A de Agro nasce com seis anos de inteligência de dados e R$ 11 mi de smart-money

Nos próximos 12 meses, a empresa pretende disponibilizar R$ 1,8 bilhão em empréstimos a produtores rurais de soja

Julho 8, 2021

O mercado brasileiro ganhou uma nova agfintech, a A de Agro. Que, apesar de nova, nasce com a expertise da agtech Agronow no seu DNA e o smart-money aportado por bolsos como BTG, SP Ventures, ACE, Ricardo Madureira (ex-diretor global da Bayer) e Victor Knewitz (fundador da Zenvia, plataforma de comunicação), além de um family office de ex-banqueiros, que investiram juntos R$ 11 milhões na startup desde a sua fundação, em 2015.

Com 138 milhões de hectares monitorados em centenas de milhares de propriedades rurais, a Agronow foi o embrião da A de Agro, segundo o CEO, Rafael Coelho (na foto acima). Usando imagens de satélite e inteligência artificial de ponta, a agtech — que se transforma agora no braço “A de Agro Labs” — desenvolveu nos últimos anos tecnologia para identificar diferentes culturas plantadas no campo, estimar produtividades históricas e comparar dados macro e micro regionais sem precisar bater em sequer uma porteira.

“Nós seguimos um caminho um pouco diferente de outros players do mercado e decidimos não começar dando crédito. Em vez disso, focamos em aprender, até em função do conhecimento dos nossos investidores”, diz Coelho. Jovem e madura ao mesmo tempo, a A de Agro chega ao mercado com R$ 1,8 bilhão prontos para serem emprestados a pequenos e médios produtores rurais de soja nos próximos 12 meses. 

A captação é oriunda de recursos do BTG, de dois bancos médios e um CRA com viés ESG, que será anunciado na próxima semana. Em fase de experimentação, a A de Agro tem ainda um projeto com uma corretora de criptomoedas, que irá começar pequeno, com captação restrita de R$ 3 milhões e que, no futuro, pode avançar para um alvo de R$ 100 milhões. 

Crédito com garantia de safra, mais barato e rápido

O crédito ofertado pela startup pede garantia de safra, via Cédula de Produto Rural (CPR), mas já tira da jogada a garantia hipotecária, comumente exigida pelos bancos tradicionais.

E, para chegar diretamente na mão do produtor, o recurso captado pela A do Agro poderá seguir três caminhos. A trilha dos bancos parceiros, dos canais de distribuição (mas sem antecipação de recebíveis) ou da concessão de crédito via escritórios da própria empresa, que devem chegar primeiro ao interior de Mato Grosso do Sul e São Paulo. Junto do BTG, a expectativa é levar crédito, mais adiante, também ao Rio Grande do Sul, Piauí, Tocantins e Bahia. 

Com 100% da área agrícola brasileira mapeada, a proposta da agfintech é cruzar os dados que tem das propriedades com os do Cadastro Ambiental Rural e poder informar para um banco ou revenda, por exemplo, qual o risco de emprestar dinheiro para esse ou aquele produtor. O tíquete dos empréstimos deve variar de R$ 400 mil a R$ 1,2 milhão por agricultor, sendo a ideia começar com os de soja e depois incluir os de milho.

O score de crédito da startup é baseado em uma série de indicadores: escala da área, produtividade relativa, homogeneidade da lavoura, balanço de área dos últimos anos, relevância da cultura na região, experiência do produtor, clima e receita potencial estimada. Aos quais irão se somar, em breve, o tamanho da reserva legal e área de preservação permanente e checagem para verificar se há atividades agrícolas ou pecuárias sobrepostas a essas áreas de preservação. Assim, com 10 indicadores, o score irá variar de 0 a 1 mil. 

Em relação à taxa de juros, Coelho afirma que será personalizada. “A gente não vai chegar na revenda e descontar o recebível dela, queremos gerar valor direto para o produtor e oferecer a melhor condição de empréstimo para ele. Vamos calcular a taxa de juros caso a caso, conforme os dados específicos da fazenda”, diz. Reconhecendo que a taxa pode flutuar bastante, o empreendedor afirma que um target para os bons pagadores pode ficar na casa de 1% ao mês ou 12,6% ao ano, contra taxas anuais de 13% a 16% praticadas hoje no mercado por grandes bancos. 

A liberação do crédito também promete ser mais rápida do que nos bancos tradicionais, em que o prazo para o dinheiro cair na conta pode chegar a 20 ou 30 dias. A depender do parceiro, a A do Agro estima que esse número possa cair para, inclusive, 5 dias. 

Sem limites para crescer

Nova entrante no mercado de crédito agrícola, estimado por especialistas em mais de R$ 600 bilhões, a A do Agro acredita que seu crescimento não irá esbarrar no da concorrência. “Esse mercado está se criando. Tem muito produtor rural que não pega crédito por conta da burocracia ou porque não consegue provar o quanto produz. Nós, e outras startups, queremos permitir que os bancos que já atuam nesse mercado possam ofertar mais crédito e que novos bancos tenham braço para chegar nos produtores”, afirma. 

O modelo que Coelho enxerga à frente é o que já deu certo no mundo das fintechs, povoado por várias startups, com focos específicos de mercado e atuantes em diferentes regiões. No caso do agronegócio, a segmentação, além de geográfica, também tem sido feito por cultura, o que amplia ainda mais os horizontes. 

E, no que depender da A do Agro, eles irão longe mesmo. Recém-nascida, a startup co-fundada por Rafael Coelho, Rodrigo Almeida, Eduardo Carvalho e Erik Perillo já vislumbra captar US$ 7 milhões nos próximos meses e aumentar o time, hoje de 25 pessoas, para um total de 100.

Contatos

Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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