A transição energética, urgente e necessária, exigirá investimentos adicionais em tecnologia que podem chegar a US$ 5 trilhões por ano no mundo –um grande desafio, com inúmeras oportunidades para o Brasil. E o agronegócio, em conjunto com a indústria de energia, duas grandes potências brasileiras, podem ter papel fundamental neste processo, acelerando nosso crescimento de forma sustentável e sendo protagonistas no processo de descarbonização.
Dois fatores motivam a busca por fontes de energias renováveis no mundo:
O primeiro está relacionado às mudanças climáticas e à intensificação do aquecimento global. Segundo o estudo Historical GHG Emissionsrealizado pela organização ClimateWatch, em 2019, a atividade de geração de energia foi responsável por cerca de 76% das emissões mundiais de GEE (gases de efeito estufa).
O segundo está relacionado à segurança energética, posta à prova com os efeitos de conflitos geopolíticos, que evidenciaram a elevada dependência que algumas regiões do mundo possuem da energia fóssil altamente concentrada em determinados países. Apesar dos grandes investimentos já realizados em fontes renováveis globalmente, a velocidade de implementação e abrangência ainda não foram suficientes para suprir a crescente demanda, fato evidenciado pelo aumento de 5% das emissões globais em 2021, segundo dados da International Energy Agency (IEA). Alternativas energéticas renováveis e inesgotáveis, como ventos e o sol, permitirão a independência desses países, considerando sua exploração sustentável e a abundância dessas fontes mundialmente.
A transição energética representa um grande desafio para a sociedade, por envolver mudanças nas matrizes energéticas de países e regiões, migrando de modelos predominantemente fundados em combustíveis fósseis para uma nova matriz focada na geração de energia por fontes renováveis. Essa mudança tem impacto relevante na infraestrutura de países e regiões, exigindo investimentos sem precedentes.
Além de envolver mudanças na geração de energia, essa jornada pela transição energética também demanda novas formas de pensar sobre os modelos de produção, consumo e reaproveitamento da matéria. É necessário um olhar mais amplo sobre toda a cadeia de valor das organizações, visando eficiência energética com resultados sustentáveis.
Em nossa 26ª CEO Survey, 81% dos líderes do agronegócio afirmam que suas empresas implementaram ou estão implementando iniciativas para reduzir as emissões, percentual bem superior à média geral brasileira (63%) e à média geral global (66%). Entre os CEOs brasileiros de Energia e Serviços de Utilidade Pública pesquisados, cerca de 73% apontamque a transição para novas fontes de energia deve afetar a lucratividade das suas empresas nos próximos dez anos.
Ser sustentável não é mais uma opção e sim um imperativo de negócio, já que esses setores, assim como vários outros, são impactados pelos riscos decorrentes das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que se apresentam enormes oportunidades com a transição energética e descarbonização. Esse contexto requer revisão estratégica com novos modelos de negócio e investimentos.
A atuação conjunta do agronegócio e da indústria de energia brasileira pode resultar em grandes avanços no processo de transição energética e de descarbonização no mundo. O Brasil possui um grande potencial de produção de biocombustíveis provenientes do aproveitamento de resíduos da agricultura e da pecuária, além do potencial de produção de hidrogênio proveniente de fontes de energia renovável, o chamado hidrogênio verde.
São várias as frentes com avanços significativos:
Esses avanços podem transformar o Brasil em um dos principais exportadores de energia do mundo.
Como em toda oportunidade transformacional, existem temas que precisam ser considerados:
Funding para a transição energética -A velocidade da transição energética para garantir a segurança climática pode exigir investimentos significativos para a adoção de tecnologias mais sustentáveis. Ainda é relevante aprimorar os mecanismos necessários para financiar a transição e garantir sua viabilidade econômica.
O Brasil tem vocação natural de geração de energia a partir de fontes renováveis e o agronegócio tem potencial para alavancar ainda mais o desenvolvimento dessasfontes, podendo posicionar o país como um grande exportador de energia para o mundo, através de hidrogênio, amônia e biocombustíveis. Também é fundamental que os agentes (governo, iniciativa privada, entidades de promoção das indústrias, consumidores, entre outros) promovam intensamente as vantagens e oportunidades competitivas existentes no Brasil para o mundo, abrindo caminho aos investimentos necessários para que esse potencial seja efetivamente realizado. Para isso, a participação mais ativa em fóruns internacionais, comunicação mais intensa sobre as potencialidades do país e união de forças dos diversos agentes são fundamentais.
As possibilidades relacionadas à transição energética no agronegócio brasileiro são inúmeras, e têm sido foco para diversos atores do mercado nacional e internacional, incluindo as startups, que surgem trazendo inovação para acelerar esse processo.
Para avançar nesta frente, é necessária uma maior integração entre os elos das diversas cadeias de valor do agronegócio e do setor energético com o poder público para a construção de políticas transversais que viabilizem e suportem uma transição justa e responsável, conciliando o desenvolvimento socioeconômico, questões de preservação ambiental e segurança energética.
São fundamentais a promoção do diálogo e a construção de estratégias diversificadas de financiamentos, incentivos e execução para que os setores do agronegócio e energia possam aproveitar essa oportunidade única, que certamente vai gerar impactos positivos em toda a cadeia de valor da economia brasileira, impulsionando a jornada rumo ao desenvolvimento sustentável.
Sócio e líder do setor de energia e serviços de utilidade pública, PwC Brasil
Tel: 4004 8000