE.

Outra razão para essa transição da mitigação de risco para a criação de valor pode estar ligada ao fato de os sócios-gerentes terem percebido que o ESG oferece uma oportunidade real de negócios e eles não querem que suas empresas fiquem para trás. Esses líderes reconhecem cada vez mais as oportunidades de criação de valor que surgem com a transição para a sustentabilidade. Eles também reconhecem que o ESG é uma alavanca de transformação, ao lado de outras alavancas, como digitalização e internacionalização. Mais da metade de todos os entrevistados (56%) se recusou um acordo de parceria ou um potencial investimento por questões ESG. A ideia de que o ESG é importante demais para ser limitado a um departamento especializado está começando a se refletir em todos os negócios. Mais da metade das empresas pesquisadas afirma que a responsabilidade final por temas ESG e investimentos responsáveis é dos sócios da empresa, enquanto apenas 39% atribuem essa responsabilidade a uma equipe dedicada a ESG ou investimento.

O crescente interesse no investimento de impacto e o surgimento de estratégias disseminadas de investimento de impacto são aspectos-chave a serem observados. Essa mudança, sem dúvida, ocorreu porque as empresas estão começando a entender que os investidores valorizam fundos que geram impactos ambientais e sociais positivos, dada a fragilidade agora óbvia do nosso ambiente natural e da estrutura de nossa sociedade global. O modelo de propriedade e de negócios de PE está bem posicionado para lidar melhor com os investimentos e impulsionar a mudança. Além disso, de acordo com a Global Impact Investing Network, PE é a classe de ativos mais comum na indústria de investimentos de impacto. E a maioria dos investidores focados em PE (86%) relatou ter um desempenho financeiro que atende ou supera suas expectativas.

Dezessete por cento dos entrevistados afirmaram que já têm fundos de impacto dedicados ou estão planejando criar um no próximo ano. Outros 14% disseram que estão considerando investir com foco em impacto no futuro. Além disso, 45% dos que não têm um fundo de impacto já estão medindo e gerenciando impacto ou estão usando um framework de avaliação para buscar oportunidades de investimento associadas a impactos positivos ou fazendo as duas coisas.

A ideia de investir em fundos de impacto começa a se tornar uma estratégia dominante no setor de PE, que parece estar ficando pronto para lidar com esses ativos e tentando provar aos investidores que é possível causar impacto sem sacrificar os retornos.

66%

dos entrevistados classificam a criação de valor como um dos três principais fatores de investimento responsável ou atividade ESG.

40%

classificam a proteção de valor como um dos três principais fatores de investimento responsável ou atividade ESG.

49%

dizem que incorporam questões ESG altamente relevantes à due diligence comercial ao tomar decisões de investimento, embora de forma ocasional.

>7 in 10

dizem que incorporam riscos e oportunidades ESG em seus planos de transformação ou criação de valor.

17%

têm um fundo de impacto dedicado ou dizem que planejam lançar um no próximo ano.

45%

não têm um fundo de impacto, mas consideram o impacto de seus investimentos.

Os fatores por trás do sucesso sustentável

Empregar uma estratégia ESG abrangente exige que as empresas considerem uma ampla gama de fatores específicos, e geralmente interconectados, que podem afetar negativa ou positivamente os portfólios e o sucesso geral do negócio.

Persistem grandes lacunas entre as preocupações com as questões ESG e as ações que estão sendo tomadas para resolvê-las. Nos casos em que as questões ESG são há muito tempo requisitos de governança ou exigidas por regulamentação – como saúde e segurança ocupacional ou prevenção contra suborno e corrupção – a lacuna é pequena. No entanto, quando se trata de questões que rapidamente começam a definir a economia global pós-pandemia, como emissões líquidas zero, risco climático, biodiversidade e novas tecnologias, a distância entre preocupação e ação deveria ser debatida.

A Estratégia 2021–24 dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) da ONU também deixa claro que assuntos como clima e direitos humanos se tornarão cada vez mais importantes para os investidores, especialmente no contexto da recuperação pós-pandemia.

Risco climático

Nos últimos 18 meses, o mundo dos negócios e a maioria dos governos globais se deram conta dos riscos impostos pelas mudanças climáticas. O setor de serviços financeiros vem agindo, e isso se reflete na preocupação das empresas de PE com o risco climático.

Em 2019, a grande maioria das empresas de PE disse estar preocupada com os riscos climáticos em seu portfólio. Mas a maioria parece ter demorado a abordar efetivamente a questão. Este ano, mais da metade das empresas pesquisadas já está agindo e 36% dizem que consideram o risco climático na hora de tomar decisões de investimento. 

