Inovação aberta no agro: formas de relacionamento com startups

Da contratação de serviços aos investimentos, confira as opções para as empresas do agronegócio se relacionarem com o ecossistema empreendedor

Dezembro 7, 2021

A aproximação com as startups é o caminho mais curto até a fronteira da inovação (Foto: AgTech Garage)

Por Marina Salles e Vitor Silva

No caminho da inovação aberta, em que as ideias vêm de toda parte, as formas de relacionamento com as startups são muito variadas e permitem que as empresas escolham o melhor caminho dentre várias oportunidades. 

A relação mais simples, nesse sentido, é a contratação dos serviços das startups, que pode partir, dependendo do projeto e do estágio da startup, de uma etapa anterior de experimentação e teste do produto. É aí que entram as provas de conceito, famosas POCs, ou o mínimo produto viável, o tal do MVP

Já falando de relações mais sofisticadas, é comum que elas aconteçam em sistema de co-desenvolvimento ou colaboração, que pedem por acordos para preservar a propriedade intelectual. Neste caso, os desdobramentos da relação, principalmente entre startups, grandes empresas e a Academia, pode culminar na formação de joint-ventures ou spin-offs

Caminhando no sentido de se aproximar das startups, os demais agentes da inovação — sejam empresas, investidores ou produtores rurais — ainda podem aportar capital nos negócios nascentes por meio de uma série de modalidades de investimentos

Para esclarecer o que cada uma dessas formas de relacionamento com startups prevê, preparamos uma lista completinha para você: 

Contratação de serviços

Uma das formas mais simples de se relacionar com as startups é por meio da contratação dos seus serviços. Mas é importante ressaltar aqui que elas não podem ser tratadas como um fornecedor comum. As startups são fornecedores inovadores, que, via de regra, ainda estão escalando sua solução no mercado e conquistando os primeiros clientes. Daí a necessidade de as empresas serem mais ágeis no seu relacionamento com elas. Nesse processo de desburocratização das relações, é essencial simplificar os processos das áreas jurídica e de suprimentos, adaptando desde o pedido de documentos para as startups até as cláusulas dos contratos com elas. Em artigo para o AgTech Garage News, a Suzano, líder mundial na produção de celulose de eucalipto, explora as melhores práticas para contratação de startups

Prova de Conceito (POC): modelo prático de teste de uma solução, a Prova de Conceito, ou POC, confirma uma teoria antes de expandir um projeto, ajudando a mitigar riscos e fazer correções de rota ainda em pequena escala. Geralmente, a POC vem como um primeiro passo antes da efetiva contratação de uma startup e tem um objetivo e um prazo determinado para acontecer, se estabelecendo com uma fase de teste da solução. É neste momento que as ideias são colocadas à prova para análise da viabilidade e para que se possa passar à etapa seguinte, de formalização do contrato com a startup e ganho de escala no projeto. Conheça a experiência da Suzano com a condução de POCs. A POC não deve ser confundida com o MVP (veja abaixo). 

Mínimo Produto Viável (MVP): sigla para mínimo produto viável, o MVP, consiste de um produto simplificado, criado ao menor custo ou no menor tempo possível para entrar em fase de testes e servir como modelo de validação, em geral, para um ou mais clientes de uma startup. É o produto suficiente para demonstrar a aplicação prática de uma solução e é muito comum surgir no estágio inicial de formação das startups.

Co-desenvolvimento de soluções

Conceito usado em várias áreas, o co-desenvolvimento pressupõe que um produto ou serviço é fruto do trabalho realizado a múltiplas mãos. A partir da cooperação entre parceiros, a ideia é que se crie algo mais robusto de forma mais rápida. Um exemplo interessante de co-criação e lançamento de novos produtos, que aconteceu dentro do AgTech Garage, é da Genesis Group em parceria com as startups Zeit e a MVisia. O co-desenvolvimento de uma solução pode dar origem a um produto com a patente compartilhada, a uma empresa independente (spin-off) ou mesmo um empreendimento conjunto de CNPJs já existentes (joint-venture).

