Aprovada em 2023, a Reforma Tributária sobre o Consumo passará a vigorar em 2026 e terá implementação completa até 2033. Para enfrentar um dos maiores desafios corporativos da década, as empresas precisam avaliar riscos, rever estratégias e se adaptar a um novo sistema que promete simplificar, mas também traz incertezas.
Para ajudá-las no processo, a PwC Brasil realizou, em agosto de 2025, uma pesquisa com organizações de diferentes portes, setores e regiões. O estudo revela o estágio de preparação das companhias, suas principais preocupações e as medidas estratégicas já em andamento para lidar com os impactos da transição tributária.
das empresas veem a área tributária como a mais impactada.
já envolvem contabilidade no processo de adaptação.
ainda estão no estágio inicial de análise dos impactos.
temem aumento da carga tributária sobre a cadeia de valor.
têm faturamento acima de R$ 1 bilhão.
Mais de um terço das empresas participantes da pesquisa ainda está no início do processo de avaliação dos impactos da Reforma Tributária. O ritmo de avanço varia bastante conforme o porte: as companhias de maior faturamento já demonstram mais maturidade e consistência em seus diagnósticos, enquanto as menores ainda enfrentam dificuldades para estruturar planos. Essa diferença mostra como o tamanho da operação influencia diretamente a capacidade de investir em tecnologia, planejamento e consultoria especializada.
A adaptação não está restrita ao departamento fiscal. Contabilidade (93%) e TI (83%) lideram as equipes criadas especialmente para acompanhar a reforma, ao lado de áreas como Jurídico, Comercial, Suprimentos e Logística. Isso demonstra que os efeitos da mudança são transversais e exigem uma atuação coordenada, conectando finanças, operações e estratégia de negócios. Até mesmo áreas menos usuais, como M&A e Tesouraria, começam a se envolver, destacando a necessidade de visão integrada.
As áreas mais afetadas pela transição são a Tributária (83%), a TI (70%) e a Financeira (55%). Isso porque a reforma altera diretamente as regras fiscais, os sistemas de gestão e o planejamento do fluxo de caixa das empresas. A contabilidade também terá de rever processos e controles, enquanto setores como suprimentos e comercial precisarão se ajustar a novos custos, contratos e margens. Mesmo áreas com impacto menor, como a logística e a jurídica, terão papel fundamental no suporte à adaptação.
Um dos pontos mais sensíveis da reforma é a retirada gradual de incentivos como ICMS, PIS e Cofins, hoje fundamentais para muitas empresas. A maioria ainda está em estágio inicial de análise sobre como essa mudança afetará margens, preços e competitividade. Embora grandes companhias já avancem em projeções mais detalhadas, os resultados mostram que até mesmo elas enfrentam desafios para elaborar cenários confiáveis. O tema é considerado um risco imediato e de difícil mensuração.
Os executivos estão atentos principalmente ao aumento da carga tributária ao longo da cadeia de valor (51%) e ao impacto negativo no capital de giro e na liquidez da operação (44%). Combinados, esses fatores representam uma ameaça direta à competitividade e à sustentabilidade financeira. Outros pontos de atenção são a redução de capacidade de investimento, queda no EBITDA e perda de competitividade. Em contrapartida, alguns enxergam oportunidades de ganho de eficiência e até de acesso a novos mercados, embora em menor escala.
Diante do cenário atual, as empresas começam a se mover. As medidas mais comuns são o reposicionamento do mix de produtos e serviços (37%) e as reestruturações societárias ou operacionais (31%). Em setores como consumo e indústria, ganha força também a relocalização de centros de distribuição, buscando eficiência logística. Outras iniciativas, como reinvenção do negócio, venda de ativos ou relocalização de fábricas, ainda são menos frequentes, mas podem surgir conforme a reforma avance. O movimento predominante é pragmático: ajustar-se antes de adotar mudanças mais radicais.
Apesar das incertezas e dos riscos de curto prazo, a reforma também abre espaço para ganhos de competitividade no médio e longo prazo. Empresas que investirem desde já em sistemas tecnológicos mais robustos, capacitação de equipes e análise preditiva de dados terão melhores condições de atravessar a transição com segurança. O estudo mostra que o futuro das organizações dependerá da capacidade de se antecipar, tratar a reforma como oportunidade estratégica e integrar pessoas, processos, tecnologia e dados para capturar valor em um cenário de negócios mais desafiador.