Diante das crescentes crises globais e do avanço tecnológico, os líderes empresariais enfrentam um desafio de dimensões inéditas: adaptar rapidamente sua força de trabalho para sustentar o desempenho de curto prazo dos negócios, enquanto recriam a cultura organizacional para desenvolver seus profissionais, alinhá-los com o propósito da organização e transformá-los em protagonistas na criação de um novo futuro.
Novas tecnologias reformulam modelos de negócios. A inteligência artificial está desafiando o modo como trabalhamos, criando novas oportunidades e intensificando a necessidade de desenvolvimento contínuo dos profissionais. Diante desta avalanche de transformações, os líderes precisam reinventar suas organizações em resposta a megatendências que estão redefinindo os padrões de negócios e a estrutura social, como as mudanças climáticas, a disrupção tecnológica, as mudanças demográficas, a instabilidade social e um mundo fragmentado pela instabilidade geopolítica e econômica.
O mundo exige uma nova visão das organizações sobre sua forma de atuação. Nossas últimas pesquisas mostraram a profundidade dos dilemas vividos pelas organizações e pelas pessoas:
dos líderes empresariais no Brasil (45% no mundo) não acreditam que suas organizações sobreviverão por mais de dez anos se mantiverem o rumo atual.
dos brasileiros (28% no mundo) afirmam que planejam deixar seu emprego nos próximos 12 meses.
Promover uma rápida adaptação da força de trabalho deve estar entre suas prioridades estratégicas. É necessário não apenas focar nas demandas imediatas, mas também considerar o desenvolvimento de longo prazo.
Em meio aos intensos debates sobre os impactos positivos e também negativos das novas tecnologias e regimes de trabalho, os profissionais devem ser incluídos em um processo transparente, acolhedor e instrutivo sobre as novas possibilidades, equipando-os para empreender essa jornada com segurança e motivação.
Ter pessoas com as competências necessárias é crucial, mas não basta. Para se reinventar e manter seus negócios viáveis no futuro, as empresas dependerão diretamente do engajamento de todo o seu time. É preciso cultivar habilidades interpessoais, adotar um estilo de liderança mais humanizado e promover uma cultura organizacional que suporte e inspire a transformação contínua. Isso implica criar um ambiente no qual os líderes não apenas inspiram, mas também apoiam seus colaboradores, preparando-os para redefinir suas funções e prosperar em um contexto de incertezas futuras.
Não há como compreender as expectativas e preocupações das pessoas e planejar sua transformação sem conversar com os diversos stakeholders envolvidos. Isso significa que sua força de trabalho também deve fazer parte do processo. Por meio do diálogo aberto e contínuo, os profissionais devem ser ouvidos e envolvidos para se sentirem participantes do processo de mudança.
A boa notícia é que 72% dos profissionais brasileiros (66% no mundo) acreditam que os líderes de hoje ouvem e valorizam seus pontos de vista, segundo dados da nossa pesquisa Hopes & Fears 2024.
Mas é preciso lidar também com o aumento do estresse e da ansiedade que acompanha processos de mudança acelerados, pois o medo de assumir riscos ou o ânimo abalado podem impedir o profissional de alcançar seu melhor desempenho. Embora 65% dos brasileiros (60% globalmente) se sintam muito confiantes na estabilidade de seus empregos, as recentes transformações no ambiente de trabalho têm causado insegurança para quase metade desses profissionais. Além disso, 57% no Brasil e 55% no mundo enfrentam dificuldades financeiras.
Programas de mudança organizacional só têm sucesso com a força de trabalho capacitada para assumir riscos, manifestar-se e envolver-se por inteiro no processo. É fundamental construir e cultivar a confiança e promover a saúde mental, respeitando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e compreendendo os desafios impostos pelas novas dinâmicas de trabalho e relacionamento, a fim de garantir segurança psicológica para enfrentar futuro.
Falhas fazem parte dessa jornada. Quando houver erro – algo inevitável e fundamental para evoluir e aprender nesse processo – mas sua cultura promover a tolerância às falhas, suas pessoas seguirão em frente, serão resilientes e compartilharão feedback para melhorarem, sem receio da hierarquia e de serem prejudicadas. Em resumo, em um ambiente favorável, estarão comprometidas com a reinvenção do negócio. As pessoas se engajam no que ajudam a criar.
Para promover uma cultura organizacional inclusiva, na qual as pessoas se sintam livres para serem elas mesmas, expressarem suas opiniões e colaborarem, é importante reconhecer que muitos profissionais no mercado se desenvolveram em um ambiente marcado por uma lógica de comando e controle, com direcionamentos claros e diretrizes restritivas.
O contraste dessa abordagem com a necessidade de inovação nas empresas, que exige que as equipes assumam riscos e explorem soluções não convencionais, é um desafio para quem está acostumado apenas a seguir ordens. Essa mudança cultural demanda uma postura mais humanista, característica fundamental dos líderes transformadores. Eles devem promover a colaboração e incentivar a autonomia, permitindo que os colaboradores se sintam seguros para experimentar e errar.
Um paradoxo é que a evolução cultural, para responder a mudanças prementes, não é rápida. Mas isso não significa que a jornada seja impossível. A evolução da cultura depende de micro intervenções – mudanças pequenas, porém recorrentes, na estrutura, na dinâmica ou na forma de conduzir as interações interpessoais. Cada interação deve ser uma oportunidade consciente para mover a cultura organizacional na direção desejada, construindo, passo a passo, um ambiente mais adaptativo e resiliente.
A atuação em quatro dimensões é essencial para incluir as pessoas na jornada da reinvenção:
Compartilhe sua visão para o futuro da empresa e comunique como cada profissional pode ajudar a moldar esse futuro e torná-lo realidade.
Compreenda as barreiras culturais que podem desafiar seu processo de mudança.
Isso vai ajudá-las a aprimorar suas habilidades e a propor ideias que alavanquem o negócio com base em soluções tecnológicas.
A força de trabalho sem apoio adequado é um risco para o negócio. Promova um ambiente de respeito à diversidade dos profissionais e aos diferentes estilos de liderança.
Estamos de fato agindo?
Sem o apoio e a energia de todas as pessoas, os esforços dos líderes serão em vão. O cenário se complica quando percebemos que as lacunas de competências estão aumentando e grande parte dos profissionais diz enfrentar desafios financeiros.
Para se envolverem plenamente, as pessoas precisam sentir confiança e perceber que a empresa para a qual trabalham é viável no longo prazo. Em resposta a esses desafios, os líderes precisam se perguntar se estão prontos; e se estão presentes em suas organizações:
Fazer as perguntas certas é essencial para iniciar uma jornada de reinvenção sólida nas organizações. Além disso, as pessoas e a cultura devem fazer parte da estratégia. Somente uma equipe comprometida e bem informada sobre suas perspectivas de carreira e os caminhos futuros de sua organização pode promover a reinvenção tão necessária para garantir a longevidade dos negócios.