Julho 12, 2022
Por Marina Salles
O fundo Blue like an Orange Sustainable Capital acaba de anunciar que fez parte da rodada de captação de US$ 60 milhões por meio da emissão de títulos de dívida (debêntures) da Solinftec, anunciada em maio e liderada pelo Lightsmith Group, com participação também da Unbox Capital.
A contribuição do fundo americano foi de US$ 10 milhões e fortalece o posicionamento da agtech na oferta de soluções de impacto para ajudar a conter as mudanças climáticas (algo vital para a tese do Lightsmith Group e que se enquadra também nos critérios do Blue like an Orange).
Com o slogan “Capital sustentável por um mundo melhor”, o Blue like an Orange Sustainable Capital, também conhecido como BlaO, busca oportunidades de investimento em soluções de impacto social e ambiental alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Na lista de critérios para assinar novos cheques está também a sustentabilidade financeira dos negócios, que devem ter boa relação risco-retorno. Os sócios diretores do BlaO são Bertrand Badré, Rashad Kaldany e Emmanuelle Yannakis.
Na lista de projetos há desde uma solução sistêmica para fomentar a adoção de práticas agrícolas regenerativas na cadeia da soja na região do Matopiba (Regen-cert, da Adapta) até uma plataforma de rastreabilidade e um selo “Soja Verde” capaz de demonstrar a origem do grão e estimular o cultivo sustentável, em conformidade com as leis ambientais (Painel de transparência da soja, da Busca Terra). Tecnologias de internet das coisas e blockchain também aparecem com aplicações inovadoras, uma na proposta de monitoramento dos sons das florestas a partir de IoT e inteligência artificial (Ouvidos da natureza, da Green Bug) e outra na plataforma para negociação de contratos futuros a partir de pixels verdes, coletados por satélite e armazenados em sistema blockchain (Green Pixel Initiative, da SciCrop).
Com recursos do Land Innovation Fund e expertise do AgTech Garage no acompanhamento das soluções, o Startup Finance Facility dispõe de R$ 3,4 milhões para catalisar o desenvolvimento, a testagem e a implementação de soluções inovadoras que levem inteligência, segurança e sustentabilidade à cadeia da soja no bioma Cerrado, com a possibilidade de aumento de receita com a entrada de novos parceiros interessados em apoiar o ecossistema de inovação para o agronegócio sustentável.
Os quatro novos projetos a receber aporte financeiro do Startup Finance Facility compõem um portfólio de inovação para toda a propriedade rural – da área de cultivo à floresta em pé – e oferecem soluções em conservação, produção e mecanismos financeiros, três das quatro vias de atuação do Land Innovation Fund na América do Sul.
Investidores da Blue Like an Orange Sustainable Capital: Bertrand Badré, Rashad Kaldany e Emmanuelle Yannakis (da esq. p/ dir.). (Imagens: BlaO)
Bertrand Badré é francês e ocupou posições de liderança em bancos como World Bank Group e Société Générale. Recentemente, teve o prefácio do seu livro com Gordon Brown, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, assinado por ninguém menos que o presidente da França, Emmanuel Macron — reconhecido por seu engajamento quando o assunto é o aquecimento global. O título do livro é: “As finanças podem salvar o mundo? Como recuperar o controle sobre o dinheiro para servir ao bem comum”.
Já Rashad Kaldany tem 30 anos de experiência investindo em mercados emergentes. Os primeiros 25, na International Finance Corporation (IFC), que integra o Grupo do Banco Mundial e presta serviço de consultoria e administração de ativos para o setor privado em países em desenvolvimento. Na saída do IFC, Kaldany ocupou uma cadeira no Caisse de dépôt et placement du Québec (CDPQ), investidor institucional de Québec no Canadá. No CDPQ, elevou a carteira de aportes em países emergentes de US$ 500 milhões para US$ 4 bilhões em quatro anos até chegar ao BlaO.
Antes de se juntar ao BlaO, Emmanuelle Yannakis construiu uma experiência sólida em governança corporativa, gestão de riscos, estratégia e inovação e digital. Em seu último cargo pré-fundo, foi integrante do Comitê Executivo da LCL (rede francesa de varejo do banco Credit Agricole), sendo responsável por Finanças, Varejo e Crédito Corporativo.
No chapéu dos investimentos em infraestrutura socio-ambiental de países emergentes, o Blue like an Orange Sustainable Capital acopla, além da agricultura sustentável, soluções de acesso à educação e saúde. Tem ainda outros dois pilares de investimento: serviços habilitados para infraestrutura e tecnologia (TES, em inglês) e acesso a crédito.
O investimento realizado pelo fundo na Solinftec visa promover uma agricultura eficiente e que otimiza o uso de recursos naturais. Com o capital, a meta é que a agtech acelere a expansão de sua plataforma de inteligência artificial para operações agrícolas (Alice IA) e da sua solução de robótica (Solix Ag Robotics) nas Américas do Norte e do Sul.
O financiamento contribuirá ainda para a Solinftec avançar no compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Entre eles: ODS 9 (Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação), ODS 12 (Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis) e ODS 13 (Tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos).
“Acreditamos estar vivendo um novo marco histórico na agricultura com a adoção da robótica nos campos", diz Britaldo Hernandez, CEO da Solinftec. "A Blue like an Orange participa deste momento revolucionário ao aderir ao nosso propósito de aumentar a produção de alimentos e mitigar o impacto ambiental e social transformando o manejo agrícola atual numa prática sustentável", completa.
No segundo semestre, o plano da Solinftec é levantar uma rodada de Série C no valor de US$ 100 milhões que deve colocá-la em vias de se tornar o primeiro unicórnio do agronegócio brasileiro. Em 2021, a Solinftec registrou receita de R$ 230 milhões por meio de seus planos de assinatura. Deste total, cerca de R$ 170 milhões vieram do Brasil, R$ 45 milhões dos EUA e o restante dos demais países da América Latina.
A empresa já monitora mais de 85% das operações de cana-de-açúcar no país onde fica sua sede, em Araçatuba (SP), além dos mercados de grãos, fibras e culturas perenes, como citros, café e silvicultura. Na América do Norte, além de oferecer uma solução de gerenciamento da operação agrícola, também está testando o robô Solix. Nos Estados Unidos, os testes estão sendo conduzidos em parceria com a cooperativa Growmark e a Purdue University. No Canadá, com a Stone Farms e a University of Saskatchewan.
Em nota, Cristina Penteado, Diretora Executiva e Head do Blue like an Orange Sustainable Capital no Brasil, afirma: “A agricultura sustentável é crítica para enfrentar as mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar, uma prioridade em nosso programa de investimentos. Estamos muito entusiasmados com a parceria com os fundadores e investidores da Solinftec". Ao lado da agtech, a missão agora é inovar para superar os desafios do campo.