PwC Debate | ESG

O momento é mais do que oportuno para que as empresas relatem com maior clareza o impacto de suas atividades: o Brasil é o primeiro país do mundo a adotar o novo padrão mundial de relatórios de sustentabilidade criado pelo ISSB.

Com os novos padrões internacionais e o aumento da expectativa de clientes, investidores, profissionais, órgãos reguladores, cidadãos e outros stakeholders em relação aos impactos das organizações sobre a sociedade, os relatórios corporativos de sustentabilidade representam uma oportunidade inédita de gerar valor além dos demonstrativos financeiros. Relatar informações com maior profundidade, seguindo um padrão que permita comparação, acompanhadas de evidências e com uma visão mais ampla da longevidade dos negócios  é uma iniciativa capaz de impulsionar transformações concretas e positivas no campo da sustentabilidade, reforçando a solidez das estratégias de sobrevivência e competitividade das empresas. O desafio está em estruturar uma governança e  gestão de riscos que permitam a coleta e a comunicação de informações completas e confiáveis.

Hora de aprofundar a história que as organizações contam

O propósito das organizações está sob escrutínio, e as expectativas sobre seus relatórios estão aumentando. Em linha com a consolidação do conceito de ESG, investidores e outras partes interessadas exigem informações mais holísticas sobre as oportunidades de criação de valor de longo prazo por parte das empresas e seu impacto mais amplo na sociedade.

Novos frameworks de sustentabilidade estão surgindo no mundo para responder essas demandas. As organizações precisam se preparar antecipadamente para entender e atender esses requerimentos, e ao mesmo tempo comunicar uma mensagem assertiva de como abordam os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade na estratégia de negócios.

Embora muitas empresas publiquem relatórios de sustentabilidade, grande parte deles ainda é fragmentada e inconsistente com outras fontes de informação divulgadas pela própria organização. Isso torna a tomada de decisões para as partes interessadas – sejam investidores, clientes, funcionários ou formuladores de políticas – desafiadora. Para permitir uma melhor compreensão do desempenho de longo prazo e das perspectivas de criação de valor e sustentabilidade de uma empresa, é necessário promover a transição para relatórios não financeiros globalmente consistentes e seguros que sejam tão detalhados, fundamentados e documentados  quanto os relatórios financeiros.

De opção a imperativo

A atividade regulatória nos últimos anos não tem precedentes: a União Europeia publicou novas normas de sustentabilidade que alcançarão milhares de organizações que operam nessa jurisdição; a SEC lançou uma audiência pública para a criação de normas sobre divulgações de mudanças climáticas; o International Sustainability Standards Board (ISSB), criado pela IFRS Foundation, lançou as duas primeiras normas sobre a divulgação de informações de sustentabilidade. No Brasil, o Banco Central, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Comissão de Valores Mobiliários introduziram novas normas de divulgação de informações de sustentabilidade.

Investir no tema não é mais uma opção – é um imperativo para atender às expectativas da sociedade e garantir assim um alinhamento estratégico que, no fim das contas, se traduz em transparência e longevidade. O Brasil foi o primeiro país do mundo a adotar o novo padrão mundial de relatórios de sustentabilidade criado pelo ISSB. A CVM anunciou em outubro de 2023 que as normas serão incorporadas ao quadro regulatório brasileiro, com um cronograma para adesão voluntária a partir de 2024 e uso obrigatório a partir de 1º de janeiro de 2026. O padrão exigirá que as empresas adotem processos de governança para informações em ESG, além de asseguração razoável por auditor independente registrado na CVM.

Governança, visão dos riscos, controles e pessoas qualificadas são fundamentais

O avanço da normatização e o aumento das expectativas  apresentam desafios que, encarados com efetividade, transformam-se em oportunidades significativas para a solidez das organizações. Elas precisam:

  • Revisar e melhorar a estrutura da governança, a fim de monitorar os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.
  • Construir  uma visão cada vez mais clara de como os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade afetam suas perspectivas de competitividade e longevidade.
  • Reforçar a atenção  à área de gestão de riscos nas organizações, garantindo sua conexão com as demais áreas estratégicas e operacionais.
  • Criar e consolidar sistemas e controles para monitorar riscos, oportunidades, gerar diálogos construtivos com os stakeholders e mensurar com clareza e precisão os diversos tipos de impacto nas frentes ambiental, de governança e social.
  • Garantir que existam programas de desenvolvimento das pessoas (upskilling) nas diversas áreas envolvidas, diante da crescente complexidade dos temas de sustentabilidade.

Os impactos dessas ações beneficiam as empresas, investidores, profissionais e sociedade como um todo:

  • A maior confiabilidade e comparabilidade entre os indicadores de sustentabilidade propiciará uma visão mais clara dos impactos dos temas de sustentabilidade das empresas, permitindo aos investidores e demais usuários das informações a tomada de decisões mais fundamentadas.
  • O investimento em estruturas de governança, sistemas e controles resultará em empresas mais sólidas e confiáveis.
  • O investimento em atualização e formação de mão de obra qualificada criará espaço para o crescimento dos profissionais que já atuam com sustentabilidade e das oportunidades para o ingresso de novas pessoas nesta área em expansão.

Reflexões: o relato como incentivo à transformação

Relatórios melhores não medem apenas a criação de valor de forma sustentável, mas também a incentivam. Os relatórios não só medem o sistema, como também ajudam a alimentá-lo ao aprofundar o conhecimento sobre seus impactos.

As novas normas de divulgação alteram não somente as informações que as empresas divulgam, mas também convidam a uma reflexão sobre os seus processos e políticas acerca de temas de sustentabilidade. Sozinhas, as normas não têm o alcance de determinar o que as empresas devem fazer. Mas a divulgação de forma transparente de como os temas de sustentabilidade são tratados por uma organização é capaz de transformá-la.

A complexidade de implementação pode variar dramaticamente de uma organização a outra, dependendo do seu porte, segmento de atuação e estratégia voltada à sustentabilidade.

No entanto, está claro que, somados, o aumento da expectativa da sociedade, a cobrança dos stakeholders e a adoção de normas padronizadas representam uma chance única para que as organizações se posicionem ativamente em relação aos temas de sustentabilidade. As empresas que enfrentarem os desafios poderão construir confiança, consolidar suas estratégias de longo prazo e ajudar na superação dos grandes desafios que a humanidade enfrenta, representados pelos pilares ESG. 

Contatos

Mauricio Colombari

Mauricio Colombari

Sócio e líder de ESG, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

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