Avaliar o risco climático de uma carteira, porém, é complicado. O guia dos PRI da ONU, publicado no ano passado, visa abordar alguns dos desafios na implementação das recomendações da Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês), em particular os desafios em relação a conhecimento, dados, recursos limitados e escala de abordagem de risco climático para portfólios inteiros. Além disso, as empresas de PE precisam avaliar uma variedade de ferramentas e metodologias de terceiros. Quando os governos em todo o mundo começam a tomar medidas mais agressivas sobre as mudanças climáticas e os investidores institucionais e outros sócios comanditários cada vez mais incorporam o risco climático em suas próprias decisões de investimento, as empresas de PE precisarão ter um nível maior de conhecimento e sofisticação para traçar o curso certo.

36

dos respondentes da pesquisa consideram o risco climático no estágio de due diligence para entender e/ou mitigar a exposição do portfólio.

47

não realizaram nenhum trabalho de compreensão da exposição ao risco climático do portfólio, mas mais da metade dos entrevistados afirma que pretende fazê-lo no próximo ano.

Diversidade e inclusão

Nos últimos cinco anos, as empresas se empenharam em melhorar a diversidade e a inclusão no local de trabalho, especialmente em termos de igualdade de gênero. Para 77% dos entrevistados, a diversidade é um valor fundamental e parte integrante de sua cultura. A maioria já acredita que equipes diversificadas geram benefícios para os negócios – principalmente no campo da inovação. Aumentar a diversidade e a inclusão em todo o setor tornou-se alta prioridade, em um mundo onde a força de trabalho é globalizada e as empresas competem por uma nova geração de talentos para a qual a diversidade é a norma, não a exceção, e onde equipes e conselhos mais diversificados podem levar a um maior sucesso.

No Reino Unido, por exemplo, mais de 80 empresas apoiaram o Level 20, iniciativa sem fins lucrativos para melhorar a diversidade e inclusão em PE. Representações do Level 20 também estão sendo estabelecidas em todo o continente, e quase todas as empresas de PE que atuam na França assinaram a carta de diversidade da France Invest (associação que representa os profissionais de private equity franceses) para promover a igualdade de gênero. No entanto, em alguns países, a coleta e divulgação de dados sobre diversidade e raça pode apresentar desafios jurídicos.

46

dos entrevistados estabeleceram alguma meta de diversidade de gênero, étnica ou racial.

77

daqueles que definem metas de diversidade e inclusão veem a diversidade como um valor central para a organização.

> 90

Estão preocupados com diversidade e inclusão.

 

Governança

A prevenção contra o suborno e a corrupção estão no topo da lista de preocupações de governança das empresas de PE. Mas os três temas que vêm na sequência estão relacionados ao futuro dos negócios sustentáveis. A ligação entre conformidade, regulamentação sobre ESG e governança de riscos e oportunidades ESG é óbvia. As empresas de PE cada vez mais tratarão a ética empresarial, os valores corporativos e a cultura do ponto de vista do investimento responsável ou de estratégias ESG. A perspectiva e a abordagem também serão moldadas pela diversidade e pelo talento inovador de sua força de trabalho. Em última análise, a governança das empresas de PE e das empresas do portfólio determinará se as estratégias de criação de valor que estão sendo elaboradas para enfrentar os desafios do nosso mundo em transformação serão sustentáveis.

Quase 95%

dos entrevistados estão mais preocupados com a ética nos negócios, os valores e a cultura corporativa, a prevenção contra suborno e corrupção e a segurança cibernética e de dados.

89

estão preocupados com o cumprimento da regulamentação ESG.

68

atualmente são signatários dos Princípios para o Investimento Responsável da ONU.

56%

dizem que mais da metade de sua equipe de investimento recebeu algum treinamento formal em ESG.

Próximos passos

Defina uma estratégia, tanto como empresa quanto como investidor

As questões ESG reformularão a economia global nos próximos anos e afetarão o sucesso dos investimentos de PE e de todo o setor de serviços financeiros. São assuntos que estão interligados. É crucial para as empresas de PE incorporar investimento responsável e ESG em sua estratégia geral de negócios e não mais considerá-los uma questão secundária ou oferta especializada. Algumas questões ESG – como risco climático, emissões líquidas zero, diversidade e tecnologias emergentes – terão uma influência abrangente nas empresas e seus portfólios de investimento. Outras questões podem ser mais voltadas para determinadas empresas, segmentos ou lugares. Compreender o panorama geral e os riscos e oportunidades ESG específicos do portfólio ajudará a moldar uma estratégia para criação de valor sustentável.