Spin-off: Do inglês, “subproduto”, o termo spin-off designa a criação de um novo negócio, de uma nova empresa independente, a partir de uma companhia que já existia no mercado. No agronegócio, são comuns também as spin-offs acadêmicas, empresas formadas para tornar comercial uma solução desenvolvida dentro do ambiente das universidades, fruto do registro de uma patente de pesquisa. No dia a dia, o termo spin-off é bastante usado no contexto de séries de televisão, para quando é criada uma produção totalmente nova a partir de um título já conhecido do público. Nesse caso, um personagem secundário da trama original pode ser o protagonista da série spin-off.

Joint-venture: modelo de colaboração em que duas ou mais empresas se unem em torno da oferta de um produto ou serviço em comum sem perder a sua identidade original. A joint-venture pode até ser batizada com um novo nome, mas seu vínculo permanece com as empresas-mãe. É o caso da BBSF, sigla para Bosch Basf Smart Farming, em que a Basf tem 50% das ações e a Bosch, outros 50%, na BBSF. No exemplo, a Bosch traz para a joint-venture seu know-how no desenvolvimento de hardwares, softwares e serviços digitais. Já a BASF Digital Farming dispõe do xarvio, que automatiza em tempo real a tomada de decisão quanto ao manejo de plantas daninhas. No portfólio da BBSF já foram anunciados dois produtos. Uma  Solução de Pulverização Inteligente (Smart Spraying Solution), em fase de teste na América do Norte, América do Sul e Europa. E uma Solução de Plantio Inteligente, já disponível comercialmente no Brasil e Argentina. 

Investimentos em diversos estágios

Além de contratar os serviços das startups ou co-desenvolver produtos com elas, é possível estar mais perto da fronteira da inovação investindo nesses negócios. Os investimentos são uma forma de aproximar profissionais independentes, gestoras de recursos, fundos, family offices e empresas do universo da inovação. Abaixo, você confere as principais modalidades de investimentos disponíveis para o ecossistema empreendedor

Investimento anjo: fruto da iniciativa de um investidor independente, o investimento anjo costuma se dar no início da jornada empreendedora. Geralmente, o investidor anjo compra participação minoritária no negócio e também apoia o empreendedor com seu conhecimento de mercado (smart money) e relacionamentos para gerar novas oportunidades de crescimento. 

Venture Capital: Investimento de risco em empresas, sobretudo, de estágio inicial e com potencial de escalar seu negócio. No contexto do Venture Capital, pode ocorrer mais de uma rodada de investimento nas startups — desde aporte Seed (capital semente), Série A, B e, assim por diante, até chegar na Série E.

Private Equity: modalidade de investimento destinada a empresas mais maduras, normalmente de porte médio e com boa capacidade de crescimento. Os cheques neste estágio e a participação acionária no negócio costumam ser maiores e o interesse do investidor, muitas vezes, está em levar a empresa para uma abertura de capital em bolsa de valores. Outro tipo de saída (desinvestimento) é a venda da empresa para outra companhia.

Corporate Venture Capital: assim são chamados os movimentos de investimentos diretos de grandes corporações em startups, de forma organizada e planejada, seguindo o propósito de absorção de processos inovadores na estratégia das empresas. Esse tipo de investimento é derivado do Venture Capital é muito comum no agronegócio, que tem fundos como Leaps by BayerSyngenta Group Ventures e Basf Venture Capital. O próprio AgTech Garage também facilita o caminho do investimento em ag&food techs para as empresas, por meio do fundo criado ao lado do The Yield Lab. 

Gostou da matéria? Para aprofundar seus conhecimentos em inovação junto com startups, clique para ouvir o AgTech Garage Podcast sobre Porque, como e quando se relacionar com startups, disponível na Apple Store e Spotify.

Contatos

Maurício Moraes

Maurício Moraes

Sócio e líder do setor de Agronegócio, PwC Brasil

Dirceu Ferreira Junior

Dirceu Ferreira Junior

COO do PwC Agtech Innovation e sócio, PwC Brasil

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