Transição energética: custo ou oportunidade

Por Daniel B. M. Martins*

Os avanços da COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021) ainda não são suficientes para atingir a meta de limitar o aquecimento global a apenas 1,50 C acima dos níveis pré-industriais. O consenso é que os acordos atuais representam uma elevação da temperatura média de 2,40 C até 2100. Mas, diante do grande desafio de coordenação que a agenda climática impõe, o saldo é positivo e a mensagem de que novos esforços e rodadas de negociação são necessários e serão realizados, pareceu ecoar entre os mais diversos representantes e stakeholders globais presentes.

O acordo de Paris foi concluído, e a negociação sobre o Artigo 6, que regulamenta regras sobre os mercados de carbono, teve desfechos importantes. Ficou estabelecida a possibilidade de acordos bilaterais entre países para estimular a cooperação voluntária e contribuir para o atingimento dos planos de redução de emissões (NDCs).

Montadoras planejam que 100% de suas vendas sejam livres de carbono até 2040. Os governos dos países onde estão sediados os três maiores fabricantes – Alemanha, China e EUA – ainda não se comprometeram com a meta. No entanto, GM, Ford e Mercedes aderiram a esses planos – isso significa que um terço dos carros vendidos por elas terão emissão zero até 2040. Também teve início o processo de padronização de normas de divulgação de sustentabilidade

O Brasil pode se beneficiar muito da transição energética se souber explorar suas vantagens e investir em tecnologias e infraestrutura para atender a demandas internas e internacionais. 

A transição energética impõe obrigações e exigências, mas cria uma série de oportunidades. Estão sendo desenvolvidos novos mercados e fontes energéticas (como hidrogênio verde, negociação e captura de carbono e biocombustíveis), novos produtos (veículos elétricos, novos segmentos de clientes e fundos direcionados) e serviços (blockchain, eficiência energética, derivativos de energia e gás). A tecnologia por trás dos motores elétricos, por exemplo, tem evoluído rapidamente e com escala o custo seguirá caindo. Na Europa, incluídos os subsídios, o veículo elétrico já é viável economicamente – no Brasil, a expectativa geral é de breakeven em 2030, mas dependendo da rodagem média do veículo a vantagem econômica virá antes.

O hidrogênio verde – grande aposta como fonte energética do futuro – também dá sinais de viabilidade. Além disso, a alta competitividade das energias renováveis no Brasil pode permitir que o país crie vantagens comparativas já no médio prazo. Além de aplicações industriais e no agronegócio (produção de fertilizantes), o H2 verde pode criar oportunidades interessantes de arbitragem e gestão de volatilidade de preços no setor energético. O maior poder de decisão do consumidor, a influência do mercado de capitais e avanços tecnológicos têm acelerado o processo de transição – há uma convergência crescente de interesses econômicos, sociais e políticos.

Empresas globais de energia, como Shell, BP e Total, já estabeleceram um novo posicionamento em relação ao tema e planejam emissões líquidas zero até 2050. A diversificação para renováveis não só cria uma nova avenida de crescimento, mas também reduz o value at risk do setor. A agenda está em curso e não é mais de longo prazo. A transição energética é a 5ª revolução industrial e criará novos padrões, modelos de negócio e mercados.

 

* Daniel B. M. Martins é sócio da PwC Strategy& Brasil

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