Defina um roteiro claro e metas para a criação de valor sustentável

As firmas de PE devem abordar os investimentos responsáveis e o ESG da mesma forma que fariam com outras questões estratégicas com impacto direto no retorno de seus investimentos. Em relação ao portfólio, as empresas de PE devem se envolver com as equipes de gestão das empresas do portfólio para incorporar efetivamente o ESG em seus planos de transformação e criação de valor.

Ao avaliar novas oportunidades de investimento, as firmas de PE não devem olhar para os riscos ESG somente durante a diligência. Elas precisam começar a pensar nas oportunidades de criação de valor desde o início e incorporá-las ao plano de criação de valor. Também devem considerar como o ESG pode ser tratado na due diligence comercial, financeira e tributária. Basicamente, os líderes devem verificar se há uma oportunidade de alinhar o negócio com a transição sustentável que possa fazer parte da tese de investimento e liberar o potencial de criação de valor sustentável. Se ignoradas, as questões de sustentabilidade podem corroer o valor, impedir o crescimento e bloquear o acesso ao financiamento. Por outro lado, se tratadas de forma adequada, elas podem impulsionar a criação de valor em todos os níveis.

Monte uma equipe preparada para enfrentar o desafio

Mudanças de paradigma exigem repensar as formas aceitas de fazer as coisas para garantir resiliência. O entendimento das questões ESG será uma necessidade fundamental para investidores de PE bem-sucedidos. É essencial dar treinamento operacional às equipes de investimento, para que possam se preparar de forma rápida e realmente compreender o tema.

As empresas também precisarão recrutar o talento certo para criar valor de forma sustentável. Isso envolverá a contratação de pessoas com experiência em negócios sustentáveis e, em geral, a contratação de equipes mais diversificadas em termos de gênero, etnia, faixa etária, origem socioeconômica e formação. A boa notícia é que as empresas que demonstram um compromisso com ESG provavelmente estarão em melhor posição para atrair e reter esse talento.

Destaque para venture capital

Pela primeira vez desde que iniciamos essas pesquisas, incluímos um pequeno módulo direcionado ao venture capital (VC), em resposta ao entusiasmo que temos visto no mercado. Esse módulo foi feito com 70 respondentes (29 dos quais eram firmas que atuavam somente com VC e 41 eram empresas de PE maiores que tinham uma atividade de investimento de VC). Fizemos quatro perguntas sobre ESG e, curiosamente, não houve grandes discrepâncias na maneira como esses dois grupos de investidores de VC responderam. Isso pode sugerir que não há uma diferenciação significativa entre as práticas em vigor em empresas de VC puras e as práticas das equipes de investimento de VC que operam em uma empresa de PE. Pode ser, na verdade, um reflexo do crescimento significativo do compromisso de VC com a agenda ESG e com uma transição mais ampla para a sustentabilidade.

76

dos participantes da pesquisa no módulo VC atualmente consideram ESG em seu processo de investimento.

37

recusaram um investimento devido a preocupações ESG.

64

dizem que seus sócios comanditários têm expectativas em relação ao gerenciamento de riscos ESG e 57% acreditam que são capazes de se alinhar a essas expectativas.

Principais desafios para VC

Fizemos uma pergunta aberta aos respondentes de VC: “Quais são os maiores desafios em relação à gestão de riscos ESG que você enfrenta como investidor de VC?” Veja alguns trechos de respostas:

  • Falta de recursos dedicados nas empresas em estágio inicial em que investimos.
  • Falta de dados e recursos (em relação ao fundo).

  • O desafio é ser razoável em nossa expectativa em relação ao nosso portfólio.

  • Nível (baixo) de influência e alto crescimento/natureza dinâmica da organização e dos processos de startups de sucesso.

  • Falta de uniformidade em padrões, relatórios e pontuação.

  • Capacidade de identificar os riscos e alinhar uma abordagem de mitigação em pequenas empresas/startups em que os frameworks ainda não são claros/adequados.

  • Escalar esse processo e manter dados de alta qualidade à medida que nós e nossas empresas crescemos.

  • Estamos investindo em empresas direcionadas por uma missão e cujas intenções se alinham totalmente com as nossas. Como a maioria das empresas que recebem investimento tende a ser pequena, elas não têm muita estrutura ESG. Não vemos isso como um risco, mas mais como uma oportunidade de apoiá-las em sua jornada para se tornar uma empresa mais sustentável.

