Março 22, 2022
No modelo de negócio dos hubs de inovação, a chave está na combinação dos espaços de experiências, físicos e virtuais, com o motor da inovação aberta (Foto: AgTech Garage)
Por Vitor Lima*
Você sabe o que é um hub de inovação? Ou quem pode participar dele? Se funciona de forma remota ou presencial? Se geralmente são especializados ou não? José Tomé, CEO e co-fundador do AgTech Garage, gosta de definir nosso hub assim:
Baseado no episódio Como funciona um Hub de inovação, do AgTech Garage Podcast, José Tomé e Dalana de Matos, Líder de Learning & Experience do nosso hub, — o maior hub de inovação aberta especializado em agronegócio da América Latina — nos ajudam a compreender a construção desta nova economia por meio das principais nuances e particularidades que permeiam o modelo de negócios do AgTech Garage.
Primeiramente, a nova economia à qual Tomé se refere se pauta em uma lógica de mercado que prioriza a oferta de serviços acima dos produtos, e está centrada em pessoas e tecnologias.
Para entender o modelo, vamos às comparações mais comuns.
No mundo das startups, as incubadoras geralmente ficam sediadas em universidades e atendem negócios nascentes oferecendo infra-estrutura e serviços de apoio (seja contábil, jurídico etc).
Um hub também pode funcionar como a sede de uma startup e ajudar a potencializar o negócio, mas o foco está mais em fomentar sua comunidade de inovação que pode ser global, e inclui outros atores, como empresas, pesquisadores e investidores.
Fazendo um paralelo com o mundo da computação, seria o equivalente a dizer que os hubs contam com um hardware (espaços físicos e virtuais de relacionamento) e um software (a inovação aberta, em rede, colaborativa).
Hubs de inovação aberta orquestram programas para gerar conexões entre grandes empresas, startups, investidores, academia e outros agentes, como produtores rurais, no caso do AgTech Garage.
Atualmente, a rede de parceiros do AgTech Garage já conta com mais de 70 grandes empresas parceiras e quase 1 mil startups cadastradas na sua plataforma. Para gerar valor para todos os envolvidos, densidade e diversidade são características-chave dessa comunidade.
Redes densas de parceiros geram ambientes mais robustos de interações e aumentam a chance de qualquer um dos atores do ecossistema de inovação encontrar algo precioso sem ter que sair do quintal de casa. A heterogeneidade dos perfis e soluções também contribui para o avanço mútuo dos agentes, que se complementam e colaboram em rede.
José Tomé, CEO do AgTech Garage
Em um ecossistema maduro, vale destacar, também, que a densidade pode aumentar à medida que os agentes já conectados assumem novas facetas: “Um produtor rural pode, por exemplo, se conectar ao hub buscando um programa que resolva seus desafios no campo por meio da tecnologia de uma startup, e acabar se tornando investidor do negócio”, conta Tomé.
A pandemia acelerou o crescimento da comunidade de inovação virtual do AgTech Garage, mas desde antes da covid-19 o modelo de negócios do hub já apontava para a coexistência dessas duas realidades. O modelo em que acreditamos não está muito distante do que já é realidade para os jogos de futebol:
“Podemos ir ao estádio e vivenciar aquela energia do mundo físico. Ver a partida sozinho em casa do celular ou, ainda, se reunindo com amigos para acompanhar juntos pela televisão”, exemplifica Tomé. De um lado, a primeira experiência é 100% no mundo físico. A segunda, 100% digital E, no meio do caminho, estar com os amigos vendo pela televisão é uma experiência híbrida (física e digital).
Formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc-SC), Dalana nos fala também sobre como os espaços são pensados nos centros de inovação para potencializar a experiência dos frequentadores.
Dalana de Matos, Líder de Learning & Experience no AgTech Garage
“Na arquitetura, a visão é de que os espaços agem para além de sua função. Eles devem tangibilizar o propósito planejado para o ambiente”, diz. No caso dos hubs, o propósito é gerar conexões genuínas no cotidiano, promover relacionamentos entre os diferentes atores em momentos que não foram necessariamente planejados e fazer negócios.
Enquanto o momento presencial permite estas conexões espontâneas, o complemento vem da abrangência proporcionada pelo modelo virtual, muito mais escalável. Sem a combinação dos dois, a Copa do Mundo de 2018 nunca teria alcançado uma audiência de 3,5 bilhões de pessoas — pouco menos da metade da população do planeta.
Usando o case do AgTech Garage, Tomé diz que a escolha da sede física de um hub de inovação nunca se dá por acaso. “Foi a cidade que escolheu o hub, e não o contrário. Esses movimentos acontecem em ecossistemas que já tem sua densidade. Para o agronegócio, Piracicaba (SP) já estava pronta. Se não fôssemos nós, alguém fundaria um AgTech Garage por aqui”.
A cidade tem dezenas de agentes do setor a alguns quilômetros ou até metros de distância do hub: como a Raízen, grande produtora de etanol e distribuidora de energia; Coplacana, forte cooperativa de produtores de cana-de-açúcar; Escola de Agricultura Luiz de Queiróz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), pólo de formação de talentos em Ciências Agrárias; e centros de tecnologia, como Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), apenas para citar alguns exemplos.
Segundo Dalana, o segredo está na gestão de toda essa rede, para ampliar ainda mais os horizontes: “Temos no AgTech Garage o cargo de Gestor de Comunidade, pois, de fato, o que existe aqui dentro é uma comunidade de inovação gerida de forma profissional”.
Esta classificação dos hubs é usada quanto aos setores da economia em que eles concentram seus esforços.
No caso do AgTech Garage, Tomé fala sobre uma terceira via: o hub temático do agronegócio. A escolha deste modelo possibilita ações direcionadas — como o For Farmers, programa pensado para atender demandas específicas de grupos de produtores rurais — e atende também a demandas transversais dos parceiros — como a necessidade de buscar startups de RH para auxiliar no treinamento da mão de obra do setor produtivo.
Dalana conta que existem hoje movimentos de verticalização dentro dos próprios hubs horizontais, com o objetivo de potencializar a geração de valor para os diferentes parceiros.
Hoje, o AgTech Garage já tem parceiros de 10 setores da economia (entre logística, crédito, bens de capital, maquinário e outros) e cada um tem o papel fundamental de agregar densidade à comunidade de inovação.
*Com edição de Marina Salles