O setor de telecomunicações continua crescendo, mas em um ritmo abaixo da inflação. Embora a receita global tenha atingido US$ 1,14 trilhão em 2023, a previsão até 2028 é de um crescimento modesto, com uma taxa média de apenas 2,9% ao ano. Esse desempenho abaixo do esperado ocorre em um cenário no qual os serviços se tornam commodities e os preços enfrentam resistência para subir.
Ainda assim, existem oportunidades reais para as operadoras que souberem explorar nichos e transformar sua atuação. Investimentos inteligentes, foco em conectividade e tecnologia e uma nova abordagem estratégica podem destravar um potencial de US$ 200 bilhões em receitas adicionais até 2028.
Ritmo de desaceleração
A taxa de crescimento do setor está diminuindo
Receita de serviços por tipo, 2019-2028
Obs.: os números de 2019-2023 são reais.
Fonte: Panorama Global de Telecomunicações 2024-2028, PwC e Omdia.
Embora o crescimento global pareça lento, ele esconde variações importantes entre países e tipos de serviço. Mercados emergentes como Índia, Nigéria e Egito apresentam crescimento acelerado, puxado principalmente pelo aumento da base de assinantes, enquanto economias maduras como Japão e Suíça enfrentam estagnação ou retração.
Nos próximos anos, o motor do crescimento será a expansão do número de usuários. O valor médio por cliente (ARPU), no entanto, segue em queda na maioria dos mercados – o que reforça a necessidade de estratégias que combinem escala com inovação para preservar a rentabilidade.
A commoditização dos serviços de conectividade tem pressionado o segmento B2C. A receita média por conta caiu globalmente nos últimos anos, mesmo com o avanço do 5G. Diante desse cenário, as operadoras estão adotando a inteligência artificial como ferramenta para conter custos e melhorar a experiência do cliente.
Soluções com IA generativa permitem automatizar processos, personalizar serviços em escala e otimizar redes com eficiência. Exemplos práticos, como o assistente virtual da AT&T e centros de operações baseados em IA, mostram que a tecnologia já está mudando o jogo no relacionamento com consumidores.
O segmento B2B está se tornando o foco estratégico de muitas operadoras no mundo. Com o declínio nas margens do B2C, empresas buscam novas receitas oferecendo soluções específicas por setor – como IoT, segurança cibernética, redes privadas e serviços gerenciados.
Além das soluções verticais, há também o avanço de iniciativas horizontais, como o projeto CAMARA, que padroniza APIs para uso em diferentes mercados. Casos como o da stc B2B na Arábia Saudita mostram o potencial de construir ecossistemas completos de TIC com forte presença regional e verticalização.
Apesar da rápida adoção global, muitos casos de uso do 5G ainda não se concretizaram plenamente. As assinaturas devem mais do que quadruplicar até 2028, tornando o 5G a tecnologia dominante, mas os desafios continuam em justificar os investimentos feitos pelas operadoras.
O crescimento em áreas como internet fixa sem fio (FWA) e redes privadas começa a ganhar tração. Esses serviços têm potencial para ampliar a cobertura e viabilizar soluções para setores como logística, mineração e agricultura, onde a conectividade em campo é crucial.
Domínio do 5G
Até 2028, o 5G representará quase dois terços das assinaturas móveis
Assinaturas móveis globais por tecnologia, 2019-2028
Obs.: os números de 2019-2023 são reais.
Fonte: Panorama Global de Telecomunicações 2024-2028, PwC e Omdia.
O mercado de IoT celular está avançando, mas com diferenças marcantes entre regiões e setores. O setor automotivo lidera, impulsionado pela conectividade embarcada nos veículos elétricos, cuja frota global deve crescer 12 vezes até 2035.
A maior parte do valor, porém, está na camada de soluções – não apenas na conectividade. Plataformas de habilitação de aplicações e serviços de consultoria devem crescer rapidamente, exigindo que operadoras desenvolvam ou adquiram novas competências para capturar valor além do acesso à rede.
Os investimentos do setor estão migrando para a infraestrutura fixa, especialmente a fibra óptica. Essa mudança reflete o alto valor agregado das assinaturas de fibra até o ponto (FTTx), que oferecem retorno mais rápido e maior ARPU, especialmente em ambientes urbanos e comerciais.
Essa corrida por capilaridade está impulsionando uma nova onda de investimentos, fusões e aquisições. Enquanto o 5G segue em expansão, é a fibra que está no centro das estratégias de capital, preparando o caminho para redes mais densas, resilientes e preparadas para a próxima geração de serviços digitais.
Construindo infraestrutura
Empresas enfrentam pressão para continuar investindo
Capex global por tipo de serviço, 2019-2028
Obs.: os números de 2019-2023 são reais.
Fonte: Panorama Global de Telecomunicações 2024-2028, PwC e Omdia.
A economia digital baseada em inteligência artificial exigirá uma nova infraestrutura – mais conectada, distribuída e energeticamente eficiente. Essa malha de IA será composta por três pilares: conectividade em fibra, computação em borda e energia sustentável.
As operadoras de telecomunicações estão em uma posição única para liderar essa transformação. Com experiência em infraestrutura, acesso a dados estratégicos e presença física em pontos-chave, elas podem se tornar os nós centrais dessa nova rede, ajudando a viabilizar a próxima onda de inovação e crescimento.