A relevância de ESG para VC

O VC não pode simplesmente replicar a abordagem do PE para incorporar o ESG, devido a questões de tamanho, escala, nível de influência, restrições de recursos e natureza disruptiva inerente às startups. Um dos desafios que o mercado de VC está enfrentando é a falta de um framework ESG adequado para VC e um conjunto acordado de medições/KPIs ESG relevantes e adaptadas. Há valor em incorporar ESG tanto para o gestor de fundos VC quanto para o portfólio, e os resultados encorajadores desta pesquisa talvez mostrem que já existe um nível de maturidade ESG entre nossos respondentes de VC e uma compreensão do valor de ESG, apesar dos desafios únicos e da falta de frameworks.

Como ainda há competitividade para levantar capital no meio venture, uma abordagem bem articulada para ESG pode ser benéfica, especialmente quando assistimos a um aumento das expectativas de investidores e sócios comanditários em relação à integração VC com ESG. Quanto às empresas de portfólio, o desempenho ESG pode aumentar as perspectivas de rodadas de financiamento subsequentes ou de obtenção de valor na saída, seja por venda comercial, aquisição de PE, outra aquisição ou oferta pública inicial. 

A natureza inovadora e os modelos de negócios e tecnologia disruptivos, essenciais para muitas empresas apoiadas por VC, significam que às vezes elas atuam em um espaço não regulamentado. Como novas regulamentações para controlar os riscos e impactos associados a esses tipos de inovações são inevitáveis, há um benefício real em ajustar os fatores ESG e se preparar para futuras mudanças regulatórias. 

Além disso, reputação é um tema crítico e, sem ela, é impossível escalar e atrair investidores. Estamos vendo uma mudança nas expectativas dos consumidores, tanto em nível individual quanto corporativo (por exemplo, há departamentos de compras que avaliam as emissões de gases de efeito estufa de seus fornecedores e como elas contribuem para zerar suas metas líquidas). Ações que enfatizam propósito e sustentabilidade também podem atrair e reter talentos-chave, o que é especialmente importante para as empresas, considerando a competição por recursos com empresas maiores e mais estabelecidas. 

ESG, impacto e criação de valor para VC

O propósito, ou a definição de uma proposta de valor, é especialmente vital para o modelo de negócios de uma startup. Ao pensar sobre a sustentabilidade das startups, estamos vendo VCs indagando como os bens e serviços de uma empresa podem criar valor para a sociedade – por exemplo, apoiando os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Parece haver uma tendência emergente no ecossistema de VC de usar a sustentabilidade, tanto ESG como os impactos, como um mecanismo para qualificar ainda mais os fluxos de negócios e apoiar empresas que realmente contribuirão para tornar nosso mundo melhor, por meio de disrupção e tecnologias inovadoras.

Além disso, a integração do ESG em todo o restante do modelo de negócios – em áreas fundamentais como governança, ética, atividades-chave, relações de negócios e recursos humanos – é fundamental para gerenciar riscos, proteger valor, identificar oportunidades e impulsionadores de criação de valor. Os fundos de VC normalmente assumem uma participação minoritária nas empresas, mas há uma oportunidade para que eles engajem essas empresas na agenda ESG e as preparem para um crescimento sustentável de longo prazo, ajudando-as a assimilar os princípios ESG em seus anos de formação. Com isso, o desempenho ESG é incorporado à cultura corporativa e aos fundamentos operacionais à medida que o negócio se expande. 

O VC tem a oportunidade de encurtar a jornada que a maioria das empresas de PE fez, indo da conformidade básica e de uma abordagem baseada em risco para uma abordagem mais focada na criação de valor sustentável. Talvez já estejamos testemunhando isso, com o recente lançamento de vários novos grandes fundos de VC (e VCs corporativos) focados em tecnologia climática. 

Metodologia

A Pesquisa Global de Investimento Responsável de Private Equity 2021 explora os pontos de vista de sócios comanditados e comanditários sobre o investimento responsável entre empresas globais de private equity. Este ano, 209 empresas de 35 países ou territórios responderam (em 2019, foram 162). Dessas, 198 entrevistados eram sócios comanditados e 41 eram sócios comanditários (145 e 38, respectivamente, em 2019). Alguns entrevistados eram sócios comanditados e comanditários ao mesmo tempo. A grande maioria (81%) é da Europa. Acreditamos que isso se deve ao fato de as empresas europeias terem passado os últimos anos adaptando suas estratégias e atividades de investimento às regulamentações da União Europeia, que exigem divulgação ESG robusta em todo o cenário de serviços financeiros. Esse nível de adoção e adaptação se reflete nos resultados da pesquisa.

Contatos

Mauricio Colombari

Mauricio Colombari

Sócio, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

Christian  Gamboa

Christian Gamboa

Sócio e líder do setor de Private Equity, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

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