A transição energética está redesenhando o mapa geopolítico e industrial do mundo — e os minerais críticos são o novo epicentro dessa transformação. Lítio, grafita, níquel, terras raras e outros elementos fundamentais à produção de baterias, turbinas e veículos elétricos têm ganhado centralidade estratégica. Países com reservas relevantes e matriz energética limpa ganham protagonismo. Mas o Brasil pode sair da condição de exportador de commodities e ocupar um lugar de destaque na nova economia verde?
O Brasil combina atributos raros: riqueza mineral, energia limpa, estabilidade relativa e visibilidade crescente com a COP30. Para sair da condição de exportador de insumos básicos e se um tornar player estratégico no mercado, será preciso articular visão de longo prazo, capacidade industrial, diplomacia econômica e políticas que incentivem a agregação de valor e a inovação.
A cadeia dos minerais críticos vai muito além da mineração. Cada elo – da prospecção geológica à reciclagem – exige conhecimento técnico, escala industrial e regulação eficaz. O Brasil tem vantagens na extração, mas carece de infraestrutura e políticas públicas para avançar nas etapas de maior valor, como o refino, a transformação química e a manufatura tecnológica.
A baixa coordenação entre mineração, indústria, logística, pesquisa e política externa impede que o Brasil aproveite o valor estratégico de seus recursos. A ausência de plantas de refino, marcos regulatórios eficazes e incentivos à inovação cria uma lacuna que outros países — com políticas mais integradas — estão aproveitando. O resultado é a perda de competitividade e protagonismo.
Diversas rotas podem ser exploradas: verticalização da cadeia produtiva, atração de investimentos para etapas industriais estratégicas, inserção em alianças globais por cadeias sustentáveis e políticas públicas que conectem mineração, energia e inovação. O Brasil pode se beneficiar de marcos regulatórios mais ágeis, incentivos à transformação local e integração entre ciência, indústria e diplomacia para consolidar uma posição de liderança nas cadeias globais emergentes.
O mercado passa por uma fase de consolidação e reconfiguração global, com grandes players buscando garantir acesso a reservas, verticalizar operações e formar alianças estratégicas com governos e indústrias.
Montadoras, mineradoras e fundos soberanos aceleram movimentos em direção à integração de cadeias e diversificação de ativos. Nesse ambiente, o Brasil volta ao radar dos investidores, impulsionado pela demanda e por vantagens competitivas como matriz energética limpa e abundância mineral. Entre 2021 e 2024, o país registrou um crescimento expressivo no volume de fusões e aquisições no setor mineral, atraindo capital internacional e fomentando projetos estruturantes em lítio, nióbio e terras raras. Operações como as da Atlas Lithium, Sigma Lithium e CBMM evidenciam a estratégia de integração produtiva e valorização local dos recursos.
Ao mesmo tempo, uma nova geração de projetos em desenvolvimento – conduzida por empresas nacionais e estrangeiras – amplia o portfólio brasileiro e fortalece sua posição nas cadeias globais. Para se posicionarem nesse cenário dinâmico, as empresas precisam antecipar movimentos, investir em inovação e buscar sinergias que conectem mineração, tecnologia e indústria.
O desafio e a oportunidade estão em alinhar estratégias empresariais a uma visão industrial de longo prazo, participando da extração e da transformação econômica e tecnológica que os minerais críticos representam. A janela está aberta e quem se mover agora poderá ocupar posições de liderança duradoura no cenário global.
Daniel Martins
Sócio e líder da indústria de Energia e Serviços de Utilidade Pública, PwC Brasil